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De fora para fora #1: Do beijo francês, medo em Barcelona e paixões internacionais

De fora para fora 25 de março de 2013 Aline T.K.M. 12 comentários


Sabe tudo aquilo que você sempre achou romântico? Esqueça.

Romântico mesmo é se atrapalhar ao falar coisas que você nunca se imaginou falando em outro idioma. Ou então tentar explicar – ou entender – aquele prato “estranho” que você ou ele costumam comer nos almoços em família. Romântico é ter que apelar para a mímica na tentativa de traduzir certas expressões e se fazer compreender quase que plenamente. Quase. Porque aí os dois descobrem que uma linguagem chamada química, em muitas ocasiões, é bem mais eficaz que qualquer outro método de quase comunicação. E isso vale também para os casos em que os dois se comunicam perfeitamente no idioma em questão; mesmo assim, a química continua sendo a via mais interessante.

Viver uma historinha “sob outro céu”, em outro país ou continente, não deve ser assim tão diferente do trivial colega novo de curso, ou do amigo do amigo que a gente conhece na festa de aniversário da amiga. E nem o é. Lembra a Anna (a do Beijo Francês)? Ela foi passar uma temporada em uma escola em Paris e acabou se apaixonando pelo irresistível – opinião dela – St. Clair. O que afasta ligeiramente a ficção da vida real é que Anna esteve em uma escola americana; ou seja, perrengues culturais e linguísticos quase zerados mas, infelizmente, nossa colega não descobriu o quão sexy é ter de enfrentar tais “problemas”.

Na maioria das vezes, apaixonar-se durante um intercâmbio trata-se apenas de uma matemática básica: é só pegar as delícias e os dilemas de uma paixão em condições normais e multiplicá-las por dois, por três, por dez..., dependendo da intensidade dos fatores envolvidos.

Só que atenção, eles estão lá em permanência, os dilemas. Nem no coloridinho Anna e o Beijo Francês, o jovem casal está livre das dúvidas e dos obstáculos. Vivendo aquela amizade temperada com "o tal climinha", eles enfrentam as dificuldades já clássicas que impedem um romance do tipo. Claro que ter a Notre-Dame de Paris e o rio Sena como figurantes deixa qualquer situação com uma carga dramática infinitamente maior!

Fora da ficção, as coisas não são tão diferentes e, desolée, podem ser bem piores. Os figurantes variam – London Eye, Ópera de Sydney, rio Liffey, Miami Art Museum, Central Park –, mas os dilemas continuam a dar as caras. De repente, os seis ou os doze meses de intercâmbio, que antes eram um período imenso, já não são suficientes. De repente, a paixão de temporada começa a dar sinais de amor. E, de repente, tudo acontece tão rápido que o medo é inevitável.



Não dá para não pensar naquela vida que deixamos em stand by em algum outro lugar do planeta, onde consideramos ser a nossa casa, com os lugares e pessoas que nos esperam.

Há quem se aventure com laços frouxos e acumule efemeridades mundo afora. Também há os que encontram aquela pessoa que descobriram andar buscando por toda uma vida no lugar errado. Tem gente que acaba juntando os trapos e faz do destino de intercâmbio o lar oficial, com direito a dois bebês e um cachorro, além do ski em família nos fins de semana gelados. E tem gente que retorna na dúvida, deixando para trás um pedaço de si com alguém especial, e trazendo um pedaço desse alguém no coração.

Falei de paixão internacional também em Rambla de Mar, conto de minha autoria publicado na antologia Equinócios de Amor. Duas pessoas improváveis que se conhecem e se encantam sob o sol de Barcelona. Vivem dias “fora da vida real”, sem pensar no depois. Até que o medo se revela um personagem importante e determinador. É chato, mas sempre acontece...

Por mais planos feitos e refeitos, e precauções tomadas, todo intercâmbio é uma aventura por essência. É encontrar o que não se espera ao mesmo tempo em que se espera encontrar um bilhão de outras coisas. E, numa dessas, a gente esbarra em alguém e acontece aquilo que, seja coisa desejada ou não, acaba sempre sendo uma surpresa. O amor não funciona tal qual previsão meteorológica. Não se tem lá muito poder de escolha quando a fada das paixões loucas resolve aparecer para uma visita.

Conheceu aquela pessoa a quem você daria até a pontinha de chocolate do seu Cornetto? Isto aconteceu bem longe de casa? Atire-se nas delícias, meu bem! Se a aventura se prolongou, uma vez passado – ou não – o alvoroço inicial, prepare-se para questões internas do tipo “fico ou volto, volto ou fico?”, “qual dos dois vai abrir mão ‘de tudo’ para começar uma nova vida em outro lugar?”, “será que é mesmo a pessoa certa?”, “se eu tiver que voltar, será que vou perder aquela pessoa para sempre?”... Não querendo ser chata, mas muitos desses questionamentos nascem fadados a ficar sem resposta – ao menos de imediato.

Apaixonar-se em outra língua tem seus encantos; é aquela fruta que deleita quem a prova. E no fim, pouco importa se o beijo é francês, inglês ou alemão. O importante é viver e ser verdadeiro na intensidade. É aproveitar o momento e, chegada a hora de partir, transformar tudo em uma grande amizade. Ou ainda, é ter coragem para driblar os dilemas e saber reconhecer se aqueles lábios estão destinados a ser saboreados pelo resto da vida.


O que é "De fora para fora"? Saiba mais.

Aline T.K.M.
Criou o Livro Lab há 12 anos e se dedicar a este projeto é uma das coisas que mais ama fazer, além de estar em contato com os mais variados tipos de expressões artísticas. Tem paixão por cinema, viajar e conhecer outras culturas. Ah, e ama ler em francês!

 

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12 comentários

  1. Texto muito bem escrito!
    Experiência própria? rs

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    1. Obrigada! ^^ Hehehe não, mas vi acontecer muitoooo e de jeitos bem variados! Meu caso foi o de ir comprometida e o namoro durou todo esse tempo, mesmo a distância. Ei, isso pode ser um bom assunto para um post!

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  2. "Apaixonar-se em outra língua tem seus encantos; é aquela fruta que deleita quem a prova. E no fim, pouco importa se o beijo é francês, inglês ou alemão."

    Eu tô indo agora em Julho pro Reino Unido, fazer um ano e meio de intercâmbio... quem sabe, não é? Quem sabe não acontece uma paixão que transcende as línguas, hahahaha

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    1. Você deve estar já beeem ansioso p/ julho, né!!! Olha que em um ano e meio tem tempo para muita coisa acontecer, vai que você conhece alguém especial hehehe. Boa sorte no seu intercâmbio e aproveita muitooo!

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  3. Amei seu texto! Que lindo! Muito bem escrito, por sinal ^~
    Parabéns.
    Não passei por isso ainda, mas acho uma experiência que deve mudar um pouco sua vida...

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    1. Babi, obrigada!!! =)
      Olha, se não muda, acredito que seja algo que deixa marcas muito duradouras. ^^

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  4. Adorei seu texto, de verdade!
    Você escreve muito bem!

    Beijos.
    Páginas na Estante
    @alyneadriana

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  5. Adorei de verdade! Muito legal que o seu namoro tenha continuado firme, são poucos os casais que conseguem e eu vi um desses não faz muito tempo...
    Meu sonho é fazer um intercâmbio ter a chance de me apaixonar sob outro céu, não necessariamente por uma pessoa, mas uma cultura, uma cidade, um país diferente. Dá um gostinho de liberdade pensar nisso haha
    Beijãão ♥

    http://blogcabelosaovento.blogspot.com.br

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    1. Oi, Camila, sabe que eu sempre digo que se o namoro sobreviveu a um intercâmbio é porque é para a vida toda. Às vezes o namoro nem termina antes ou durante o tempo em que se está longe, mas aí a pessoa volta e ambos percebem que não têm mais a ver um com o outro. Os planos, ideias, a própria visão de mundo muda, e aí o namoro termina mesmo quando o casal já está morando perto de novo.
      Você falou algo bem legal, é bem esse o espírito da coisa, você pode nem se apaixonar por alguém, mas sempre se apaixona pelo país, pelo novo e por toda a cultura que passa a vivenciar. Um beijo!!!

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  6. Tive uma paixão platônica em meu intercâmbio. Além de achar que nunca mais ia vê-lo nunca me imaginei ficando com ele. Graças foi o oposto, não deu em namoro mas foi perfeito, típica cena de filme (risos). Adorei o texto, além de ser bem escrito me trouxe ótimas memórias!

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    1. Que perfeito saber que o post te trouxe lembranças desse "rolo" hehehe. Acho que todo esse clima de novidade do intercâmbio somado a uma pessoa de uma nacionalidade diferente, deve dar um gostinho diferente à experiência de viver uma paixão. É tudo novo, é tudo bonitinho, e geralmente só ficam as coisas boas. Você disse tudo, bem cena de filme hahaha!

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