Resenha: Quem se lembra de David Foenkinos?, de David Foenkinos
David Foenkinos 8 de dezembro de 2014 Aline T.K.M. 2 comentários
O escritor em crise. Em torno desta imagem gira a trama “autoficcional” de Quem se lembra de David Foenkinos?, sexto livro do autor francês David Foenkinos. Após o sucesso de sua obra de estreia, seguiram-se romances que não emplacaram, e o escritor foi caindo no esquecimento do público. Mas, por que fracassara? Será que a inspiração para um novo romance incrível não voltará a surgir?
David Foenkinos persiste. Ele acredita que a grande ideia está para surgir. E ela de fato surge, durante o trajeto Genebra-Paris de trem, só que lhe foge da cabeça de maneira igualmente repentina.
Enquanto a tal ideia genial não volta a aparecer – e ele tem certeza de que voltará –, David mergulha num poço cada vez mais fundo. O casamento em vias de desmoronar, a constatação de que a filha já é uma pessoa adulta, a aproximação da velhice, a insegurança e falta de autoconfiança. Mas ele está disposto a tudo para recuperar a ideia perdida e fazer com que todos voltem a se lembrar dele.
Que a figura do escritor é coberta de romantismo e idealizações, todos nós sabemos. E que o escritor em crise criativa, por sua vez, não é tema dos mais inovadores, disso também sabemos. Foenkinos, no entanto, consegue se deslocar do lugar-comum ao colocar a si mesmo no centro de sua ficção. Usando de ironia, ele expõe sua própria situação – o escritor esquecido, cujos últimos romances não obtiveram êxito – e entra na pele do protagonista da trama; ou vice-versa. Um artifício por si só bastante curioso, eu diria.
Se para o leitor tal proposta tem algo de louca, é melhor que vá se acostumando: a David Foenkinos (o personagem) não lhe faltam ideias assim meio fora da curva, bem como atitudes às vezes impensadas, para o deleite de quem lê. Apesar disso, a sucessão de revezes faz com que o narrador-protagonista dirija um olhar mais apurado à própria vida e aos que fazem parte dela, desembocando num caminho para o autoconhecimento e para a correção de alguns erros que vinha cometendo mesmo sem perceber.
Afinal, foi preciso que o David Foenkinos-personagem chegasse ao fracasso para notar o comodismo e a cegueira cotidiana em sua vida. Para ser impelido a tomar algumas atitudes, que no fim só podem fazer bem a todos. Já o David Foenkinos-autor, com a prosa ágil e saborosa de sempre, soube fazer de um período crítico de sua carreira de escritor algo realmente digno de atenção, tirando o melhor proveito do caos.
Finda a leitura, não pude deixar de me questionar: como é que foram capazes de algum dia esquecer um autor como David Foenkinos?
David Foenkinos persiste. Ele acredita que a grande ideia está para surgir. E ela de fato surge, durante o trajeto Genebra-Paris de trem, só que lhe foge da cabeça de maneira igualmente repentina.
Enquanto a tal ideia genial não volta a aparecer – e ele tem certeza de que voltará –, David mergulha num poço cada vez mais fundo. O casamento em vias de desmoronar, a constatação de que a filha já é uma pessoa adulta, a aproximação da velhice, a insegurança e falta de autoconfiança. Mas ele está disposto a tudo para recuperar a ideia perdida e fazer com que todos voltem a se lembrar dele.
Que a figura do escritor é coberta de romantismo e idealizações, todos nós sabemos. E que o escritor em crise criativa, por sua vez, não é tema dos mais inovadores, disso também sabemos. Foenkinos, no entanto, consegue se deslocar do lugar-comum ao colocar a si mesmo no centro de sua ficção. Usando de ironia, ele expõe sua própria situação – o escritor esquecido, cujos últimos romances não obtiveram êxito – e entra na pele do protagonista da trama; ou vice-versa. Um artifício por si só bastante curioso, eu diria.
Se para o leitor tal proposta tem algo de louca, é melhor que vá se acostumando: a David Foenkinos (o personagem) não lhe faltam ideias assim meio fora da curva, bem como atitudes às vezes impensadas, para o deleite de quem lê. Apesar disso, a sucessão de revezes faz com que o narrador-protagonista dirija um olhar mais apurado à própria vida e aos que fazem parte dela, desembocando num caminho para o autoconhecimento e para a correção de alguns erros que vinha cometendo mesmo sem perceber.
Afinal, foi preciso que o David Foenkinos-personagem chegasse ao fracasso para notar o comodismo e a cegueira cotidiana em sua vida. Para ser impelido a tomar algumas atitudes, que no fim só podem fazer bem a todos. Já o David Foenkinos-autor, com a prosa ágil e saborosa de sempre, soube fazer de um período crítico de sua carreira de escritor algo realmente digno de atenção, tirando o melhor proveito do caos.
Finda a leitura, não pude deixar de me questionar: como é que foram capazes de algum dia esquecer um autor como David Foenkinos?
LEIA PORQUE
A vida imita a arte e a arte imita a vida. E porque é David Foenkinos e sua escrita é uma delícia de ler – para quem não lembra, ele é o autor de A Delicadeza, que foi adaptado para o cinema e tem Audrey Tautou como protagonista.DA EXPERIÊNCIA
Já era fã do autor; agora, mais ainda!FEZ PENSAR EM
Viagens de trem, o destino e as peças que ele nos prega.
Onde comprar: Amazon
Título: Quem se lembra de David Foenkinos?
Título original: Qui se souvient de David Foenkinos?
Autor(a): David Foenkinos
Tradução: Rejane Janowitzer
Editora: Rocco
Edição: 2009
Ano da obra: 2007
Páginas: 160
Aline T.K.M.
Criou o Livro Lab há 12 anos e se dedicar a este projeto é uma das coisas que mais ama fazer, além de estar em contato com os mais variados tipos de expressões artísticas. Tem paixão por cinema, viajar e conhecer outras culturas. Ah, e ama ler em francês!
2 comentários
Oi Aline!
ResponderExcluirSua resenha está bem detalhada, o que permite ao leitor do blog decidir se é uma leitura que entrará para a lista ou não. No meu caso, eu confesso que o livro parece um pouco dramático e apela para a vida do personagem/escritor. Não sei se estou no melhor momento pra este tipo de história (além do mais, confesso também que não li nada do escritor - e nem vi o filme).
Beijão!
Oie!! Na verdade, a história é sim dramática, mas tem um teor irônico forte (como todos os livros dele), então o resultado fica mais sarcástico do que triste. Em muitos momentos é um livro engraçado até.
ExcluirQuanto aos outros livros, se você tiver oportunidade, leia A Delicadeza e veja o filme também (é com a Audrey Tautou!), é lindo demais!