Uma garrafa no mar de Gaza [Valérie Zenatti]
À la française 17 de dezembro de 2012 Aline T.K.M. 3 comentários
Um homem-bomba se explodiu dentro de um café em Jerusalém. Seis corpos foram encontrados. Uma garota, que se casaria naquele dia, morreu junto com o pai "algumas horas antes de vestir seu lindo vestido branco". E Tal não consegue parar de pensar em tudo isso. Tal é uma israelense que, como toda garota de dezessete anos, vive suas primeiras experiências - o primeiro grande amor, as primeiras escolhas profissionais e também o primeiro atentado. Depois de vivenciar esse momento trágico, ela escreve uma carta a um palestino imaginário, coloca em uma garrafa e pede ao irmão, que presta o serviço militar perto de Gaza, para lançá-la ao mar. Algumas semanas depois, recebe a resposta de um certo "Gazaman"...
Quem olha pode não dar tanta atenção dado o tamanho enxuto da obra. Mas atenção aos desavisados: as “modestas” 128 páginas surpreendem.
O leitor é arrancado de sua posição de conforto logo nas primeiras linhas, nas quais a jovem protagonista conta o que sentiu e pensou diante de um atentado em um café próximo de sua casa.
A abordagem do tema é o grande trunfo do livro. Valérie Zenatti coloca um tema delicado na berlinda e, através de uma narrativa acertada, consegue de alguma forma “simplificá-lo”. Entre aspas, porque a autora não torna os conflitos no Oriente Médio mais simples em si; Valérie utiliza de uma narrativa simplificada justamente para mostrar toda a complexidade do tema. Ou seja, à medida em que tudo fica mais claro para o leitor – e, de certa forma, para os protagonistas –, mais perceptível se torna também a dimensão do problema, o quão complexo ele é.
A narrativa é feita quase que inteiramente de maneira epistolar, através dos e-mails entre Tal e “Gazaman”. Os poucos capítulos que não fazem parte das mensagens trocadas, trazem ambos em primeira pessoa deixando-nos conhecer um pouco mais sobre sua percepção da vida e dos acontecimentos que os rodeiam.
É interessante notar como os dois jovens precisam um do outro, mesmo sem saber. Enquanto Tal busca através dos contatos (e da curiosidade e insistência quase infantis) a renovação de uma esperança já desgastada, em Gazaman vê-se o resgate de uma esperança moribunda, latente pela falta de alimento motivador. E é incrível notar como tal amizade – nada provável – faz com que os dois amadureçam ao longo das páginas!
É um livro que merece ser lido. Por mais clichê que possa soar, eu diria que é uma leitura que todo mundo deveria fazer em algum momento da vida.
O livro foi adaptado para o cinema e me sinto no dever de dizer que o filme é imperdível. O livro e o filme não são idênticos, há algumas diferenças importantes – no filme, Tal é francesa, apesar de viver em Jerusalém. (Não coloquei o trailer aqui porque achei que ele tem vários "spoilers"...) Não sei dizer se prefiro um ao outro, mas certamente ambos se complementam.
Uma garrafa no mar de Gaza* esteve em cartaz em agosto, na edição 2012 do Festival Varilux de Cinema Francês, em São Paulo (e nas cidades onde ocorreu o Festival). Foi lá que o assisti com a presença do diretor (Thierry Binisti) e da atriz Agathe Bonitzer (a ruivinha da capa do livro), que faz o papel de Tal. Eles estiveram lá durante alguns minutos para comentários e responderam perguntas do público. A previsão de estreia do filme é março de 2013.
*Uma garrafa no mar de Gaza (Une bouteille à la mer, dirigido por Thierry Binisti, França/Israel, 2011)
Quem olha pode não dar tanta atenção dado o tamanho enxuto da obra. Mas atenção aos desavisados: as “modestas” 128 páginas surpreendem.
O leitor é arrancado de sua posição de conforto logo nas primeiras linhas, nas quais a jovem protagonista conta o que sentiu e pensou diante de um atentado em um café próximo de sua casa.
A abordagem do tema é o grande trunfo do livro. Valérie Zenatti coloca um tema delicado na berlinda e, através de uma narrativa acertada, consegue de alguma forma “simplificá-lo”. Entre aspas, porque a autora não torna os conflitos no Oriente Médio mais simples em si; Valérie utiliza de uma narrativa simplificada justamente para mostrar toda a complexidade do tema. Ou seja, à medida em que tudo fica mais claro para o leitor – e, de certa forma, para os protagonistas –, mais perceptível se torna também a dimensão do problema, o quão complexo ele é.
A narrativa é feita quase que inteiramente de maneira epistolar, através dos e-mails entre Tal e “Gazaman”. Os poucos capítulos que não fazem parte das mensagens trocadas, trazem ambos em primeira pessoa deixando-nos conhecer um pouco mais sobre sua percepção da vida e dos acontecimentos que os rodeiam.
É interessante notar como os dois jovens precisam um do outro, mesmo sem saber. Enquanto Tal busca através dos contatos (e da curiosidade e insistência quase infantis) a renovação de uma esperança já desgastada, em Gazaman vê-se o resgate de uma esperança moribunda, latente pela falta de alimento motivador. E é incrível notar como tal amizade – nada provável – faz com que os dois amadureçam ao longo das páginas!
LEIA PORQUE...
Cena do filme Uma garrafa no mar de Gaza |
Uma garrafa no mar de Gaza* esteve em cartaz em agosto, na edição 2012 do Festival Varilux de Cinema Francês, em São Paulo (e nas cidades onde ocorreu o Festival). Foi lá que o assisti com a presença do diretor (Thierry Binisti) e da atriz Agathe Bonitzer (a ruivinha da capa do livro), que faz o papel de Tal. Eles estiveram lá durante alguns minutos para comentários e responderam perguntas do público. A previsão de estreia do filme é março de 2013.
*Uma garrafa no mar de Gaza (Une bouteille à la mer, dirigido por Thierry Binisti, França/Israel, 2011)
DA EXPERIÊNCIA...
A sensação foi a de que cada trecho do livro não está lá ao acaso. Eles realmente dizem algo; dizem muito, aliás. O livro não tem a intenção de mergulhar a fundo e detalhar os conflitos árabe-israelenses e suas origens, porém encoraja a buscar saber mais sobre o assunto.FEZ PENSAR EM...
Coisas que nós, brasileiros, não paramos muito para pensar, definitivamente. Choque cultural. Que a distância e/ou proximidade física não é um parâmetro tão real assim para definir o quanto se sabe de algo. E que sempre há meios de conhecer e entender antes de julgar, até mesmo jogando uma garrafa no mar (por mais maluca que essa ideia possa parecer)...
Título: Uma garrafa no mar de Gaza
Título original: Une bouteille dans la mer de Gaza
Autor(a): Valérie Zenatti
Editora: Seguinte (selo da Companhia das Letras)
Edição: 2012
Ano da obra: 2004
Páginas: 128
Aline T.K.M.
Criou o Livro Lab há 12 anos e se dedicar a este projeto é uma das coisas que mais ama fazer, além de estar em contato com os mais variados tipos de expressões artísticas. Tem paixão por cinema, viajar e conhecer outras culturas. Ah, e ama ler em francês!
3 comentários
Eu adoreii esse livro!
ResponderExcluirGostei bastante, especialmente por abordar o choque de cultura!
Não vejo a hora de assistir ao filme!
Beijos!
Oii...
ResponderExcluirEu nunca tinha ouvido falar do livro e nem do filme :( Mas achei super interessante pela sua resenha. Nunca li nada parecido e realmente me interessou bastante! Gosto muito de livros que falam da 2a guerra, acredito que esse também possa me interessar! E se consegue dizer tanto em tão poucas páginas, realmente merece ser lido! haha..
Beijos, Nanda
Julgue pela Capa
Oi Aline!
ResponderExcluirAdorei tua resenha, nunca tinha escutado falar desse livro, fiquei encantada com o que tu escrevestes, vou incluí-lo na minha lista.
estrelinhas coloridas...