Coprodução entre Brasil, Uruguai e Alemanha, Entre Vales foi lançado em 2012 no Festival de Cinema do Rio de Janeiro, e obteve o Prêmio Itamaraty para o Cinema Sul-Americano e o Prêmio do Público no 8º Festival do Cinema Latino-Americano de São Paulo 2013.
Vicente (Ângelo Antônio) é um economista que vive de maneira confortável com a esposa, a dentista Marina (Melissa Vettore), e o único filho do casal, Caio (Matheus Restiffe). No entanto, perdas profissionais e pessoais levam Vicente ao fundo do poço, ocasionando uma reviravolta em sua vida. De maneira repentina, o outrora bem-sucedido pai de família se vê transformado em um catador de lixo sem ao menos um local para passar a noite.
“Entre Vales”: história de perdas e efemeridades, e sobre o chegar ao fundo do poço
Barcinski entrega ao espectador uma obra de contrastes perturbadores. Imagens de campos abertos, como um aterro ainda não utilizado, são substituídas por colinas de lixo – pedaços descartados de inúmeras vidas, que fazem do lixão uma verdadeira terra de restos.
A cena inicial exibe o momento da ruptura, o momento em que a metamorfose se dá na vida do personagem central. Dali em diante, as peças de um delicado quebra-cabeça vão se revelando, pouco a pouco, até que se faça visível não somente o porquê, mas o como da desgraça de Vicente.
A partir de uma cronologia não linear, acompanhamos a descida íngreme do protagonista rumo a seu inferno pessoal, ao seu próprio aterro da alma. A película, no entanto, se atém aos fatos. De Vicente, sabemos apenas o que vemos. O sujeito fechado, de poucas palavras, transforma-se em um ser errante; catador de lixo, procura nos dejetos os pedaços perdidos de uma vida que já não é a sua.
Ao trazer um ser humano que perde repentinamente tudo o que mais estima, Entre Vales nos fala de fragilidade e de efemeridade, até mesmo daquilo que mais acreditamos inquebrável e eterno. Com bela fotografia, poucas palavras e narrativa atípica, vemos o protagonista ser descartado do mundo, da mesma forma como foram descartados todos aqueles objetos e restos que habitam o lixão.
Perder tudo, muitas vezes, significa perder também a própria identidade. Mas, assim como parte do lixo pode ser triado e reciclado, também o ser humano pode renascer. Após ter atingido seu limite, resta a Vicente reencontrar-se a si mesmo em sua trajetória; lavar o passado de si para, finalmente, poder vislumbrar uma paisagem outra que as colinas e vales de detritos.
NOTA: 8,5/10
ESTREIA: 8 de maio
Entre Vales – 80 min.
Brasil/Uruguai/Alemanha – 2012
Direção: Philippe Barcinski
Roteiro: Fabiana Werneck Barcinski, Philippe Barcinski
Elenco: Ângelo Antônio, Melissa Vettore, Inês Peixoto, Daniel Hendler, Edmilson Cordeiro, Matheus Restiffe
Aline T.K.M.
Criou o Livro Lab há 12 anos e se dedicar a este projeto é uma das coisas que mais ama fazer, além de estar em contato com os mais variados tipos de expressões artísticas. Tem paixão por cinema, viajar e conhecer outras culturas. Ah, e ama ler em francês!
2 comentários
Ainda não assisti esse filmes. Mas pela capa parece ser bem interessante e ao mesmo tempo complicado.
ResponderExcluirBom Final de semana.
Bruna Marie - WTF.
Oi, Aline!
ResponderExcluirEu não tinha ouvido falar desse filme ainda, mas vou confessar que não faz muito o meu estilo, não! :(
Beijos,
Inara
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