Resenha: As Brumas de Avalon – A Senhora da Magia (Livro 1), de Marion Zimmer Bradley
As Brumas de Avalon 22 de março de 2010 Aline T.K.M. 7 comentários
Há cerca de cinco anos despertou em mim uma imensa vontade de ler os volumes que compõem As Brumas de Avalon. Porém, sem um motivo muito consciente (talvez fosse por causa de outros livros que me apareciam de forma repentina), sempre acabava por postergar a compra e a leitura desta obra. Então, graças a uma promoção, comprei de uma vez os 4 volumes por um preço para lá de atraente.
As Brumas de Avalon reconta a lenda do rei Artur sob a perspectiva feminina (sacerdotisas de Avalon e as mulheres de Camelot). A tentativa de unificação da Bretanha contra a invasão dos saxões e os conflitos entre o cristianismo e os cultos pagãos se fazem muito presentes como base para toda a trama.
No livro 1, intitulado A Senhora da Magia, acompanhamos a vida de Igraine (irmã de Viviane, Grã-sacerdotisa de Avalon, conhecida como a Senhora do Lago), que foi dada em casamento ainda muito jovem a Gorlois, Duque da Cornualha. Desta união nasceu Morgana, única filha do casal. Ao lado de Gorlois, Igraine passou por momentos conflituosos e de infelicidade, porém mantinha-se resignada. Fica bem claro durante o livro o papel exercido pela mulher. De um mundo que não ouvia a opinião de suas mulheres e as mantinha submissas participava Igraine, mesmo tendo crescido em Avalon e cultivasse em seu íntimo o amor pela Deusa, sentia gratidão por seu marido haver deixado que criasse Morgana – ainda que não fosse o filho homem que ele tanto desejava.
As coisas mudam de rumo quando Avalon impõe a Igraine a necessidade (ou o destino) de casar-se com Uther Pendragon e ter um filho seu, que no futuro seria coroado rei e salvaria a Bretanha, unificando seus povos para combater os invasores. Igraine, no início, rejeitou seu destino, mas acabou sendo tomada por um imenso amor por Uther e cumpriu o seu dever quando da morte de Gorlois. Desta forma, deu a Uther um filho, Gwydion – ou Artur, conforme seria batizado mais tarde. Igraine torna-se cada vez mais religiosa, como uma verdadeira cristã, enquanto seus filhos são criados longe de si. Morgana é educada em Avalon para tornar-se sacerdotisa da Deusa, e por fim chegará o dia em que Artur tomará posse do trono, tornando-se Grande Rei da Bretanha.
Sempre tive curiosidade acerca da lenda do rei Artur, e As Brumas de Avalon – A Senhora da Magia me surpreendeu. O misticismo e a emoção são características marcantes da história, cujas mulheres ocupam posição central – e essencial. Se por um lado os homens exerciam o domínio e as mulheres eram meros adornos e provedoras de filhos (levadas a passeios no mercado enquanto seus maridos reuniam-se para discutir assuntos de extrema importância para o futuro do povo), para os povos de Avalon a situação era outra. Lá, as mulheres desempenhavam o papel de grandes sábias; portadoras da Visão, nada era feito sem seu aconselhamento. Eram os verdadeiros instrumentos da vontade da Deusa.
Na obra, vemos o conflito entre conceitos tidos como certos e errados, já que, como mencionei antes, a relação entre cristãos e pagãos era demasiado tempestuosa; o que era virtude para o primeiro grupo tornava-se blasfêmia aos olhos do outro, e vice-versa. O cristianismo é relacionado à crença em um deus morto que amedronta e castiga, e não aceita outros deuses e deusas, impondo seu deus como único e absoluto. Para os cristãos, os pagãos são gente ligada à bruxaria e ao demônio. Os povos de Avalon, por sua vez, afirmam que todos os deuses são um deus e todas as deusas são apenas uma deusa, não importando os nomes que lhe são dados, e acreditam na justiça a todos os homens, qualquer que seja o deus que adorem.
Recordando algumas passagens memoráveis, derreti-me quando finalmente Uther vai ao encontro de Igraine na Cornualha, e juntos eles passam sua primeira noite; foi algo belo de se ler. Merece igual – ou maior – destaque todo o ritual pagão para a ascensão de um novo rei. É emocionante e de uma beleza incalculável e até incompreendida, dependendo dos olhos de quem vê. Mas prefiro não entrar em maiores detalhes para não turvar o misto de sensações que terão os possíveis leitores.
Também acho válido mencionar o quanto a narrativa corre de forma envolvente. A autora soube expressar muito bem toda a carga emocional das personagens; os pensamentos das mulheres se fazem presentes com frequência, de forma a permitir que o leitor capte cada nuance de seus sentimentos. Inclusive, o livro inicia e finaliza com reflexões de Morgana, personagem fundamental na história e espetacular em todas e cada uma de suas características. O caminho da barca com seus remadores silenciosos, a cortina de névoa que encobre a mística Avalon, abrindo-se e revelando sua magnitude, os juncos, o círculo de pedras sobre o Tor, os sacrifícios do preparo de uma sacerdotisa... Ler sobre todas essas coisas arrepia, é como sentir na pele os mistérios que permeiam a história e, de fato, acreditar no que está ali descrito. Inexplicável.
As Brumas de Avalon – A Senhora da Magia é um livro que merece ser lido e sentido em toda a sua plenitude. Certamente as mulheres se identificarão com os pensamentos e atitudes de algumas personagens, e desenvolverão sentimentos dos mais variados com relação aos homens da trama. Tendo lido o primeiro volume, com outros três me esperando para que eu os devore, sinto que esta será uma daquelas obras das quais jamais me esquecerei.
As Brumas de Avalon – O Gamo-Rei (Livro 3)
As Brumas de Avalon – O Prisioneiro da Árvore (Livro 4)
As Brumas de Avalon reconta a lenda do rei Artur sob a perspectiva feminina (sacerdotisas de Avalon e as mulheres de Camelot). A tentativa de unificação da Bretanha contra a invasão dos saxões e os conflitos entre o cristianismo e os cultos pagãos se fazem muito presentes como base para toda a trama.
No livro 1, intitulado A Senhora da Magia, acompanhamos a vida de Igraine (irmã de Viviane, Grã-sacerdotisa de Avalon, conhecida como a Senhora do Lago), que foi dada em casamento ainda muito jovem a Gorlois, Duque da Cornualha. Desta união nasceu Morgana, única filha do casal. Ao lado de Gorlois, Igraine passou por momentos conflituosos e de infelicidade, porém mantinha-se resignada. Fica bem claro durante o livro o papel exercido pela mulher. De um mundo que não ouvia a opinião de suas mulheres e as mantinha submissas participava Igraine, mesmo tendo crescido em Avalon e cultivasse em seu íntimo o amor pela Deusa, sentia gratidão por seu marido haver deixado que criasse Morgana – ainda que não fosse o filho homem que ele tanto desejava.
As coisas mudam de rumo quando Avalon impõe a Igraine a necessidade (ou o destino) de casar-se com Uther Pendragon e ter um filho seu, que no futuro seria coroado rei e salvaria a Bretanha, unificando seus povos para combater os invasores. Igraine, no início, rejeitou seu destino, mas acabou sendo tomada por um imenso amor por Uther e cumpriu o seu dever quando da morte de Gorlois. Desta forma, deu a Uther um filho, Gwydion – ou Artur, conforme seria batizado mais tarde. Igraine torna-se cada vez mais religiosa, como uma verdadeira cristã, enquanto seus filhos são criados longe de si. Morgana é educada em Avalon para tornar-se sacerdotisa da Deusa, e por fim chegará o dia em que Artur tomará posse do trono, tornando-se Grande Rei da Bretanha.
Sempre tive curiosidade acerca da lenda do rei Artur, e As Brumas de Avalon – A Senhora da Magia me surpreendeu. O misticismo e a emoção são características marcantes da história, cujas mulheres ocupam posição central – e essencial. Se por um lado os homens exerciam o domínio e as mulheres eram meros adornos e provedoras de filhos (levadas a passeios no mercado enquanto seus maridos reuniam-se para discutir assuntos de extrema importância para o futuro do povo), para os povos de Avalon a situação era outra. Lá, as mulheres desempenhavam o papel de grandes sábias; portadoras da Visão, nada era feito sem seu aconselhamento. Eram os verdadeiros instrumentos da vontade da Deusa.
Na obra, vemos o conflito entre conceitos tidos como certos e errados, já que, como mencionei antes, a relação entre cristãos e pagãos era demasiado tempestuosa; o que era virtude para o primeiro grupo tornava-se blasfêmia aos olhos do outro, e vice-versa. O cristianismo é relacionado à crença em um deus morto que amedronta e castiga, e não aceita outros deuses e deusas, impondo seu deus como único e absoluto. Para os cristãos, os pagãos são gente ligada à bruxaria e ao demônio. Os povos de Avalon, por sua vez, afirmam que todos os deuses são um deus e todas as deusas são apenas uma deusa, não importando os nomes que lhe são dados, e acreditam na justiça a todos os homens, qualquer que seja o deus que adorem.
Recordando algumas passagens memoráveis, derreti-me quando finalmente Uther vai ao encontro de Igraine na Cornualha, e juntos eles passam sua primeira noite; foi algo belo de se ler. Merece igual – ou maior – destaque todo o ritual pagão para a ascensão de um novo rei. É emocionante e de uma beleza incalculável e até incompreendida, dependendo dos olhos de quem vê. Mas prefiro não entrar em maiores detalhes para não turvar o misto de sensações que terão os possíveis leitores.
Também acho válido mencionar o quanto a narrativa corre de forma envolvente. A autora soube expressar muito bem toda a carga emocional das personagens; os pensamentos das mulheres se fazem presentes com frequência, de forma a permitir que o leitor capte cada nuance de seus sentimentos. Inclusive, o livro inicia e finaliza com reflexões de Morgana, personagem fundamental na história e espetacular em todas e cada uma de suas características. O caminho da barca com seus remadores silenciosos, a cortina de névoa que encobre a mística Avalon, abrindo-se e revelando sua magnitude, os juncos, o círculo de pedras sobre o Tor, os sacrifícios do preparo de uma sacerdotisa... Ler sobre todas essas coisas arrepia, é como sentir na pele os mistérios que permeiam a história e, de fato, acreditar no que está ali descrito. Inexplicável.
As Brumas de Avalon – A Senhora da Magia é um livro que merece ser lido e sentido em toda a sua plenitude. Certamente as mulheres se identificarão com os pensamentos e atitudes de algumas personagens, e desenvolverão sentimentos dos mais variados com relação aos homens da trama. Tendo lido o primeiro volume, com outros três me esperando para que eu os devore, sinto que esta será uma daquelas obras das quais jamais me esquecerei.
Onde comprar: Livraria Cultura
Título: As Brumas de Avalon – A Senhora da Magia (Livro 1)
Título original: The Mists of Avalon (volume único)
Autor(a): Marion Zimmer Bradley
Tradução: Waltensir Dutra
Editora: Imago
Edição: 2008
Ano da obra: 1982
Páginas: 252
LEIA TAMBÉM
As Brumas de Avalon – A Grande Rainha (Livro 2)As Brumas de Avalon – O Gamo-Rei (Livro 3)
As Brumas de Avalon – O Prisioneiro da Árvore (Livro 4)
Aline T.K.M.
Criou o Livro Lab há 12 anos e se dedicar a este projeto é uma das coisas que mais ama fazer, além de estar em contato com os mais variados tipos de expressões artísticas. Tem paixão por cinema, viajar e conhecer outras culturas. Ah, e ama ler em francês!
7 comentários
Olá querida amiga,
ResponderExcluirEstou aqui para convidá-la a conhecer meu novo blog especializado em Suspenses Românticos, tanto de banca quanto de livraria.
Amor, Mistério e Sangue
Espero que goste e o receba com muito carinho, assim como você sempre fez com o Livros de Bia, que também não ficará esquecido!
Bjs
Brumas é um dos meus livros preferidos!
ResponderExcluirA leitura é até um pouco cansativa, mas eu realmente gostei. Só que nos próximos livros a Guinevere me irrita DEMAIS! Acho que ela atrasou minha leitura, dava vontade de pular as partes dela. Agora, a Morgana, é simplesmente ÓTIMA. Adoro ela.
Você vai amar todos como eu amei. Ótima escolha.
Eu estava há anos querendo ler tb, mas só fui ler ano passado. É pq na época que eu quis ler ele havia parado de ser editado, só voltou a editar ano passado, na promo do Submarino. Mas me interessei pela história por causa de uma fic que li que tinha elementos de Brumas. Corri pra saber como era e não me arrependi!
;*
Oiii, tb já te "linkei", hehe!!!!
ResponderExcluirBjs!!!
Ótima resenha.
ResponderExcluirMuito bem detalhada e muito bem escrita.
E uma ótima escolha de livro tambem. "As Brumas de Avalon" é para mim, uma das melhores sagas já escritas, cheia de personagens verdadeiros e momentos marcantes. Espero que goste do restante da coleção.
Estou com essa coleção na minha estante há um ano e ainda não consegui começar a ler! Sempre acaba aparecendo alguma coisa mais 'urgente' e vou deixando! Depois de ler sua excelente resenha já estou considerando tomar coragem e começar a ler!!!
ResponderExcluirBeijos
Camila
ótimo livro (e resenha muito boa), a obra da Marion desperta tudo isso o que você descreveu. Acho que tenho que ler de novo, faz tantos anos que eu li esse livro...
ResponderExcluirFica a dica: A queda da Atlantida 1 e 2, também da marion zimmer (você vai gostar). Não sei se você sabe, mas história completa são de 11 livros...
Nossa, muito obrigada por essa resenha maravilhosa. Eu estava quase desistindo de comprar esse livro para poder comprar outros, mas agora com certeza vou compra-lo. Já estou até ansiosa para poder ler logo...
ResponderExcluir