Resenha: As Intermitências da Morte, de José Saramago
Companhia das Letras 12 de março de 2010 Aline T.K.M. 12 comentários“No dia seguinte ninguém morreu. O facto, por absolutamente contrário às normas da vida, causou nos espíritos uma perturbação enorme, efeito em todos os aspectos justificado, basta que nos lembremos de que não havia notícia nos quarenta volumes da história universal, nem ao menos um caso para amostra, de ter alguma vez ocorrido fenómeno semelhante, passar-se um dia completo, com todas as suas pródigas vinte e quatro horas, contadas entre diurnas e nocturnas, matutinas e vespertinas, sem que tivesse sucedido um falecimento por doença, uma queda mortal, um suicídio levado a bom fim, nada de nada, pela palavra nada. Nem sequer um daqueles acidentes de automóvel tão frequentes em ocasiões festivas, quando a alegre irresponsabilidade e o excesso de álcool se desafiam mutuamente nas estradas para decidir sobre quem vai conseguir chegar à morte em primeiro lugar.”
O que mais me atraiu no livro As Intermitências da Morte, além do fato de ser do escritor português José Saramago, foi a sensação de calamidade que a trama nos apresenta desde o início. Imaginem o que aconteceria em um país se a morte simplesmente parasse de matar? Pois foi exatamente isto o que aconteceu e, óbvio, me deixou com uma curiosidade (esta sim, mortal) para devorar as seguintes páginas.
Como já disse, sou fascinada por estas calamidades com um quê de absurdo, como as que o autor já nos tinha proposto, por exemplo, em Ensaio sobre a Lucidez (em que toda uma cidade vota em branco nas eleições) e em Ensaio sobre a Cegueira (em que a tal cegueira branca toma conta da população). Para deixar mais claro, a morte deixando de trabalhar não impedia o envelhecimento, as doenças, os desastres. Estes continuavam a ocorrer, mas mesmo estando com a vida por um fio, as pessoas não morriam, ficavam em um estado suspenso, vivendo uma espécie de “não vida”. Um idoso doente que estivesse prestes a morrer, não morria, mas continuava em sua condição de enfermo, literalmente suspenso entre a vida e a morte, e envelhecendo.
O mais interessante é que, mesmo os acontecimentos sendo totalmente absurdos, alguns personagens (os relacionados à política, por exemplo) nos parecem bastante reais. O livro me teve tão envolvida na trama que tinha a sensação de estar de fato naquele país onde ninguém mais morria. Interessante também foi ver como a falta da morte afetou diferentes grupos da sociedade. A reação dos políticos, a posição da igreja, o desespero das famílias e os problemas causados aos hospitais e aos “lares do feliz ocaso” (ou asilos), que ficavam cada vez mais abarrotados de gente. Destaco a aparição da tal “máphia”, que logo arrumou um jeito de tirar proveito da situação, e a forma como os políticos acabavam por se colocar de acordo com o que ela propunha (claro, cuidando para não mostrar de forma tão óbvia). O livro trata da relação que tem o ser humano com a morte, e nos mostra que esta é necessária para que prossiga a vida. A humanização da morte é uma atração à parte e conduz a trama por caminhos impensados, culminando em um final surpreendente e encantador.
A utilização de períodos longos e pontuação de forma não convencional podem ser motivos para que alguns achem difícil ler Saramago. De fato, não é a mais simples das leituras, mas garanto que é imensamente prazerosa. Não a enxergo como sendo difícil, embora exija considerável atenção do leitor, o que também outras leituras exigem. Considerando o livro em todos os seus aspectos, sinto-me quase obrigada a dizê-lo: altamente recomendado!
Onde comprar: Submarino
Título: As Intermitências da Morte
Autor(a): José Saramago
Editora: Companhia das Letras
Edição: 2005
Ano da obra: 2005
Páginas: 208
Aline T.K.M.
Criou o Livro Lab há 12 anos e se dedicar a este projeto é uma das coisas que mais ama fazer, além de estar em contato com os mais variados tipos de expressões artísticas. Tem paixão por cinema, viajar e conhecer outras culturas. Ah, e ama ler em francês!
12 comentários
Adoro Saramago. Me interessei por esse livro que você indicou. Parece realmente muito interessante.
ResponderExcluirOlá, estou retribuindo sua visita e devo dizer que adorei conhecer seu blog. Temos muitos gostos em comum.
ResponderExcluirVou linkar seu blog no meu.
Beijos
Oi! estou te seguindo também!!!!! adorei seu cantinho,beeeeeeijos;**
ResponderExcluirOi, Aline
ResponderExcluirObrigada pela visita ao meu blog; já coloquei seu link lá e estou te seguindo.
Confesso que não consegui ler esse livro, espero tentar novamente outra vez. O estilo de Saramago é meio complicado de se ler, apesar de ter lido "Ensaio sobre a cegueira" e ter adorado.
Bjs
Oi Aline!
ResponderExcluirEu ainda não li nada do Saramago, Ensaio sobre a cegueira eu vi o filme, a maneira que você escreveu fez parecer tão tenso, fiquei interessada - fora que já pretendia ler pelo menos 1 livros dele.
Bjuss
Oiee Aline,
ResponderExcluirTd bem?
Vim aqui agradecer e retribuir a visita lá no Amante dos Livros e Afins...
Menina, adorei seu espaço, é visitinha garantida.
Com relação a Saramago, eu apenas li Ensaio sobre a Cegueira... q gostei muito.
Bjsss.
Oi Aline!
ResponderExcluirObrigada pelo carinho. Adorei seu blog, muito original.
Bjs
Aí, Aline, mandou super bem na dica do livro. Fiquei bem interessado e curioso, vou colocar na lista de 2010, mas não sei se chego lá. Estou terminando de ler Amanhecer. Apesar de achar que a parte 1 do livro é melhor parte da saga (casamento e lua de mel da Bella), o livro, como um todo, está viajando demais pro meu gosto, mas vá lá. Tracei um desafio para mim: ler um desses livros da chamada literatura de banca, tipo Julia, Danielle Steel e afins. Nunca levei esses livros a sério, mas pretendo superar o preconceito e ler, só para ver no que dá. Parabéns pelo carinho com que você cuida do blog. Hugs!
ResponderExcluirOi Aline,
ResponderExcluirEstou retribuindo sua visita , adorei seu Blog e já sou seguidora.
Sobre o post, eu ainda não li esse livro mas, parece ser bom. Do Saramago eu li O Memorial do Convento e Jangada de pedra e gostei muito dos dois, e tenho Ensaio sobre a cegueira na minha lista de leitura.
Bjs
Gente! Agradeço a todas as visitinhas de vocês, e que legal que curtiram o blog!
ResponderExcluirApesar de somente ter lido dois livros do Saramago (este da resenha e Ensaio sobre a Lucidez), eu gostei muito da forma como ele escreve e o jeito como expõe os acontecimentos. Tenho como meta ler mais livros dele, inclusive o Ensaio sobre a Cegueira é um dos que há tempos estou querendo ler. A verdade é que tenho uns 10 livros na minha fila (Caim, do Saramago, é um deles!) e estou desesperadamente dando uma agilizada na leitura! Mas como eu já disse, super recomendo As Intermitências da Morte, é um livro muito envolvente, embora eu seja suspeita para falar, já que o tema por si só me agrada bastante.
Juliano: sabe que também tenho curiosidade para conhecer literatura de banca! Apesar de já ter lido um livro de Sidney Sheldon (que já me disseram ter suas semelhanças com Danielle Steel), espero incluir algum outro na minha fila de leitura (e deixá-la ainda maior!).
Olá, adorei o seu blog e as dicas de leitura. Desde ja estou me tornando sua seguidora. Espero que vc tb possa acompanhar o meu blog sofazinhodeleitura.blogspot.com
ResponderExcluirEspero poder trocar mts "figurinhas" com vc!!!!
bjs e ate mais
Foi o primeiro livro que li dele...e fiquei boquiaberta !!! Ele é fenomenal! Escrita agil e estilo único! è um autor que me conquistou pelo comicidade e porque não um pouco de loucura em cada uma das suas obras! Leitura obrigatória !!!
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