Do pulp viemos e ao pulp voltaremos
Ficção científica 14 de dezembro de 2012 Aline T.K.M. 5 comentários
Foi a partir de uma visita que fiz por acaso ao site Pulp Covers que surgiu a inspiração para este post. Vendo aquelas capas de publicações pulp, uma mais legal que a outra, surgiu a ideia de falar sobre a literatura pulp. Mas vamos por partes...
Publicação pulp é a publicação literária mainstream, com contos ilustrados voltados aos gêneros de ação e fantasia, conquistando um público fiel e revelando artistas e escritores de importante expressão comercial. Visava à redução de custos e à massificação da publicação. As pulp magazines – ou revistas pulp – tiveram seu auge nos EUA entre as décadas de 20 e 50 (a chamada Pulp Era), período em que a sociedade mergulhou na Crise de 1929 e viveu a Segunda Guerra.
As revistas pulp eram assim chamadas em referência à baixa qualidade do papel em que eram editadas (obtido a partir de novas técnicas de extração de celulose ou “polpa” da madeira), um papel mais frágil e que amarelava rapidamente. Foi esse barateamento na impressão que possibilitou o aumento do apelo comercial das pulp fiction – histórias de ficção. Com a expansão do mercado, os títulos se especializaram: aventura policial, fantasia, ficção científica, terror, entre outros.
Um dos aspectos mais característicos das revistas pulp era o design chamativo das capas. Heróis, detetives, cenas aterrorizantes, mocinhas em perigo... O estilo das ilustrações é memorável e o simples passar de olhos por essas capas, hoje, acende uma instantânea chama nostálgica – mesmo para aqueles que ainda nem pensavam em nascer quando a Pulp Era estava no auge (por exemplo, eu!).
Todavia, por causa dos temas tratados, as ficções pulp eram consideradas de “menor valor literário”, “vulgares”. O conceito pejorativo em relação à literatura pulp era bastante difundido, o que fez com que poucos dos seus autores tivessem reconhecimento ainda em vida. Uma grande parte dessas ficções consistia em enredos simples, cheios de clichês e sem um real compromisso literário.
Mas as publicações pulp também serviram para que escritores realmente bons deslanchassem. Nomes como Isaac Asimov e Arthur C. Clarke (criador da história original de 2001: Uma odisseia no espaço) foram lançados através dessas publicações, e ainda há Arthur Conan Doyle, que também chegou a ser publicado nas primeiras revistas pulp. Autores que hoje servem de referência para muitos outros.
A revista pulp foi a precursora do comic book. Com temas e formatos de publicação parecidos (além de características mercadológicas bem semelhantes), não foram raros os editores de pulp que converteram suas produções para os comics. As revistas pulp introduziram o formato narrativo que seria posteriormente utilizado pelos quadrinhos, e já nelas víamos os primeiros heróis com identidade secreta.
Chamadas de revistas de emoção – a palavra "emoção" aparecia e reaparecia na publicidade do conteúdo literário dessas revistas, daí o surgimento do termo –, dos anos 30 até meados dos anos 50 essas publicações eram classificadas de acordo com as seguintes temáticas: romance de aventura, mistério policial, e fantasia e ficção científica.
“Detective”, “Contos Magazine”, “Mistério Magazine”, “Emoção” e “X-9” foram algumas das revistas com conteúdo pulp publicadas no Brasil, trazendo contos americanos traduzidos. Também, entre as décadas de 50 e 70, ficaram populares os quadrinhos de cunho erótico de Carlos Zéfiro (pseudônimo de Alcides Caminha), cujo formato flertava com as publicações pulp.
Também no Brasil passaram por essas revistas grandes figuras da literatura, como Érico Veríssimo e Nelson Rodrigues. Já no campo das ilustrações, o artista Benício é tido como maior referência.
No Brasil, o nome Ryoki Inoue é bastante conhecido na literatura pulp. Em 1986, ele largou a carreira de médico para se dedicar inteiramente à escrita. Policial e faroeste eram sua especialidade na época, e Ryoki publicava seus pocket books sob nada menos que 39 pseudônimos - por exigência de seus editores. Em 1993, foi reconhecido pelo Guiness Book of Records como o escritor mais prolífico do mundo - hoje, Ryoki tem 1102 livros publicados. Já chegou a escrever 3 romances por dia, mas atualmente seu objetivo é produzir de um a dois por ano. Nada mal! (Parágrafo atualizado em março de 2017.)
O post saiu grande, mas falar do pulp também não é coisa rápida, dadas as dimensões que o gênero/formato tomou. Trocando em miúdos, o pulp reuniu narrativas que vão desde o horror até a ficção científica, passando pelo policial, tudo muito bem embalado em estética viva e kitsch. Pacotinhos de ação que vieram para bagunçar um pouco a ideia de cultura culta e cultura “menor”, popular. “Bagunça” que transforma tudo em um bolo suficientemente complicado e conflitante para aqueles que ainda querem se limitar a conceitos pré-fabricados (e, dependendo do contexto, antiquados) de cultura.
Ah, não deixem de visitar o site inspirador do post para ver muitas capas pulp: pulpcovers.com
Fontes:
www.revistadacultura.com.br:8090/revista/rc30/index2.asp?page=materia3
picasaweb.google.com/pulpgallery
www.grifonosso.com/2011/06/eras-dos-quadrinhos-revistas-pulp/
www.ryoki.com.br
www.dezenovevinte.net/arte%20decorativa/s&q_pulp.htm
Publicação pulp é a publicação literária mainstream, com contos ilustrados voltados aos gêneros de ação e fantasia, conquistando um público fiel e revelando artistas e escritores de importante expressão comercial. Visava à redução de custos e à massificação da publicação. As pulp magazines – ou revistas pulp – tiveram seu auge nos EUA entre as décadas de 20 e 50 (a chamada Pulp Era), período em que a sociedade mergulhou na Crise de 1929 e viveu a Segunda Guerra.
As revistas pulp eram assim chamadas em referência à baixa qualidade do papel em que eram editadas (obtido a partir de novas técnicas de extração de celulose ou “polpa” da madeira), um papel mais frágil e que amarelava rapidamente. Foi esse barateamento na impressão que possibilitou o aumento do apelo comercial das pulp fiction – histórias de ficção. Com a expansão do mercado, os títulos se especializaram: aventura policial, fantasia, ficção científica, terror, entre outros.
Um dos aspectos mais característicos das revistas pulp era o design chamativo das capas. Heróis, detetives, cenas aterrorizantes, mocinhas em perigo... O estilo das ilustrações é memorável e o simples passar de olhos por essas capas, hoje, acende uma instantânea chama nostálgica – mesmo para aqueles que ainda nem pensavam em nascer quando a Pulp Era estava no auge (por exemplo, eu!).
Todavia, por causa dos temas tratados, as ficções pulp eram consideradas de “menor valor literário”, “vulgares”. O conceito pejorativo em relação à literatura pulp era bastante difundido, o que fez com que poucos dos seus autores tivessem reconhecimento ainda em vida. Uma grande parte dessas ficções consistia em enredos simples, cheios de clichês e sem um real compromisso literário.
Mas as publicações pulp também serviram para que escritores realmente bons deslanchassem. Nomes como Isaac Asimov e Arthur C. Clarke (criador da história original de 2001: Uma odisseia no espaço) foram lançados através dessas publicações, e ainda há Arthur Conan Doyle, que também chegou a ser publicado nas primeiras revistas pulp. Autores que hoje servem de referência para muitos outros.
A revista pulp foi a precursora do comic book. Com temas e formatos de publicação parecidos (além de características mercadológicas bem semelhantes), não foram raros os editores de pulp que converteram suas produções para os comics. As revistas pulp introduziram o formato narrativo que seria posteriormente utilizado pelos quadrinhos, e já nelas víamos os primeiros heróis com identidade secreta.
NO BRASIL
As revistas no Brasil apresentavam total influência dos periódicos europeus. No entanto, a partir de meados da década de 30, as publicações brasileiras receberam grande interferência da literatura pulp americana. Mas chamá-las de revistas pulp não seria muito exato. Se por um lado muitas revistas passaram a se especializar em contos e novelas, elas ainda eram publicações híbridas, mantendo seções de passatempos, curiosidades, informações e quadrinhos. Eram semelhantes a outras revistas ilustradas populares, porém nitidamente segmentadas de acordo com os temas típicos da literatura pulp, destacando-se o romance de aventura e o mistério policial.Chamadas de revistas de emoção – a palavra "emoção" aparecia e reaparecia na publicidade do conteúdo literário dessas revistas, daí o surgimento do termo –, dos anos 30 até meados dos anos 50 essas publicações eram classificadas de acordo com as seguintes temáticas: romance de aventura, mistério policial, e fantasia e ficção científica.
“Detective”, “Contos Magazine”, “Mistério Magazine”, “Emoção” e “X-9” foram algumas das revistas com conteúdo pulp publicadas no Brasil, trazendo contos americanos traduzidos. Também, entre as décadas de 50 e 70, ficaram populares os quadrinhos de cunho erótico de Carlos Zéfiro (pseudônimo de Alcides Caminha), cujo formato flertava com as publicações pulp.
Também no Brasil passaram por essas revistas grandes figuras da literatura, como Érico Veríssimo e Nelson Rodrigues. Já no campo das ilustrações, o artista Benício é tido como maior referência.
NOS DIAS DE HOJE
A literatura pulp deixou influências na cultura, na própria literatura e no cinema. Exemplos: o cinema Noir, Quentin Tarantino (quem não se lembra de Pulp Fiction – Tempo de Violência?!)... Enfim, influenciador e influenciados fazem parte de uma grande miscelânea que permeia e se funde com a cultura pop.No Brasil, o nome Ryoki Inoue é bastante conhecido na literatura pulp. Em 1986, ele largou a carreira de médico para se dedicar inteiramente à escrita. Policial e faroeste eram sua especialidade na época, e Ryoki publicava seus pocket books sob nada menos que 39 pseudônimos - por exigência de seus editores. Em 1993, foi reconhecido pelo Guiness Book of Records como o escritor mais prolífico do mundo - hoje, Ryoki tem 1102 livros publicados. Já chegou a escrever 3 romances por dia, mas atualmente seu objetivo é produzir de um a dois por ano. Nada mal! (Parágrafo atualizado em março de 2017.)
O post saiu grande, mas falar do pulp também não é coisa rápida, dadas as dimensões que o gênero/formato tomou. Trocando em miúdos, o pulp reuniu narrativas que vão desde o horror até a ficção científica, passando pelo policial, tudo muito bem embalado em estética viva e kitsch. Pacotinhos de ação que vieram para bagunçar um pouco a ideia de cultura culta e cultura “menor”, popular. “Bagunça” que transforma tudo em um bolo suficientemente complicado e conflitante para aqueles que ainda querem se limitar a conceitos pré-fabricados (e, dependendo do contexto, antiquados) de cultura.
Ah, não deixem de visitar o site inspirador do post para ver muitas capas pulp: pulpcovers.com
Fontes:
www.revistadacultura.com.br:8090/revista/rc30/index2.asp?page=materia3
picasaweb.google.com/pulpgallery
www.grifonosso.com/2011/06/eras-dos-quadrinhos-revistas-pulp/
www.ryoki.com.br
www.dezenovevinte.net/arte%20decorativa/s&q_pulp.htm
Aline T.K.M.
Criou o Livro Lab há 12 anos e se dedicar a este projeto é uma das coisas que mais ama fazer, além de estar em contato com os mais variados tipos de expressões artísticas. Tem paixão por cinema, viajar e conhecer outras culturas. Ah, e ama ler em francês!
5 comentários
MUITO BOM o post! Adoro blogs que trazem essas curiosidades para nós leitores. Achei show a ideia do post e acho que vou falar um pouquinho do "pulp" no meu blog também. MUITO BOM, MUITO BOM! Ótimo blog! Já estou seguindo!
ResponderExcluirBeijos,
Luana Karla - Sector 12 - http://sector-12.blogspot.com.br/
Nossa, adorei o post! Nunca tinha ouvido falar de Pulp, acredita? E fiquei bem animada com isso agora, vou procurar conhecer mais sobre... *-* Sempre curti essas ilustrações mais antigas e isso misturado com contos desses tipos é o máximo! Amei! :) Parabéns pela ideia *-*
ResponderExcluirBeijos, Nanda
Julgue pela Capa
Adorei o post, muito bom mesmo!! Ouvi pouco a respeito dos livros pulp até hoje, e foi muito legal conhecer mais sobre eles...
ResponderExcluirBjus!
Paty Algayer - Mágica Literária
"Todavia, por causa dos temas tratados, as ficções pulp eram consideradas de “menor valor literário”
ResponderExcluir" Uma grande parte dessas ficções consistia em enredos simples, cheios de clichês e sem um real compromisso literário."
Decida-se o motivo de ser considerada de menor valor literário rs. Mas na realidade é pelo segundo quote mesmo. Embora tenha saído grandes escritores dessa era. Pulp Ficition é basicamente o que hoje a gente chama de sites de fanfic: histórias feitas por autores amadores, geralmente ruins, apelativas com poucas ou nenhuma qualidade, mas que de vez em quando surge algo bom.
Adorei a materia!
Muito bom! Parabéns
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