Nam Van – contos de Macau [Henrique de Senna Fernandes]
Contos 4 de março de 2012 Aline T.K.M. 2 comentários
Lançado originalmente em 1978, este foi o primeiro livro escrito por Henrique de Senna Fernandes (1923-2010). A obra reúne seis contos que, além de retratar o Macau das décadas de 30 a 50, reconstituem o ambiente humano, histórico e geográfico desta colônia portuguesa na Ásia. "Nam Van" é também o nome chinês da Praia Grande, em Macau, considerada centro da vida administrativa e social da cidade e zona residencial preferida de seus moradores, onde o autor nasceu e viveu.
Macau é uma Região Administrativa Especial (RAE) da República Popular da China desde dezembro de 1999, composta pela Península de Macau e por duas ilhas (Taipa e Coloane). Foi colonizada e administrada pelos portugueses durante mais de 400 anos. Desde 1999, Macau atua sob os princípios do “um país, dois sistemas”, gozando de elevado grau de autonomia (possui estatuto especial, semelhante ao de Hong Kong). As línguas oficiais são o cantonês (dialeto chinês) e o português. Hoje em dia, porém, o português é corretamente falado por menos de 1% da população. A maioria esmagadora dos habitantes possui ascendência somente chinesa.
Curiosidade: São Paulo é uma das cidades-irmãs de Macau (no âmbito das relações sociais, culturais e econômicas).
Nam Van pinta um retrato de um local desconhecido para a grande maioria dos leitores brasileiros. Através de cada um dos contos, desvendamos paisagens, pessoas, culturas, tudo de forma bastante rica e detalhada. Somam-se a isso enredos envolventes em todos os contos, sim, eu disse TODOS os contos.
Ainda que muitos dos contos sejam narrados em primeira pessoa sob uma perspectiva masculina, as personagens femininas chamam especial atenção. Envoltas em mistério e possuidoras de força e, ao mesmo tempo, certa fragilidade, as mulheres que encontramos no livro parecem convidar o leitor a desvendá-las. Todos os personagens são muito bem trabalhados e se fundem com Macau como se fossem um só ser. As influências culturais e o momento histórico têm, obviamente, importante papel no que se refere aos personagens e enredos.
Diria que é impossível apontar um dos contos como tendo sido meu preferido; gostei muito de todos eles. Mas, só para citar, merecem destaque os seguintes: "A-Chan, a Tancareira", "Candy" e "A Desforra dum China-Rico".
São nítidas as relações um tanto complexas entre culturas distintas – a chinesa, a portuguesa e a macaense, esta última um produto do encontro Oriente-Ocidente – sobre um mesmo solo, Macau (tido como ponto de encontro e intercâmbio entre culturas). A integração entre tais culturas mostra-se dificultosa e, ao olharmos para o passado através dos contos de Senna Fernandes, compreendemos melhor a situação presente, em que a presença chinesa se mostra dominante (em relação à etnia da população, aos meios de comunicação, à língua,...). Uma vez que a porcentagem da população que realmente fala português seja mínima, a literatura lusófona produzida na Ásia, infelizmente, tende a extinguir-se. Segundo uma matéria publicada pela Bravo! (já há alguns anos) sobre o autor Henrique de Senna Fernandes, “muitos dos ficcionistas e poetas de expressão lusitana daquele continente permaneceram, e permanecem, distantes de algumas das principais conquistas literárias do idioma”.
Uma obra que, apesar de não chamar tanta atenção pela capa, atrai pelo tema e revela-se extremamente notável e merecedora de reconhecimento. Nam Van é um livro como poucos; muito mais que apenas ser lido, merece ser verdadeiramente explorado pelo leitor – que certamente adentrará um universo novo em termos de local e cultura, além de deliciar-se com uma narrativa envolvente e impecável.
Título/Título original: Nam Van – contos de Macau
Autor(a): Henrique de Senna Fernandes
Editora: Gryphus
Edição: 2008
Ano da obra: 1978
Páginas: 138
2 comentários
Interessante :3 Mas acho que não leria, é bem legal o assunto, mas não teria paciência, eu teria que estar MUITO mesmo interessada.
ResponderExcluirBeijos, World of Carol Espilotro x
não curto muito contos, mas gosto de aprender coisas novas,posso tentar ler. ;D
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