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O Monge Negro [Anton Tchekhov]

Anton Tchekhov 23 de julho de 2014 Aline T.K.M. 2 comentários


Até que ponto a loucura – parte intrínseca da genialidade, muitos dirão – é algo ruim? Seria ela de todo negativa?

Em O Monge Negro, de Tchekhov, o intelectual Kovrin sofre de “um esgotamento que lhe arruinou os nervos” e, aconselhado por um médico, vai passar uma temporada no campo, na casa de seu antigo tutor e segundo pai, Iegor Semionovitch, e sua filha, a franzina e pálida Tânia Pessotski, com quem acaba se casando.

Em um dado momento, Kovrin tem uma estranha visão, bastante real, de um monge negro capaz de transcender o espaço e o tempo. Essas visões passam a acontecer com cada vez mais frequência; inclusive, recebe a visita do monge para longas conversas nas noites insones. Não tarda para que a esposa e o sogro o alertem: essas visões indicam que ele só pode estar doente.

Cedendo à pressão dos seus, Kovrin se esforça para colocar corpo e espírito nos eixos, nos padrões tidos como normais; assim, não mais vê o monge negro, mas com isso perde o vigor e a genialidade de outrora. Genialidade esta que também era reconhecida por seu colega encapuzado – o monge não cessava de repetir-lhe como era brilhante. Sem as visões, Kovrin aproxima-se da mediocridade, do rebanho formado por todos aqueles saudáveis e normais, e vulgares.

Se a loucura é o que faz de Kovrin um gênio, dono de ideias e visões que o diferenciam do restante dos mortais, é essa mesma loucura o que o castiga, distanciando-o de seus seres queridos, atormentando-o.

Contudo, a “vida normal”, como mais uma ovelha do rebanho, ainda vale a pena? Não era mais feliz, afinal, com a presença do monge negro, com as conversas e trocas, com a reafirmação de sua genialidade e inteligência?

É de maneira surpreendentemente concisa e objetiva que nos é revelado o conflito evidente que assola o protagonista. Sem floreios desnecessários nem excesso de explicações, a narrativa é econômica nas descrições. Mas nem por isso a trama perde em complexidade. A figura do “gênio louco” – atormentado justamente pelo que o torna grandioso – está lá. E perturba o leitor, deixando-o inquieto, a também questionar os atos e a direção tomada pelo protagonista.

Não nos enganemos perante a ausência de qualquer "análise profunda completamente mastigada": a matéria está toda ali, implícita e clara ao mesmo tempo, para que a modelemos em reflexões à medida que evolui a trama. Quanto aos personagens, estes não pedem julgamento. Compreendê-los, porém, não é tarefa árdua, ainda que não concordemos com a totalidade de suas ações.

Leitura acessível, agradável e bastante fluida, O Monge Negro atrai pela simplicidade com que apresenta um tema não tão simples assim – a oposição entre o senso-comum e a genialidade; o fardo que pode representar o conhecimento elevado; o que é a loucura? – e pela maneira como se desenrola a trama até alcançar seu derradeiro desfecho. Aliás, se podemos dizer que os finais trágico-felizes realmente existem, então é certo que Tchekhov nos brinda com um belo exemplar deles aqui.

O Monge Negro faz parte da Coleção Novelas Imortais, organizada e apresentada por Fernando Sabino. Além das capas bonitinhas (tinha que falar!), é uma boa maneira de ser apresentado a diversos grandes autores através de narrativas mais curtas.

LEIA PORQUE...
A aparente simplicidade da trama guarda significados profundos. Cabe ao leitor descortiná-los, tendo por motivação um protagonista dos mais instigantes.

DA EXPERIÊNCIA...
De leitura rápida, considerei O Monge Negro uma maneira acertada de começar a conhecer a obra de Tchekhov. Abriu o apetite para mais...

FEZ PENSAR EM...
Nas várias referências a Tchekhov nos livros da trilogia 1Q84, do Haruki Murakami.


Título: O Monge Negro
Título original: Tchiornii monarkh
Autor(a): Anton Tchekhov
Tradução: Moacir Werneck de Castro
Organização e apresentação: Fernando Sabino
Editora: Rocco - Jovens Leitores (Coleção Novelas Imortais)
Edição: 2012 (1ª edição na coleção: 1987)
Ano da obra: 1894
Páginas: 88
Onde comprar: Submarino | Fnac | Saraiva | Saraiva (eBook) | Livraria Cultura (eBook) | Amazon (edição Kindle)

Aline T.K.M.
Criou o Livro Lab há 12 anos e se dedicar a este projeto é uma das coisas que mais ama fazer, além de estar em contato com os mais variados tipos de expressões artísticas. Tem paixão por cinema, viajar e conhecer outras culturas. Ah, e ama ler em francês!

 

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2 comentários

  1. Ahhhh sua postagem me fez lembrar do livro hahahahaha, Ha um tempo atrás discutia sobre ele com uma amiga e fiquei tão presa na história que ela contava que anotei o nome do livro, mas deixei pra lá e perdi a anotação... hoje lendo sua resenha lembrei hahahaha já vou atrás antes que eu perca de novo.

    Beijos

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Essa história é mesmo muito boa, não? Foi a primeira coisa que li do Tchekhov e fiquei com a certeza de que quero ler mais do autor. =)

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