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Resenha: As Virgens Suicidas, de Jeffrey Eugenides

Companhia das Letras 6 de novembro de 2013 Aline T.K.M. 3 comentários

Resenha: As Virgens Suicidas, de Jeffrey Eugenides

Estados Unidos, década de 70. Num subúrbio norte-americano vivem as irmãs Lisbon, cuja idade varia dos treze aos dezessete anos. Criadas sob os olhos vigilantes dos pais – o pai é professor de matemática da escola em que estudam, a mãe é dona de casa –, as garotas são como vulcões em erupção silenciosa, sua natureza é severamente refreada e impedida de se manifestar.

A trama relata a tragédia que acomete a família Lisbon, acontecimento este que impacta fortemente todo o entorno. Logo nas primeiras páginas, o leitor é informado do destino que as irmãs escolheram para si, e começa, então, a testemunhar sua concretização.

Na realidade, o que testemunhamos vem dos olhos do narrador: os garotos que habitam as casas em frente à dos Lisbon, que nos contam, décadas depois do acontecido, tudo o que chegamos a saber acerca daquelas meninas. Com a sensibilidade advinda de anos de lembranças guardadas e maturadas, esses garotos nos tecem uma intrincada rede iniciada pelo verão em que Cecilia, a mais jovem das Lisbon, tira a própria vida em sua segunda tentativa, e que culminará no igual fim que terão as quatro irmãs restantes.

As Virgens Suicidas

Imagens, sons, cheiros, ausências. As memórias juvenis do narrador são, de uma só vez, meio e fim; a partir delas, Eugenides confere às meninas Lisbon condição quase mítica, envoltas em mistério e donas de “um algo” superior capaz de transcender tudo e todos. Os únicos recursos de que dispunham os garotos para a coleta das lembranças eram, a princípio, as janelas da casa dos Lisbon e um local de onde eles pudessem observar o que lá se passava. E a (pouca) convivência no ambiente escolar.

Devaneavam com a simples, porém remota, possibilidade de adentrar a casa das meninas, de visualizar cada objeto – por mais usual – que se encontrasse em seus quartos e banheiros. Para os garotos, descobrir aquelas pequenas mulheres era desvendar a natureza feminina e, ao mesmo tempo, mais que isso; era aproximar-se de seres inalcançáveis que, no fim das contas, não passavam de garotas (quase) comuns.

As Virgens Suicidas

O controle e privação excessivamente rígidos dos pais, ou a simples abdicação a um mundo superficial e em deterioração no qual talvez não quisessem viver. Muitos quiseram encontrar razões para a tragédia que abateu a família; nem o leitor pode evitar a especulação. A ausência de respostas exatas indica que tanto podem ser parte de um conjunto complexo como também de uma simplicidade ridícula.

O fato é que Therese, Mary, Bonnie, Lux e Cecilia começaram a esvair-se bem antes da concretização de sua morte. Tal como os olmos infectados nas ruas do bairro, aos quais não restou saída senão o abatimento, às meninas Lisbon, já corroídas por dentro, não restou desfecho possível senão o da morte escolhida por si mesmas. Talvez a única escolha própria que algum dia lhes foi permitida.

LEIA PORQUE

A excelência das descrições de Eugenides já justifica a leitura. Pequeno notável da literatura contemporânea, o romance marca tanto quanto a imperdível adaptação de Sofia Coppola. Aliás, aproveito para “imperativizar” a coisa: assistam ao filme e leiam o livro – não importa a ordem, mas façam ambos.

DA EXPERIÊNCIA

Tão poética quanto as meninas Lisbon e os garotos se comunicando através das letras dos Beatles, Cat Stevens e Elton John. Tão melancólica quanto as irmãs serem obrigadas a queimar seus discos de rock na lareira de casa.

FEZ PENSAR EM

Vestidos brancos, cabelos lisos, Sucrilhos Kellogg’s, chocolate Hershey’s, e “Dear Prudence” dos Beatles.



Onde comprar: Fnac

Título: As Virgens Suicidas
Título original: The Virgin Suicides
Autor(a): Jeffrey Eugenides
Tradução: Daniel Pellizzari
Editora: Companhia das Letras
Edição: 2013
Ano da obra: 1993
Páginas: 232

Aline T.K.M.
Criou o Livro Lab há 12 anos e se dedicar a este projeto é uma das coisas que mais ama fazer, além de estar em contato com os mais variados tipos de expressões artísticas. Tem paixão por cinema, viajar e conhecer outras culturas. Ah, e ama ler em francês!

 

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3 comentários

  1. Assisti ao filme na graduação, e gostei bastante. Desde então tenho vontade de ler o livro mas ainda não tive oportunidade. Concordo contigo quando tu fala que esse pensamento delas já existiam muito antes delas finalmente conseguirem se suicidar (se é que morrer era o que elas realmente queriam...); e levar em conta que "Talvez a única escolha própria que algum dia lhes foi permitida" pode nos levar a pensar no quão libertado essa tomada de decisão foi para elas.

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  2. Oi Aline,
    Adorei a resenha, muitíssimo bem escrita. Parece até uma narrativa própria (você devia se arriscar num livro, rsrs).
    Eu conhecia pouco da história, mas acho que eu ia adorar esse livro. Confio demais no seu bom gosto.
    Se puder, passa na minha resenha (Licor de Dente-de-Leão), acho que você gostar muito do livro.
    Beijão
    Cooltural

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    Respostas
    1. Oi Ademar! Poooxa, que emoção, que legal que você gostou da resenha. E um livro é um projeto que eu tenho há uns 3 anos,sabe! Mas por enquanto só me joguei nos contos mesmo. Ainda vou tirar um romance da cabeça e passar para o "papel", e tomara que dê certo! ^^ Bjoka!

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