Resenha: A Espuma dos Dias, de Boris Vian
Boris Vian 26 de fevereiro de 2014 Aline T.K.M. 7 comentários
Verdadeiras histórias de amor são genuinamente inocentes e repentinas. Trágicas, também. É o que prova A Espuma dos Dias, clássico moderno do francês Boris Vian, publicado pela primeira vez no fim da década de 40.
Envoltos em aura surrealista, os amigos Colin, Chick, Nicolas, Chloé, Alise e Isis vivem um cotidiano colorido e cheio de humor. A vida é leve e furta-cor, tal qual uma bolha de sabão. É divertida e tragicômica, como o ringue de patinação no gelo altamente sanguinário para os menos cuidadosos. E deliciosa, como o são as enguias pescadas no cano do banheiro, que Nicolas prepara de maneira especial segundo as receitas do magnífico chef Gouffé.
Colin – o protagonista – apara as pálpebras quando acorda, tem um rato cinzento de bigodes pretos por companheiro fiel e inventou o “pianoquetel”, piano que prepara coquetéis de acordo com a melodia tocada. Não trabalha: suas reservas são suficientes para toda uma vida. Inspirado pelo amigo Chick (que namora a bela Alise) e embalado pelo jazz e pelos passos da dança do momento – o miranimim – Colin conhece Chloé, se apaixona e se casa.
Envoltos em aura surrealista, os amigos Colin, Chick, Nicolas, Chloé, Alise e Isis vivem um cotidiano colorido e cheio de humor. A vida é leve e furta-cor, tal qual uma bolha de sabão. É divertida e tragicômica, como o ringue de patinação no gelo altamente sanguinário para os menos cuidadosos. E deliciosa, como o são as enguias pescadas no cano do banheiro, que Nicolas prepara de maneira especial segundo as receitas do magnífico chef Gouffé.
Colin – o protagonista – apara as pálpebras quando acorda, tem um rato cinzento de bigodes pretos por companheiro fiel e inventou o “pianoquetel”, piano que prepara coquetéis de acordo com a melodia tocada. Não trabalha: suas reservas são suficientes para toda uma vida. Inspirado pelo amigo Chick (que namora a bela Alise) e embalado pelo jazz e pelos passos da dança do momento – o miranimim – Colin conhece Chloé, se apaixona e se casa.
Amor doce, ingênuo, cheio de delícias em seus mais simples aspectos. E sem jamais resvalar nas baboseiras do conceito do predestinado. O sentimento é o mais puro e fiel, mas seria bem capaz de ter nascido entre quaisquer outras pessoas. Mesmo Colin e Alise reconhecem, livres de hipocrisias, que poderiam ter amado muito um ao outro, não fosse o fato de que já amavam demais seus respectivos companheiros, Chloé e Chick.
A realidade surreal dos personagens é um belo exercício para a imaginação do leitor, uma vez que a narrativa é ágil e não se demora em descrições detalhadas. No entanto, é bastante fotográfica, por mais estranho que isso possa soar. A fidelidade ao cenário digno de um sonho louco faz com que acreditar no inusitado como algo corriqueiro seja tarefa fácil no romance de Vian.
Não só na diversão reside o surreal, porém. O crescimento de um nenúfar em um dos pulmões de Chloé abala a perfeição dos seus dias de casada. A moça tosse muito e precisa estar sempre rodeada de flores para intimidar a planta que se apossa de seu peito. Para arcar com os custos da doença e salvar sua amada, Colin se vê, pela primeira vez na vida, na urgência de arranjar um trabalho.
A realidade surreal dos personagens é um belo exercício para a imaginação do leitor, uma vez que a narrativa é ágil e não se demora em descrições detalhadas. No entanto, é bastante fotográfica, por mais estranho que isso possa soar. A fidelidade ao cenário digno de um sonho louco faz com que acreditar no inusitado como algo corriqueiro seja tarefa fácil no romance de Vian.
Não só na diversão reside o surreal, porém. O crescimento de um nenúfar em um dos pulmões de Chloé abala a perfeição dos seus dias de casada. A moça tosse muito e precisa estar sempre rodeada de flores para intimidar a planta que se apossa de seu peito. Para arcar com os custos da doença e salvar sua amada, Colin se vê, pela primeira vez na vida, na urgência de arranjar um trabalho.
Aficionados por Jean Sol-Partre e suas filosofias, Chick e Alise se amam muito. Até que a obsessão de Chick pelo filósofo existencialista passa dos limites, fazendo-se um vício alimentado com publicações, manuscritos, roupas usadas e tudo mais que tenha relação com Partre. Chick gasta cegamente cada dobrezão que tem e que não tem – Colin socorre as necessidades financeiras do amigo – nas drogas cada vez mais caras que lhe implora o maldito vício do intelecto.
O desespero e a desgraça dos personagens se materializam, fazendo-se ver, tocar, sentir. Quase como um confronto com a vida real, um lembrete do quão duro pode ser viver. O que antes era leve, iluminado e colorido transforma-se em um fardo cinzento sobre as costas de cada um deles. Nicolas envelhece cada vez mais rápido. Os raios solares mal penetram os corredores e cômodos da casa de Colin e Chloé. As paredes se estreitam e oprimem, os ladrilhos ficam opacos, as janelas diminuem de tamanho e o carpete já não é macio e espesso. Junto com Chloé, a casa definha; até o camundongo se retrai em um canto.
A tragédia assume um bonito formato, aqui moldado pelo surreal. E não vem para enfraquecer, senão para mostrar a força do verdadeiro sentimento de amor, aquele que sempre – e até obsessivamente – coloca o outro antes do eu. Por mais nefastas que possam ser as consequências.
E mais: Jean-Sol Partre é um trocadilho do filósofo existencialista francês Jean-Paul Sartre. Vian também brincou e fez trocadilhos com os títulos das obras do filósofo.
O desespero e a desgraça dos personagens se materializam, fazendo-se ver, tocar, sentir. Quase como um confronto com a vida real, um lembrete do quão duro pode ser viver. O que antes era leve, iluminado e colorido transforma-se em um fardo cinzento sobre as costas de cada um deles. Nicolas envelhece cada vez mais rápido. Os raios solares mal penetram os corredores e cômodos da casa de Colin e Chloé. As paredes se estreitam e oprimem, os ladrilhos ficam opacos, as janelas diminuem de tamanho e o carpete já não é macio e espesso. Junto com Chloé, a casa definha; até o camundongo se retrai em um canto.
A tragédia assume um bonito formato, aqui moldado pelo surreal. E não vem para enfraquecer, senão para mostrar a força do verdadeiro sentimento de amor, aquele que sempre – e até obsessivamente – coloca o outro antes do eu. Por mais nefastas que possam ser as consequências.
LEIA PORQUE
A trama é de um colorido único; o tipo de coisa que se lê e da qual se diz “nunca li nada assim antes”.E mais: Jean-Sol Partre é um trocadilho do filósofo existencialista francês Jean-Paul Sartre. Vian também brincou e fez trocadilhos com os títulos das obras do filósofo.
DA EXPERIÊNCIA
Já havia falado do filme antes aqui no blog; foi o responsável por meu primeiro encantamento com a história. Li o romance e fui pega pelo segundo encantamento. Não é preciso dizer mais.FEZ PENSAR EM
Comentário genial na quarta capa do livro; os personagens parecem saídos de um filme da Nouvelle Vague, que, na época em que foi escrito o livro (1946), “ainda não era sequer um brilho no olhar de Godard e Truffaut”. Conclusão: Boris Vian, “escritor, poeta, engenheiro, ator, pintor, trompetista, compositor, animador cultural, crítico de jazz e cinema, inventou o moderno filme francês”.
Onde comprar: Estante Virtual - único exemplar disponível
Título: A Espuma dos Dias
Título original: L’Écume des Jours
Autor(a): Boris Vian
Tradução: Paulo Werneck
Editora: Cosac Naify
Edição: 2013
Ano da obra: 1947
Páginas: 256
Aline T.K.M.
Criou o Livro Lab há 12 anos e se dedicar a este projeto é uma das coisas que mais ama fazer, além de estar em contato com os mais variados tipos de expressões artísticas. Tem paixão por cinema, viajar e conhecer outras culturas. Ah, e ama ler em francês!
7 comentários
Já adicione à minha lista de desejados. Parece um livro excelente, adorei a história e o filme já havia me chamado a atenção há um tempo, já que os filmes com Audrey Tautou têm se mostrado praticamente infalíveis para mim, assim como o cinema francês, em geral. E agora espero começar a apreciar a literatura francesa da mesma forma. ;D
ResponderExcluirTainara, esse livro é sensacional, vale muito a pena conferir, bem como o filme. Eu simplesmente amo a Audrey Tautou, então quando sei que ela está em algum filme, já é garantia de querer assistir hehe. O ator que faz par com ela, Romain Duris, é ótimo e também muito conhecido.
ExcluirLeitura atual!
ResponderExcluirNão lia a resenha inteira (só o inicinho!) para não estragar tudo, haha
Abraço*
Sério que está lendo ele agora?!?! =) Livro incrível, não?
ExcluirUau, esse livro parece ser bem diferente mesmo! Não conhecia nem o livro nem o filme, com certeza irei procurá-los :)
ResponderExcluirteh mais
Olha, Karol, vale muito a pena! Os dois, livro e filme, são lindos e diferentes do que a gente vê por aí.
ExcluirAudrey estampando sua postagem, adorei.
ResponderExcluirJá ouvi muito falar do livro, um pouco, outros dizem que é um livro meio confuso, mas gosto de coisas confusas.
Beijinhos ♥
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