Escola de Mulheres [Molière] | Livro Lab
Últimos vídeos    |  Se inscreva no canal
Resenha: Meu Ano de Descanso e Relaxamento  Leituras de 2022  Resenha: Belo Mundo, Onde Você Está
Semana do Consumidor Amazon | Livros

Escola de Mulheres [Molière]

À la française 27 de fevereiro de 2012 Aline T.K.M. 6 comentários

Publicado originalmente em 1662, Escola de Mulheres é uma comédia teatral que figura entre os grandes clássicos da literatura.

Em tom satírico, o enredo se passa em pleno séc. XVII; casamento e adultério caminham juntos, e é de conhecimento geral que toda união vem acompanhada de um par de chifres, fato considerado mesmo inevitável e é tratado com certa complacência por parte dos maridos. Arnolfo sabe e comenta sobre seus conhecidos chifrudos, porém teme enormemente chegar um dia a sê-lo – mais que temer, ele não aceita de forma alguma que possa vir a ser traído por uma futura esposa. Então, criou uma jovem desde seus 4 anos de idade em um convento, para torná-la sua esposa. Arnolfo providenciou que a jovem Inês não recebesse educação adequada, fazendo-a idiota, estúpida e extremamente ingênua. Na visão de Arnolfo, é a mulher perfeita para se ter como esposa (já que acredita que as mulheres espirituosas e cultas utilizam-se de sua inteligência para bolar artimanhas para enganar os maridos). Porém o destino lhe prega uma boa peça: Inês e Horácio (filho de um amigo de Arnolfo) se apaixonam perdidamente e Arnolfo acompanha de perto o desenrolar do romance, pois, sem desconfiar de nada, Horácio o faz seu confidente.

Apesar de ter grande interesse em clássicos, as peças teatrais não estão entre minhas leituras preferidas. Li Escola de Mulheres sem grandes expectativas, mas para minha surpresa, a obra me agradou muito e manteve minha atenção do início ao fim. Achei-a divertidíssima, há momentos que são bem capazes de arrancar risadas dos leitores!

O livro traz linguagem simplificada e a leitura é gostosa de ser feita, fluindo rapidamente. Acho legal comentar que, a meu ver, a leitura fácil (e muito prazerosa) deve-se à excelente tradução de Millôr Fernandes. O texto é leve sem perder o espírito do tema tratado e a ironia que o cerca. (Dei uma espiadinha na versão original em francês: o texto é todo em verso e apresenta linguagem antiga – características próprias da época em que foi concebida a obra. Existe também uma outra tradução por Jenny Klabin Segall, que preserva tais características).

Os personagens – assim como as situações – são hilários, em especial o próprio Arnolfo, e também seus criados. A obra é uma sátira (bastante verossímil) e é muito interessante de ser discutida: o tema, mesmo depois de séculos, continua sendo bastante atual (diria que é o tipo de tema atemporal). É engraçado perceber como a ingenuidade de Inês, que deveria evitar o adultério, veio justamente a propiciar tal situação, uma vez que a moça agia puramente por instinto e nada via de errado em ver um rapaz pelo qual nutria paixão – ainda que estivesse destinada a se casar com Arnolfo.

É válido notar como, apesar da fúria e desgosto de Arnolfo, em certos momentos Inês consegue dele atitudes que revelam amor/afeto e disposição em satisfazê-la – lembrando que tudo acontece numa época em que era imposta a total submissão das mulheres, sendo sempre bem clara sua inferioridade em relação ao homem/marido. É, as mulheres sempre tiveram um jeitinho (proposital ou não) de "dobrar" os homens! =P

Bom, no fim das contas, a mensagem principal deste review é simplesmente: ler clássicos pode ser bem divertido! Além disso, Escola de Mulheres está longe de ser o tipo de leitura enfadonha que nos vem à mente (muitas vezes de forma automática) ao ouvirmos falar de obras muito antigas. Segunda mensagem do review, mas não menos importante: vale a pena dar uma chance para aquele gênero literário que não gostamos tanto assim. Como eu mencionei antes, não curto tanto o gênero dramático (teatro), e esta leitura foi uma agradável surpresa – que, inclusive, me deixou curiosa para descobrir outras obras de Molière.

Curiosidade: Escola de Mulheres foi um escândalo na época de sua concepção, e gerou muitas críticas. Em resposta, Molière escreveu nova peça chamada Crítica da Escola de Mulheres (La Critique de l’École des Femmes).

Sobre o autor: Jean-Baptiste Poquelin (mais conhecido como Molière), considerado um dos mestres da comédia satírica, marcou a dramaturgia francesa por suas críticas aos costumes da época. Com fina ironia penetrou profundamente nos sentimentos da alma e expôs as imperfeições inerentes à natureza humana, a sociedade e seus valores. Assim, em meio a situações cômicas e/ou irônicas emergem a pretensão, a arrogância, a soberba, a mesquinhez, a ostentação, o ciúme, demonstrados com sarcasmo cultivado. Com suas comédias de costumes satirizou a França de Luís XIV, os abusos da corte e a mediocridade da sociedade.

Título: Escola de Mulheres
Título original: L’École des Femmes
Autor(a): Molière
Editora: Paz e Terra
Edição: 1996
Ano da obra: 1662
Páginas: 130

Aline T.K.M.
Criou o Livro Lab há 12 anos e se dedicar a este projeto é uma das coisas que mais ama fazer, além de estar em contato com os mais variados tipos de expressões artísticas. Tem paixão por cinema, viajar e conhecer outras culturas. Ah, e ama ler em francês!

 

Você também vai  

6 comentários

  1. Achei seu blog lindo!
    Parabéns.
    Já to seguindo.
    Bjs.

    ResponderExcluir
  2. Aaaah, os clássicos. Adoro. Mas ainda não tinha lido esse.

    Gostei da sua resenha... Ela flui com desenvoltura e de modo coerente. Definitivamente me fez querer buscar esse livro. Parabéns.

    Gleice
    @MPessoais
    www.murmuriospessoais.com

    ResponderExcluir
  3. Adoro clássicos e este me pareceu bem divertido. Sempre tive a impressão que as mulheres sofrem nas mãos dos homens, principalmente nos séculos passados, mas pelo visto posso estar enganada, pois mesmo sendo subjugada, as mulheres tem e sempre tiveram seus métodos para contornar o poder masculino.
    um abraço
    Gisela - Ler para Divertir

    ResponderExcluir
  4. Escola de Mulheres.. *-*
    Ai caramba, como é bom ver uma galera que lê ai umas leituras e peças de Teatro, isso é tão bacana.
    E gostei mais ainda de saber que você gostou...
    Já leu mais alguma coisa de Molière???
    Doente Imaginário é interessante. E o filme Marquize conta a vida do autor é ótimo.

    ResponderExcluir
  5. @Helana Ohara
    Oi Helana, poxa, num li mais nada de Molière, mas adorei de verdade esta obra. Com certeza a tradução ajudou na questão da linguagem mais contemporânea, mas gostei também por achar o tema tão "atual" (visto a época em que foi escrito, acredito que o tema seja mesmo atemporal) e o humor é muito bem marcado. Se tiver oportunidade, gostaria sim de ler outras obras dele.

    ResponderExcluir

Parceiros