Quote da quinzena: O Livro Amarelo do Terminal
Cosac Naify 8 de março de 2016 Aline T.K.M. 2 comentáriosMULHERES, parabéns pelo nosso dia - mais uma lembrança de que o que vale não é sermos lembradas num único dia, mas respeitadas durante todos os outros 364. E, olha só, os quotes desta quinzena são de um livro incrível de uma autora brasileira com um currículo bem respeitável, que inclui a revista Piauí, o jornal O Estado de S. Paulo, o New York Times e a Folha de S.Paulo.
Diferente, bem humorado e repleto de causos, assim é O Livro Amarelo do Terminal (prêmio Jabuti de reportagem). Nele, a autora Vanessa Barbara descortina histórias de gente real, que tem em comum a passagem pelo Terminal Rodoviário do Tietê, em São Paulo. O terminal, aliás, é a uma só vez protagonista e cenário, testemunha ocular e auditiva de tantas histórias, de tantas vidas.
Misturando crônica e reportagem, o livro adentra a vida do pessoal que circula ou que trabalha no local, mas também conta com fragmentos de reportagens relacionadas à construção e inauguração do terminal, e até fala sobre um grupo de admiradores de ônibus, chamados de busólogos.
Curiosos? Então acompanhem os quotes do livro que separei abaixo e, depois, não se esqueçam de relembrar a resenha.
A rodoviária do Tietê é uma cidade de chicletes abandonados, de pessoas com pressa e de coisas perdidas.
Desnorteados, os passageiros andam em círculos ao desembarcar. Se encontram o balcão de informações, é provável que se ajoelhem e agradeçam aos céus. Parece inacreditável que, em uma cidade como São Paulo, exista gente disposta a prestar atenção no que os outros dizem e a tentar ajudar as pessoas com todo o interesse.
Mas já é hora de ir para casa, e Rosângela conclui, filosoficamente, enquanto vai arrumando as coisas: “Tem pessoas aqui no Tietê que marcam a sua vida de verdade”. Ainda sorrindo, completa: “Ao contrário de tantas outras, que só passam e perguntam onde é o guichê da Cometa”.
O governador Carlos Alberto Alves de Carvalho Pinto (1910-87) era uma figura pacata e atarefada. Talvez fosse distraído. Enquanto se ocupava em ser ministro da Fazenda, em criar a Fapesp, em receber o título de cidadão osasquense ou em escrever Hermenêutica das leis fiscais, não fazia a menor ideia de que viraria nome de rodoviária, justamente do maior terminal da América Latina, batizado em 1982 de Terminal Rodoviário Governador Carvalho Pinto. Não podia imaginar, o pobrezinho. Como também não imaginam as 66 mil pessoas que circulam diariamente por lá.
Sim, você conhece o biólogo, camarada de avental e microscópio, especialista em analisar a estrutura do balanoglossus e das 23 espécies de mosca-da-fruta. Você conhece o podólogo e suas massagens na planta dos pés. Você conhece o etnólogo, o egiptólogo, o arqueólogo, o psicólogo. Dificilmente topou com um busólogo.
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Uma das principais metas dos busólogos modernos é buscar o reconhecimento da sociedade, combatendo a ideia de que busologia é “coisa de pobre”, já que aos ricos caberia o amor pelos automóveis.
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A obsessão pelos coletivos no Brasil remonta ao ano de 1979, com a criação do Clube do Design de Ônibus (CDO), entidade civil formada por colecionadores e admiradores de carrocerias. O fundador foi o designer de ônibus Hélio Oliveira, da Thamco, que projetou o primeiro veículo de dois andares do país e possui um acervo de 13 mil fotos de coletivos. Em 1986, Hélio começou a ser chamado de “busólogo” entre os amigos e popularizou o termo. Em 2000, foi criada a União dos Busólogos Brasileiros (UBB), que se gaba de possuir o maior grupo de discussão sobre ônibus do mundo: são 329 assinaturas e 500 mensagens trocadas por mês. Muitas das associações ligadas à UBB promovem encontros periódicos entre busólogos, com visitas guiadas a terminais e garagens.
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Uma das principais metas dos busólogos modernos é buscar o reconhecimento da sociedade, combatendo a ideia de que busologia é “coisa de pobre”, já que aos ricos caberia o amor pelos automóveis.
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A obsessão pelos coletivos no Brasil remonta ao ano de 1979, com a criação do Clube do Design de Ônibus (CDO), entidade civil formada por colecionadores e admiradores de carrocerias. O fundador foi o designer de ônibus Hélio Oliveira, da Thamco, que projetou o primeiro veículo de dois andares do país e possui um acervo de 13 mil fotos de coletivos. Em 1986, Hélio começou a ser chamado de “busólogo” entre os amigos e popularizou o termo. Em 2000, foi criada a União dos Busólogos Brasileiros (UBB), que se gaba de possuir o maior grupo de discussão sobre ônibus do mundo: são 329 assinaturas e 500 mensagens trocadas por mês. Muitas das associações ligadas à UBB promovem encontros periódicos entre busólogos, com visitas guiadas a terminais e garagens.
Assim como ele, outros tantos nenês, caixas, crianças, mães e sacos de batata espalham-se pelas plataformas de embarque: 640 mil pessoas, só naquela semana de feriado. Os destinos são em geral cidades distantes, quase inexistentes, esquecidas pelo resto do mundo. “Ninguém sabe o que significa Natal enquanto não o passamos em alguma terra estranha”, disse Hemingway, e ele nem conhecia São Paulo.
Trechos retirados do livro O Livro Amarelo do Terminal, de Vanessa Barbara.
Aline T.K.M.
Criou o Livro Lab há 12 anos e se dedicar a este projeto é uma das coisas que mais ama fazer, além de estar em contato com os mais variados tipos de expressões artísticas. Tem paixão por cinema, viajar e conhecer outras culturas. Ah, e ama ler em francês!
2 comentários
Não conhecia o livro, mas adorei a premissa. Adoro obras que fogem do comum e essa faz exatamente isso.
ResponderExcluirÉ bom conferir, vez ou outra, história de gente real.
Ótima postagem.
Desbravador de Mundos - Participe do top comentarista de reinauguração. Serão quatro vencedores!
Oie! Pois é, ouvir história de gente real, concordo muito e é bem esse o espírito do livro. Aliás, é um dos livros mais originais que já li, sempre vou recomendar! Bjs!
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