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Quote da quinzena: A Visita Cruel do Tempo

Jennifer Egan 2 de novembro de 2015 Aline T.K.M. 2 comentários


Jennifer Egan é fodástica e quem não concordar que se manifeste. Pronto, falei. Adoro a tom cru, perverso, com que a autora conduz a trama e seus personagens, meros peões no jogo da vida. Essa característica é muito evidente em A Visita Cruel do Tempo, livro ao qual pertencem estes quotes que eu trouxe para vocês nesta primeira quinzena de novembro.

Ganhador do Pulitzer 2011, A Visita Cruel do Tempo traz várias histórias intercaladas, pessoas cujas vidas se esbarram em algum momento. Não dá para simplesmente definir uma sinopse única e definitiva para o livro, uma vez que as tramas caminham em paralelo e têm suas particularidades. Em todas elas temos o tempo que passa, cruel e silencioso. Dos anos 70 até 2030, e repleto de referências musicais, o livro – o maior sucesso de Jennifer Egan até hoje – é daqueles que eu classifico como leitura obrigatória. Isto é um fato e não estou aberta a discussões! (Rsrsrs mentira, sempre estou aberta a novas discussões e pontos de vista, mas tinha que fazer esse final um pouco mais dramático!)

Disse tudo isso, mas só trouxe alguns poucos trechos do romance. É, acontece. Mas isso é para deixá-los com a curiosidade mais aguçada (será que consigo?) e para sentirem um gostinho do tom do livro. Então... fiquem com os quotes:

Lou passa o braço em volta de Rolph. Se ele fosse um homem introspectivo, teria entendido anos antes que o filho é a única pessoa no mundo com o poder de acalmá-lo. E que, embora torça para Rolph ser igual a ele, aquilo de que mais gosta no filho são as suas muitas diferenças: um rapaz calado, pensativo, conectado com a natureza e com as dores dos outros.
[...]
[...]. Aos 11 anos de idade, Rolph tem certeza de duas coisas em relação a si mesmo: ele pertence ao pai. E o pai lhe pertence. Ficam os dois parados, cercados pela selva cheia de sussurros. O céu está apinhado de estrelas. Rolph fecha os olhos e torna a abri-los. Vou me lembrar desta noite pelo resto da vida, pensa ele. E está certo.

É verdade: já fazia algum tempo que eu não aparecia muito em público. Mas seria esse fato ainda relevante na nossa “era da informação”, quando se podia percorrer o planeta Terra e até o Universo inteiro sem se levantar do sofá de veludo verde que você tinha catado em uma lixeira na rua e transformado no principal móvel de seu apartamento na rua Seis, lado leste?

Vocês acabam indo parar no after de uma boate que Bix conhece na Ludlow, cheia de pessoas doidas demais para ir para casa. Todos dançam juntos, subdividindo o espaço entre o agora e o amanhã até o tempo parecer andar para trás. Você divide um baseado forte com uma garota de franja bem curta que deixa a testa reluzente de fora. Ela dança muito perto de você, com os braços em volta do seu pescoço, e Drew grita na sua orelha por cima da música:
- Ela quer ir para casa com você, Rob. – Depois de algum tempo, no entanto, a garota desiste, ou então esquece... ou é você quem esquece, e ela some.
O céu está começando a clarear quando vocês três saem da boate. Caminham juntos rumo ao norte até o Leshko’s da avenida A para comer ovos mexidos e pilhas de batatas fritas, depois cambaleiam, de barriga cheia, de volta para a rua, que parece balançar. Bix está entre você e Drew, com um braço em volta de cada um. Escadas de incêndio pendem das laterais dos prédios. Um fraco sino de igreja começa a tocar, e você se lembra: é domingo.

A obra mostrava o instante em que Eurídice é obrigada a descer ao mundo dos mortos pela segunda vez, quando ela e Orfeu estão se despedindo. O que deixava Ted emocionado, como se esmigalhasse um vidro delicado que ele trouxesse no peito, era o silêncio daquela cena, a ausência de drama ou de lágrimas enquanto o casal se encarava, tocando-se delicadamente. Ele sentia entre os dois uma compreensão demasiado profunda para ser articulada: a consciência indizível de que tudo está perdido.

Ela havia crescido. E tão irrefutável era essa idade adulta, tão exuberante o conjunto formado por seios, quadris e cintura levemente marcada, tão experiente o gesto de bater a cinza do cigarro, que Ted apreendeu essa mudança como se ela tivesse sido instantânea. Um milagre.

Trechos retirados do livro A Visita Cruel do Tempo, de Jennifer Egan.

Aline T.K.M.
Criou o Livro Lab há 12 anos e se dedicar a este projeto é uma das coisas que mais ama fazer, além de estar em contato com os mais variados tipos de expressões artísticas. Tem paixão por cinema, viajar e conhecer outras culturas. Ah, e ama ler em francês!

 

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2 comentários

  1. As quotes são ótimas! Eu nunca tinha ouvido falar do livro, mas me interessei nele. E a capa dele, mais parece uma obra de arte do que a capa de um livro rsrsrs

    Decidindo-se

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    Respostas
    1. Oi Vinícius, esse livro é daqueles que eu recomendo sem pensar duas vezes. É o mais conhecido da Jennifer Egan, autora que admiro bastante. A capa é mesmo linda! ^^ Bjs!

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