‘A Acústica Perfeita’, de Daria Bignardi: escolhas e descobertas nem sempre desejadas | Resenha
Bertrand Brasil 29 de maio de 2015 Aline T.K.M. 3 comentários
O que você faria se sua esposa partisse sem muitas explicações, deixando para trás casa, marido e três filhos? Eis a premissa do delicado A Acústica Perfeita, da italiana Daria Bignardi, uma jornada de busca e descobertas nem sempre desejadas.
Página a página, conhecemos a história de Arno e Sara. Ainda no início da adolescência se conhecem e vivem uma paixão de verão. Dezesseis anos depois, o reencontro e a realização do amor latente, que culmina no casamento e nos três filhos do casal.
Arno é quem nos conta tudo, nos faz acompanhar o nascimento e o desenvolvimento desse amor, as alegrias, o casamento comemorado de maneira não muito convencional, o nascimento dos filhos. Quatro dias antes do Natal, porém, Sara desaparece. Como aviso, apenas um bilhete para o marido dizendo precisar ir embora e ficar sozinha, sair da gaiola que construiu para si.
Após treze anos vivendo juntos, o fato pega Arno de surpresa. Não tardam a iniciar os questionamentos, as dúvidas e incertezas de um relacionamento que, a princípio, era tido como perfeito. Violoncelista na prestigiada orquestra do Scala de Milão, Arno dedica-se inteiramente a seus dois bens mais preciosos: a música e a família. No entanto, será que as coisas são mesmo assim como ele vem enxergando até então? Sara, sua esposa, seu amor... Arno a conhece verdadeiramente?
O incômodo com a partida da mulher só faz aumentar. Juntando pistas, contatos e revirando histórias antigas, Arno empreende uma busca sem etapas muito claras. No caminho, dá-se o encontro com situações, traumas e sentimentos furtivos, ocultos e dissimulados até então. Sara é mais complexa do que aparenta, mais complexa do que Arno poderia imaginar.
Aos poucos, vemos surgir esse retrato que Arno nos vai traçando, o retrato de um amor, de uma relação, de uma mulher. Talentosa, de muitos movimentos e vontades, a Sara que toma forma perante o leitor é nova também para o marido. Mulher forte, mas que porta inúmeras questões pendentes em sua vida e alma; que guarda dentro de si segredos e asas que a vida tratou de podar. Uma mulher cujo interior é um lugar sombrio e conturbado. E – motivo de fascínio – uma mulher à qual, como leitores, não temos acesso direto: sua imagem nos é construída apenas e completamente a partir do relato de Arno e do que ele descobre, que lhe é contado por terceiros.
Narrador e personagem, a voz é sempre a de Arno – exceto nas raras mensagens deixadas por Sara. Perante a descoberta de segredos, mentiras e omissões, Arno volta o olhar também para si. A busca, então, torna-se dupla; ao procurar pela mulher, uma transformação importante ocorre dentro dele, fazendo emergir questões que precisam ser respondidas: o que é realmente importante e indispensável em sua própria vida?
Afinal, um acontecimento ruim nem sempre é de todo maléfico – há males necessários, como já sabemos. Bem escrito e envolvente sem cair no sentimentaloide, o livro faz pensar na vida e nas escolhas, no peso que se opta por carregar durante muito tempo e que, uma hora, precisa de alívio.
Ao leitor ansioso, a questão com este livro é a seguinte: não espere por grandes respostas e reviravoltas, nem por um desfecho mirabolante. Muitas vezes as coisas simplesmente são como são. De sabor agridoce, A Acústica Perfeita imita a vida: não é permanentemente doce, tampouco de desolado amargor – tudo depende da maneira como se escolhe saborear.
Antes ou depois da leitura, uma dica: olhem atrás das capas/orelhas do livro, vai fazer todo o sentido!
Página a página, conhecemos a história de Arno e Sara. Ainda no início da adolescência se conhecem e vivem uma paixão de verão. Dezesseis anos depois, o reencontro e a realização do amor latente, que culmina no casamento e nos três filhos do casal.
Arno é quem nos conta tudo, nos faz acompanhar o nascimento e o desenvolvimento desse amor, as alegrias, o casamento comemorado de maneira não muito convencional, o nascimento dos filhos. Quatro dias antes do Natal, porém, Sara desaparece. Como aviso, apenas um bilhete para o marido dizendo precisar ir embora e ficar sozinha, sair da gaiola que construiu para si.
Após treze anos vivendo juntos, o fato pega Arno de surpresa. Não tardam a iniciar os questionamentos, as dúvidas e incertezas de um relacionamento que, a princípio, era tido como perfeito. Violoncelista na prestigiada orquestra do Scala de Milão, Arno dedica-se inteiramente a seus dois bens mais preciosos: a música e a família. No entanto, será que as coisas são mesmo assim como ele vem enxergando até então? Sara, sua esposa, seu amor... Arno a conhece verdadeiramente?
O incômodo com a partida da mulher só faz aumentar. Juntando pistas, contatos e revirando histórias antigas, Arno empreende uma busca sem etapas muito claras. No caminho, dá-se o encontro com situações, traumas e sentimentos furtivos, ocultos e dissimulados até então. Sara é mais complexa do que aparenta, mais complexa do que Arno poderia imaginar.
Aos poucos, vemos surgir esse retrato que Arno nos vai traçando, o retrato de um amor, de uma relação, de uma mulher. Talentosa, de muitos movimentos e vontades, a Sara que toma forma perante o leitor é nova também para o marido. Mulher forte, mas que porta inúmeras questões pendentes em sua vida e alma; que guarda dentro de si segredos e asas que a vida tratou de podar. Uma mulher cujo interior é um lugar sombrio e conturbado. E – motivo de fascínio – uma mulher à qual, como leitores, não temos acesso direto: sua imagem nos é construída apenas e completamente a partir do relato de Arno e do que ele descobre, que lhe é contado por terceiros.
Narrador e personagem, a voz é sempre a de Arno – exceto nas raras mensagens deixadas por Sara. Perante a descoberta de segredos, mentiras e omissões, Arno volta o olhar também para si. A busca, então, torna-se dupla; ao procurar pela mulher, uma transformação importante ocorre dentro dele, fazendo emergir questões que precisam ser respondidas: o que é realmente importante e indispensável em sua própria vida?
Afinal, um acontecimento ruim nem sempre é de todo maléfico – há males necessários, como já sabemos. Bem escrito e envolvente sem cair no sentimentaloide, o livro faz pensar na vida e nas escolhas, no peso que se opta por carregar durante muito tempo e que, uma hora, precisa de alívio.
Ao leitor ansioso, a questão com este livro é a seguinte: não espere por grandes respostas e reviravoltas, nem por um desfecho mirabolante. Muitas vezes as coisas simplesmente são como são. De sabor agridoce, A Acústica Perfeita imita a vida: não é permanentemente doce, tampouco de desolado amargor – tudo depende da maneira como se escolhe saborear.
LEIA PORQUE
O livro fala de escolhas, de segredos e de consequências. Além de que, como mencionei anteriormente, é fascinante ir juntando as peças do quebra-cabeça que é Sara.DA EXPERIÊNCIA
Pode até ser broxante para alguns, mas é fato que o final é bastante coerente com tudo o que foi construído durante a narrativa.Antes ou depois da leitura, uma dica: olhem atrás das capas/orelhas do livro, vai fazer todo o sentido!
FEZ PENSAR EM...
Uma música que eu amo... “The ice is getting thinner”, do Death Cab For Cutie.
Onde comprar: Amazon
Título: A Acústica Perfeita
Título original: L’Acustica Perfetta
Autor(a): Daria Bignardi
Tradução: Joana Angélica d’Avila Melo
Editora: Bertrand Brasil
Edição: 2015
Ano da obra: 2012
Páginas: 210
Aline T.K.M.
Criou o Livro Lab há 12 anos e se dedicar a este projeto é uma das coisas que mais ama fazer, além de estar em contato com os mais variados tipos de expressões artísticas. Tem paixão por cinema, viajar e conhecer outras culturas. Ah, e ama ler em francês!
3 comentários
Oi, Aline! :) Eu estava aguardando essa resenha. É bem o tipo de livro que eu gosto. Mesmo que o foco não seja um grande desfecho, me apetece aquele ar de mistério e descobertas. Às vezes é bem o que acontece mesmo no cotidiano. A rotina acaba conduzindo o casal a uma falsa impressão de que tudo é perfeito e muitas vezes os dois preferem fechar os olhos para os desgastes da relação, para as dificuldades do dia a dia e etc. Talvez para evitar as consequências, mal sabendo que é o que mais trás problemas. Não sei se é exatamente o que acontece no livro, mas lembrei um pouco de "O Começo do Adeus", de Anne Tyler.
ResponderExcluirEu lembro que, na época, até guardei essa quote:
"(...) - Pelo que você está passando, Dorothy?
Ela olhou para mim de novo e disse:
- É tarde demais para dizer pelo que estou passando. (...)" p. 155
Bjs ;)
Ana! Gostei muito do seu comentário, sabe. Eu não li O Começo do Adeus, acabei sorteando-o no blog, mas no geral gosto de temas sobre relacionamentos, especialmente quando abordam a parte não tão "bonita" da coisa toda. Também não acho que um final do tipo "ohhhh" seja imprescindível; a vida muitas vezes deixa dúvidas e aquela sensação insossa diante de muitas situações, e gosto quando algum livro vai por este caminho, trazendo consigo uma reflexão.
ExcluirUm beijão!
Oi, Renato! Pois é, é um livro que recomendo. Gostei do tema desde que li a sinopse, mas não tinha ideia do que esperar dele exatamente. O fato é que o livro me tocou e surpreendeu. Gostei.
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