O Gato do Rabino – vol. 1: O Bar-Mitzvah [Joann Sfar]
À la française 28 de outubro de 2013 Aline T.K.M. 5 comentáriosAntes de qualquer conversa, falo aqui de uma fábula em HQ cujo protagonista é um gato que desatou a falar após ter engolido um papagaio. E, detalhe, ele não é um gato qualquer: o felino em questão é o bicho de estimação de um rabino que vive na Argélia no início do século 20, em uma comunidade de judeus sefarditas*.
Deu para notar que o coloridinho aqui é digno de atenção, não?
Só que, sendo seu proprietário um rabino, não seria ele um gato judeu? Uma vez que o bichano adquire o poder da palavra, ele se questiona se não deveria aprender o que diz a Torá e ter seu Bar-Mitzvah, que é a cerimônia de passagem à vida adulta que os garotos judeus fazem aos treze anos.
Como nunca houve outro gato a ter um Bar-Mitzvah, o rabino decide consultar um outro rabino para saber o que fazer, mas este se opõe à ideia. Então se inicia uma ardilosa e bem-humorada discussão na qual o gato argumenta que, como animal falante, deve ser regido pelas mesmas leis divinas que os homens.
Além disso, o felino está apaixonado por Zlabya, filha de seu dono, mas desde que adquiriu a fala não tem permissão para passar seus dias junto dela, como fazia antes de se tornar um gato falante. É que o rabino teme que o animal, agora que se põe a verbalizar, possa conduzir sua filha a caminhos nada virtuosos.
O francês de origem judaica Joann Sfar coloca falas poéticas e astutas na boca do gato, que de maneira um tanto filosófica discute o judaísmo e contesta muitos de seus preceitos. Com ilustrações dotadas de personalidade, texto inteligente e com humor irônico, e sem jamais menosprezar a cultura judaica (aliás, é bem o contrário), o gato e seu dono, o rabino, têm seus laços lindamente fortalecidos a partir dessas conversas e questionamentos.
Com a troca de ideias e esclarecimentos, e uma observação mais apurada, o gato acaba por perceber o erro de julgar alguém antecipadamente, e começa a entender o exercício da tolerância.
*Judeus sefarditas: judeus descendentes das comunidades judaicas da Península Ibérica estabelecidas no período medieval, e depois dispersas por várias regiões.
LI EM FRANCÊS
Sim, eu li O Gato do Rabino (vol. 1) em francês! E devo dizer que foi uma leitura muito rapidinha, simples e mais interessante por ser no idioma de origem. Não utilizei o dicionário – para ser exata, usei-o apenas uma vez e foi para uma palavra específica relacionada ao judaísmo.
Recomendo aos que estão entrando no nível intermediário do idioma, e arrisco mesmo a recomendar aos mais iniciantes.
Edição lida: Le Chat du Rabbin – 1. La Bar-Mitsva, Dargaud (collection Poisson Pilote), 2002.
LEIA PORQUE...
Longe de ser infantil, O Gato do Rabino conquista pela ironia, pela crítica na forma do felino. É também uma homenagem à cultura judaica e aos pintores argelinos – através das ilustrações vistosas e, ao mesmo tempo, de traços simples.O primeiro álbum da série vendeu mais de 200 mil exemplares na França; ganhou o Eisner Awards (algo como o Oscar dos quadrinhos) de melhor HQ estrangeira em 2006, além de ter sido contemplado com o prêmio do júri do Festival Internacional de HQ de Angoulême, na França, país onde a série já tem 5 volumes lançados. No Brasil, por enquanto, temos apenas até o terceiro.
E mais: O Gato do Rabino foi adaptado para o cinema pelo próprio autor. (Ainda não assisti à animação, mas pretendo.)
DA EXPERIÊNCIA...
Não sou apegada a religião de tipo algum e geralmente detesto ler livros sobre o tema. Contudo, O Gato do Rabino me atraiu por abordar esse tipo de assunto de maneira pensante, argumentativa e utilizando de ironia. Um livro que fez diferença ter lido, e olha que aqui falo apenas do volume 1.
FEZ PENSAR EM...
Na pessoinha que ainda não retornou o volume 2 à biblioteca e que está me fazendo esperar (longamente) para continuar essa história. Mas já peguei o volume 3, por via das dúvidas... – há, não contavam com minha astúcia!Título: O Gato do Rabino – vol. 1: O Bar-Mitzvah
Título original: Le Chat du Rabbin – 1. La Bar-Mitsva
Autor(a): Joann Sfar, (colorido por) Brigitte Findakly
Editora: Zahar
Edição: 2006
Ano da obra: 2002
Páginas: 48
Aline T.K.M.
Criou o Livro Lab há 12 anos e se dedicar a este projeto é uma das coisas que mais ama fazer, além de estar em contato com os mais variados tipos de expressões artísticas. Tem paixão por cinema, viajar e conhecer outras culturas. Ah, e ama ler em francês!
5 comentários
Nem conhecia o livro! Não sei se conseguiria ler em Francês como você mas fiquei bem interessada!
ResponderExcluirhttp://alguns-livros.blogspot.com.br/
Eu achei a premissa legal. Acho que não conseguiria ler em frances rs.
ResponderExcluirBjus.
http://livrosleituraseafins.blogspot.com.br/
não ando numa "vibe" de ler hq's, mas se aparecesse essa na minha frente, mas em português - pois francês não entendo nada! - eu leria numa boa, pois parece muito boa.
ResponderExcluircurioso pela animação que deve ser engraçada e divertida, gato meio doido esse aí hahahaha
Oi querida,
ResponderExcluirOs franceses são excelentes quadrinistas. Eu como fã de HQs (ou BD's, como preferir) tento sempre me policiar a ler algo vindo de lá, li muito pouco, queria mais, muito mais. Fiquei curiosíssimo para ler esse, não em francês, claro, ainda não tenho essa habilidade, ainda estou no inglês, rsrs... Mas fico feliz em saber que já tem edições brasileiras desses quadrinhos, ainda que seja da Zahar, sinônimo de preço alto.
Legal que você tenha lido de um biblioteca, isso me faz lembrar de que eu preciso voltar a frequentar mais a biblioteca daqui.
Quanto às BDs eu te indico a biografia em quadrinhos da Kiki de Montparnasse, conhece? Se quiser dá uma pesquisa no blog, fiz uma resenha dele há muito tempo atrás, quando nem sabia escrever ainda direito, haahahhaa...
Beijos
Cooltural
Pois é, eles têm toda uma cultura em relação aos quadrinhos. Aliás, é muito comum encontrar por lá livrarias dedicadas só aos quadrinhos, muito legal!
ExcluirPara ser honesta, nunca fui fã de quadrinhos, li pouquíssimos, mas agora ando desbravando a biblioteca da Aliança Francesa hahaha, e como são leituras rapidinhas, dá para encaixar no meio das outras e do dia a dia. Agora estou lendo Persépolis (também em francês) e estou amando muito. Outro que eu li há anos e achei magnífico foi Maus, sobre o holocausto e tal, e pretendo relê-lo assim que possível.
Ah, vou dar uma bisbilhotada no seu blog para achar algo da Kiki de Montparnasse. Não conheço, mas já fui com a cara do nome hahaha. Beijooo!