Depois de ler o filho – Antonio Prata, em Nu, de botas –, já estava mais que na hora de ler o pai. Foi com Sete de Paus que o cronista, dramaturgo, escritor e jornalista Mario Prata fez sua estreia no gênero policial, em 2008.
Um professor da Universidade Federal de Florianópolis aparece morto com um tiro na testa e o próprio pênis enfiado na boca, além de uma carta de baralho – um sete de paus – pousada na virilha. Pelas paisagens lindas de Florianópolis, percorrendo o Brasil, e dando um pulo até Cabo Verde, na África, o agente federal Ugo Fioravanti Neto (Fiora para os amigos) e seu jovem parceiro Darwin Matarazzo irão até o fim para desvendar esse mistério. E não há tempo a perder, pois tudo indica que seis outros homens estão fadados ao mesmo fim que o professor.
Este primeiro livro da saga Fioravante – o segundo é Os Viúvos (2010) – é uma verdadeira homenagem aos grandes nomes da literatura policial. Além das citações dos detetives clássicos na abertura dos capítulos, durante toda a narrativa somos surpreendidos por referências e até parágrafos inteiros retirados (ou surrupiados, como diz o próprio autor) de célebres romances policiais. Não se preocupe se não reconhecê-los todos: há um posfácio inteiramente dedicado a isso, com os trechos transcritos e as respectivas obras e autores – Agatha Christie, Ruth Rendell, Dashiell Hammet, Georges Simenon, entre outros – dos quais se originam.
Agilidade e fluidez são as palavras de ordem no que diz respeito à narrativa. Sem perder muito tempo com longas descrições e apresentações ao longo da trama, mas ainda tratando de situar bem o leitor, todos os personagens (inclusive os “figurantes”) nos são apresentados em notas de rodapé. Curtinhas ou um pouco mais extensas, essas notas às vezes trazem verdadeiras minibiografias; outras, apenas algumas informações imprevisíveis e cômicas sobre a vidas e personalidade dos personagens um tanto peculiares. Peculiar, aliás, é eufemismo aqui: a gente desse livro é cheia de preferências, manias e até fetiches esquisitos e hilários; muito embora sabemos que, na realidade, todo ser humano carrega algum detalhe sórdido em sua bagagem.
Só que a grande estrela do livro é mesmo o humor – acompanhado de uma dose extra de sacanagem. Durante todo o desenrolar das investigações, é impossível parar de rir das tiradas e comentários dos personagens, em especial do Fiora e seu parceiro Darwin. Não se excluem nem mesmo os momentos mais “tensos”, quando o mistério está prestes a revelar-se; tudo é envolvido por uma grossa camada de humor politicamente incorreto.
Mas nem tudo é trabalho, trabalho e trabalho para o nosso protagonista. Fiora, que só consegue se envolver com mulheres “da vida”, conhece uma dinamarquesa “de bicos cor-de-rosa” que promete lhe virar a cabeça. E ainda aproveita os poucos momentos livres para divertir o filho pequeno, o Valentim, com a história do homem que soltava pum o tempo inteiro. Tudo isso enquanto trata de desvendar o enigma dos crimes cujas vítimas (e vítimas em potencial) são homens rechonchudos e endinheirados.
Trazendo comédia e frescor para os apreciadores do gênero policial, Sete de Paus é um livro para não ser levado muito a sério. E é isso que faz dele uma leitura imperdível.
LEIA PORQUE...
Sete de Paus tem sangue, mistério e humor nada inocente. E ainda homenageia autores e detetives célebres da literatura policial.DA EXPERIÊNCIA...
Ri do início ao fim, e comecei muito bem meu 2015 literário.FEZ PENSAR EM...
Agatha Christie. E histórias com serial killers – recomendo Zodíaco, a história verídica do assassinato em série que abalou os Estados Unidos nos anos 60 e 70.QUANTO VALE?
Título: Sete de Paus
Autor(a): Mario Prata
Editora: Planeta
Edição: 2008
Ano da obra: 2008
Páginas: 262
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Aline T.K.M.
Criou o Livro Lab há 12 anos e se dedicar a este projeto é uma das coisas que mais ama fazer, além de estar em contato com os mais variados tipos de expressões artísticas. Tem paixão por cinema, viajar e conhecer outras culturas. Ah, e ama ler em francês!
4 comentários
Nossa, gostei muito da sua resenha! Fiquei curiosa por conferir o livro.
ResponderExcluirBeijos!
Arrastando as Alpargatas
É hilário, recomendo demais! E para quem já é fã de policial, é leitura obrigatória. =) Bjão!
ExcluirEsse livro foi uma grata surpresa. Comprei numa promoção, sem muitas expectativas e me diverti demais! Os Viúvos consegue ser tão bom quanto, mantém as referências, o bom humor e um mistério divertido. Gostei muito também da sacada das biografias em notas de rodapé, enxugando o texto do livro em sim, mas nos situando a respeito dos personagens.
ResponderExcluirPra quem gosta de policiais e ainda não leu, super recomendo também :)
Ótima dica!
Bjos
Opa, gostei de saber que Os Viúvos segue na mesma linha, pretendo ler futuramente. =) Sete de Paus eu ganhei de um amigo blogueiro porque eu nunca havia lido nada do autor. Comecei a leitura totalmente "no escuro", sem saber o que iria encontrar, e adorei, muito engraçado e com uma boa história.
ExcluirBeijos!