Um renomado cirurgião, um assaltante foragido, uma mulher prisioneira e submissa, um rapaz acorrentado num porão escuro. Como é que a existência desses indivíduos poderia, em dado momento, se tocar? Pois isso eu lhes digo: da mais louca e improvável das maneiras.
Thriller que inspirou o filme A pele que habito, do Almodóvar, Tarântula promete manter o nível de tensão nas alturas. Mantida presa em um dos quartos de uma mansão, Ève é objeto do ódio e do desejo de vingança de Richard Lafargue, que tem no sofrimento dela seu único apaziguamento. Em paralelo, acompanhamos o misterioso sequestro do jovem Vincent que, acorrentado em um cativeiro escuro, é mantido em condições subumanas; pouco a pouco, sequestrado e sequestrador avançam em uma estranha relação. Para completar, ainda temos Alex, o criminoso que precisa a todo custo arrumar uma maneira de sumir do mapa; e também Viviane, filha do Doutor Lafargue, que vive em um hospício.
Neste thriller, cada peça é meticulosamente moldada e trabalhada, para só então ser revelada. O resultado é um quebra-cabeça perfeito cuja imagem – surpreendente – é construída às custas da angústia e arrebatamento do leitor.
Ah, o leitor..., pobre dele que nem sequer imagina o que o espera aqui. O autor, como a própria tarântula do título, mostra-se capaz de tecer uma intrincada teia, a armadilha ideal para atar cada personagem e também o leitor. Armadilha da qual, aliás, nenhum deles sairá ileso.
Não é apenas a trama que cultiva e mantém a tensão em permanência; também a narrativa cumpre papel de destaque aí. Estrutura interessante: o narrador ora nos conta a história em terceira pessoa ora se dirige diretamente ao personagem, qual um observador cruel e onisciente, que relata a um impotente sequestrado tudo o que lhe aconteceu para que chegasse aonde chegou. E acredite, o porão e as correntes são só o início.
Em todo caso, sinto que preciso adverti-los: a leitura dos que já assistiram à adaptação do Almodóvar será bem diferente daquela do leitor que chegou zerado, sem nada saber exceto a sinopse. Apesar de livro e filme terem suas divergências, a essência da trama é uma só. Já tendo visto o filme – mais de uma vez, aliás –, fui sacando antecipadamente grande parte do que estava acontecendo na trama. E mesmo assim me surpreendi: tudo ali é muito bem bolado. Agora, imagino o que devem sentir aqueles que não viram o filme e, portanto, não conhecem a história. Loucura total!
Outro aviso: não se deixem enganar pela quantidade modesta de páginas. Um bom thriller é aquele que libera aos poucos cada peça do quebra-cabeça, mas sem encaixá-la (cabe ao leitor fazê-lo), culminando numa imagem ainda mais assustadora do que cada peça sozinha permite entrever. O número de páginas é mero detalhe aqui.
Leiam Tarântula, mas estejam preparados: não há escolha senão permitir-se envolver e entrar na loucura da trama e de cada um de seus elementos.
LEIA PORQUE...
Tarântula é um thriller dos bons. Tem gente perturbada, mentes doentias, tem mistério e é macabro. E inspirou um filme do Almodóvar.DA EXPERIÊNCIA...
Apesar de conhecer de antemão todo o mistério que esconde a trama por já ter visto o filme, me surpreendeu a força da narrativa e a construção cuidadosa de cada etapa da história.FEZ PENSAR EM...
Se ninguém menos que Franck Thilliez recomenda o livro (falei disso quando listei 5 motivos para ler Franck Thilliez), o negócio só podia valer a pena. Valeu, e muito.QUANTO VALE?
Título: Tarântula
Título original: Mygale
Autor(a): Thierry Jonquet
Tradução: André Telles
Editora: Record
Edição: 2011
Ano da obra: 1984
Páginas: 160
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Aline T.K.M.
Criou o Livro Lab há 12 anos e se dedicar a este projeto é uma das coisas que mais ama fazer, além de estar em contato com os mais variados tipos de expressões artísticas. Tem paixão por cinema, viajar e conhecer outras culturas. Ah, e ama ler em francês!
4 comentários
Esse livro é incrível! Também li este ano e, mesmo já conhecendo a história por causa do filme, não consegui desgrudar. Uma combinação perfeita de escrita instigante e personagens perturbados, né?
ResponderExcluirbjo
Você traduziu perfeitamente o que é o livro! Gostei muito do filme (amo Almodóvar!) e o livro me prendeu de uma maneira incrível. Adoro gente perturbada - nos livros, claro hehe. Bj!
ExcluirNão sabia que o filme tinha se inspirado em um livro? Só por isso eu já leria Tarântula pois o filme é realmente muito bom e pelo visto o livro é melhor ainda. Vou ler.
ResponderExcluirBeijos
Passaporte Literário
Então, eu descobri depois de ter visto o filme, e aí fiquei louca para ler. Se você curtiu a resenha, lê sim o livro, ele vai te surpreender com certeza. Bj.
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