Baseado no livro homônimo de Dinorah do Valle, que participou do roteiro, porém veio a falecer antes do término da produção, Pau Brasil é visto – tanto em termos de qualidade técnica, como no desenvolvimento da temática – como fruto do amadurecimento do cinema baiano.
Duas famílias que rivalizam entre si vivem uma em frente à outra, em casas simples situadas num vilarejo nos confins do sertão nordestino. O artesão Nives (Bertrand Duarte) é casado com a fogosa Juraci (Fernanda Paquelet), cujo amor transborda para além do matrimônio. Vivem com o filho e abrigam um sem-teto. Do outro lado da rua, habitam o severo Joaquim (Osvaldo Mil) – com seu excesso de moralismo hipócrita – a esposa calada, duas filhas adolescentes e um bebê. Os acontecimentos envolvendo as duas famílias ditarão o destino desses pobres personagens.
“Pau Brasil”: cinema baiano encanta com trama insólita povoada pela presença do hostil
O espectador tem perante si uma história insólita, cujos integrantes vão de um extremo a outro e se encontram inseridos em um ambiente hostil, desprovido de tudo, tal qual a rua de terra batida que separa as casas das duas famílias. Aí brotam elementos capazes de encantar as dezenas de pares de olhos que miram a telona.
Juraci oferece um amor aberto, livre de amarras, e demonstra afeição sincera nos cuidados para com o filho e marido. Nives, tido por “corno manso” pelos demais homens do entorno, é atencioso com a família e não faz caso ao excesso de fogo da mulher. Sua alma está a um passo além dos conflitos mundanos, e é isso o que o personagem tratará de revelar-nos até o desfecho da história.
Já as pregações e o moralismo de Joaquim, simpatizante de uma boa surra com chicote para corrigir os “desvios” das filhas, provam não serem sinônimos de limpidez de caráter. Aliás, é bem o contrário. Suas acusações repletas de agressividade são, talvez, o silenciador que mais lhe convém para seus atos nada pudicos.
No vilarejo de Pau Brasil nada é exatamente o que aparenta ser. O isolamento do local é como estufa para o cultivo das maldades e falatórios perniciosos; sair dali só é possível mediante a travessia de águas a perder de vista, feita em poucos barcos paupérrimos que transportam um por vez – talvez uma espécie de rota purificadora, necessária para a “libertação”.
Nessa terra de injustiças, os jovens carregam o peso dos atos e palavras dos adultos. Como o menino de Nives e Juraci, vítima de preconceito por ser “filho negro de pais brancos”; ou as duas meninas de Joaquim, perfeitos opostos, possível reflexo das contradições do pai e da extrema submissão da mãe.
Nessa terra de injustiças, quem é que paga o preço, afinal?
NOTA: 8/10
ESTREIA: 24/04
Pau Brasil – 98 min.
Brasil / Alemanha – 2009
Direção: Fernando Belens
Roteiro: Fernando Belens, Dinorah do Valle
Elenco: Bertrand Duarte, Osvaldo Mil, Fernanda Paquelet, Arany Santana, Milena Flick, Rita Brandi, Edlo Mendes
Aline T.K.M.
Criou o Livro Lab há 12 anos e se dedicar a este projeto é uma das coisas que mais ama fazer, além de estar em contato com os mais variados tipos de expressões artísticas. Tem paixão por cinema, viajar e conhecer outras culturas. Ah, e ama ler em francês!
4 comentários
Gosto quando o cinema nacional coloca cara a tapa e produz bons dramas com históricas decentes, ao invés daquelas comédias chatas e sem noção.
ResponderExcluirQuero assistir ♥
Beijinhos, Helana ♥
In The Sky, Blog
Também não sou muito fã das comédias nacionais - salvo uma ou outra, acho-as todas com cara de programa de comédia da Globo. Mas esse filme aí vale a pena, viu.
ExcluirCom certeza absoluta eu vou assistir esse filme.
ResponderExcluirA produção de filmes nacionais está melhorando de uma forma que me deixa orgulhosa =)
Beijos,
Carolina'a Book Blog
O cinema nacional tem coisa muito boa! Pena que os que acabam se destacando mais são justamente os filmes mais "bobinhos"...
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