Resenha: F, de Antônio Xerxenesky
Antônio Xerxenesky 16 de dezembro de 2014 Aline T.K.M. Nenhum comentário
F, o segundo romance de Antônio Xerxenesky – que esteve entre os melhores jovens escritores brasileiros pela Revista Granta –, fala de morte, incursiona pelo conceito de arte e revela uma protagonista incomum enquanto celebra o cinema.
O ano é 1985. Uma voz contrata Ana para acabar com a vida do cineasta Orson Welles. Tendo deixado o Brasil em plena ditadura e ainda adolescente para viver em Los Angeles, Ana é levada pelo destino e por um talento inato com armas a tornar-se assassina de aluguel. Aos 25 anos – quando é contratada para matar Welles –, ela já goza de uma reputação respeitável em sua área; “artista da morte”, a moça seleciona os seus trabalhos e busca sempre por soluções criativas e até cinematográficas para levar a cabo seus assassinatos encomendados.
Só que ela pouco sabe sobre cinema. Por isso, passa por um período de “pesquisa” sobre Orson Welles em Paris, assistindo aos filmes numa mostra dedicada ao cineasta na Cinémathèque Française, onde tem a oportunidade de ver Cidadão Kane (filme que marcou para sempre o cinema mundial) na telona.
Por falar abundantemente de Orson Welles e seus filmes, F cai nas graças dos cinéfilos. Ambientado em sua maior parte nos Estados Unidos e em Paris na década de 80, também traz a atmosfera introspectiva e sombria do pós-punk, cheio de referências à música do Joy Division e à figura inesquecível do ex-vocalista Ian Curtis.
Mas, sobretudo, F é a história de sua protagonista. Na contramão dos estereótipos, Ana é independente e solitária, não tem muitos amigos nem mostra qualquer interesse no amor. Viu coisas que não deveria ter visto, já mentiu e já matou um par de vezes; e, apesar de precisar, não deixa que ninguém adentre os espessos muros que envolvem sua vida pessoal e seus sentimentos.
Também narradora, Ana nos conta os dias de planejamento do assassinato de Welles, enquanto demonstra um interesse cada vez maior pelo cinema e seus filmes. Gosta especialmente de F for Fake, último filme completo do cineasta, no qual ele próprio repete várias vezes um verso de um poema de Rudyard Kipling: “It’s pretty, but is it art?”, que acaba se tornando uma espécie de mantra, dito e repetido por Ana durante toda a trama para classificar o que quer que seja. No meio disso tudo, flashbacks oportunos nos elucidam a respeito da infância e adolescência da protagonista no Rio de Janeiro, os segredos de seu pai e a ida para Los Angeles.
Ainda que essencialmente sobre Ana, a trama introduz outros personagens que, mesmo que superficiais, cumprem papel importante no decorrer dos acontecimentos. O tio da protagonista é um deles, bem como Michel e Antoine (chamado assim por causa de Os Incompreendidos – amei!), que passam a acompanhar Ana.
Com narrativa objetiva e sucinta, F exala ondas de delírio. Aqui, realidade e alucinação parecem confundir-se – e quem dirá se não são, de fato, mescladas na vida real? F dá uma pequena aula sobre o cinema de Orson Welles, ao mesmo tempo que nos regala uma protagonista complexa e fascinante.
Instigante, repleto de referências à cultura pop dos anos 80, reflexivo. É bonito, sim. Mas é arte? Pouco importa. As fronteiras entre a arte e a não arte abarcam muito mais do que podemos conceber.
Na reta final do ano, vem esse tal de Xerxenesky e me cativa dessa forma. Ler mais dele virou necessidade!
E não podia deixar de fora... "Dead Souls" (Joy Division):
O ano é 1985. Uma voz contrata Ana para acabar com a vida do cineasta Orson Welles. Tendo deixado o Brasil em plena ditadura e ainda adolescente para viver em Los Angeles, Ana é levada pelo destino e por um talento inato com armas a tornar-se assassina de aluguel. Aos 25 anos – quando é contratada para matar Welles –, ela já goza de uma reputação respeitável em sua área; “artista da morte”, a moça seleciona os seus trabalhos e busca sempre por soluções criativas e até cinematográficas para levar a cabo seus assassinatos encomendados.
Só que ela pouco sabe sobre cinema. Por isso, passa por um período de “pesquisa” sobre Orson Welles em Paris, assistindo aos filmes numa mostra dedicada ao cineasta na Cinémathèque Française, onde tem a oportunidade de ver Cidadão Kane (filme que marcou para sempre o cinema mundial) na telona.
Por falar abundantemente de Orson Welles e seus filmes, F cai nas graças dos cinéfilos. Ambientado em sua maior parte nos Estados Unidos e em Paris na década de 80, também traz a atmosfera introspectiva e sombria do pós-punk, cheio de referências à música do Joy Division e à figura inesquecível do ex-vocalista Ian Curtis.
Mas, sobretudo, F é a história de sua protagonista. Na contramão dos estereótipos, Ana é independente e solitária, não tem muitos amigos nem mostra qualquer interesse no amor. Viu coisas que não deveria ter visto, já mentiu e já matou um par de vezes; e, apesar de precisar, não deixa que ninguém adentre os espessos muros que envolvem sua vida pessoal e seus sentimentos.
Também narradora, Ana nos conta os dias de planejamento do assassinato de Welles, enquanto demonstra um interesse cada vez maior pelo cinema e seus filmes. Gosta especialmente de F for Fake, último filme completo do cineasta, no qual ele próprio repete várias vezes um verso de um poema de Rudyard Kipling: “It’s pretty, but is it art?”, que acaba se tornando uma espécie de mantra, dito e repetido por Ana durante toda a trama para classificar o que quer que seja. No meio disso tudo, flashbacks oportunos nos elucidam a respeito da infância e adolescência da protagonista no Rio de Janeiro, os segredos de seu pai e a ida para Los Angeles.
Ainda que essencialmente sobre Ana, a trama introduz outros personagens que, mesmo que superficiais, cumprem papel importante no decorrer dos acontecimentos. O tio da protagonista é um deles, bem como Michel e Antoine (chamado assim por causa de Os Incompreendidos – amei!), que passam a acompanhar Ana.
Com narrativa objetiva e sucinta, F exala ondas de delírio. Aqui, realidade e alucinação parecem confundir-se – e quem dirá se não são, de fato, mescladas na vida real? F dá uma pequena aula sobre o cinema de Orson Welles, ao mesmo tempo que nos regala uma protagonista complexa e fascinante.
Instigante, repleto de referências à cultura pop dos anos 80, reflexivo. É bonito, sim. Mas é arte? Pouco importa. As fronteiras entre a arte e a não arte abarcam muito mais do que podemos conceber.
LEIA PORQUE
Cinema, personalidades visionárias e trama introspectiva. Curte? Então esse livro é para você!DA EXPERIÊNCIA
Foi incrível ver Joy Division no livro! Gostava muito da banda – ainda gosto –, e faz tanto tempo que não ouço!Na reta final do ano, vem esse tal de Xerxenesky e me cativa dessa forma. Ler mais dele virou necessidade!
FEZ PENSAR EM
O conceito de arte e discussões acerca disso. Leiam A libélula dos seus oito anos, livro incrível que aborda o tema.E não podia deixar de fora... "Dead Souls" (Joy Division):
Onde comprar: Amazon
Título: F
Autor(a): Antônio Xerxenesky
Editora: Rocco
Edição: 2014
Ano da obra: 2014
Páginas: 240
Aline T.K.M.
Criou o Livro Lab há 12 anos e se dedicar a este projeto é uma das coisas que mais ama fazer, além de estar em contato com os mais variados tipos de expressões artísticas. Tem paixão por cinema, viajar e conhecer outras culturas. Ah, e ama ler em francês!
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