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Casa de praia com piscina [Herman Koch] #resenha

Herman Koch 14 de abril de 2016 Aline T.K.M. 2 comentários


Se tem uma coisa que me fascina é quando me deparo com um protagonista que vai além da simples falta de virtudes. Um protagonista detestável, mas, ainda assim, alguém que consegue fazer brotar no leitor sinais de empatia – mesmo após sequências de páginas cruéis.

Marc Schlosser é esse protagonista, e também é o narrador em Casa de praia com piscina. Clínico geral em Amsterdã, ele costuma atender celebridades e artistas de todo tipo, dedicando exatos 20 minutos por paciente, receitando-lhes medicamentos que apaziguem seus sintomas e assegurando-lhes que ficarão bem. Até aí, tudo normal; não fosse o fato de que Marc tem uma particularidade: sente repulsa pelo corpo humano. Evita tocar, mesmo olhar com atenção seus pacientes – não se importa minimamente com eles – e passa a maior parte daqueles 20 minutos pensando em outra coisa que não o indivíduo, doente ou não, que está ali para ser examinado.

Marc também tem uma família. É casado com a adorável Caroline, com quem tem duas filhas, Julia e Lisa, de 14 e 11 anos, respectivamente. As meninas são muito bonitas e Marc tem consciência disso – não apenas a consciência amorosa de um pai, mas a consciência racional que constata que as filhas atraem olhares de admiração, ele próprio sendo alvo de inveja de pais cujos filhos não foram tocados pela beleza.

Enquanto compartilha com o leitor pensamentos um tanto condenáveis – porém intrínsecos ao ser humano – Marc aceita o convite de um de seus pacientes, o ator de teatro Ralph Meier, e leva a esposa e as filhas adolescentes para passar as férias em uma casa de veraneio no Mediterrâneo. Lá estão o próprio Ralph, a esposa Judith e os filhos do casal, da mesma idade das meninas de Marc; além de um aclamado diretor hollywoodiano e sua namorada quarenta anos mais jovem.

A atmosfera é carregada de certa tensão sexual. Adultério, intrigas, amor juvenil e festas na praia se desenrolam naturalmente, até que um acontecimento violento divide o verão – e a vida dessas pessoas – em um antes e depois, deixando marcas indeléveis. Pouco tempo depois, Ralph Meier falece por conta de equívocos em um procedimento médico, pelos quais Marc deverá responder.

Assim como no ótimo O Jantar, Herman Koch traz seres humanos imperfeitos e revela suas falhas mais obscuras. A partir da figura de Marc Schlosser, o autor ataca um sistema de saúde repleto de furos e, ao mesmo tempo, é sarcástico ao evocar de maneira fria a biologia pela ótica da seleção natural – que não é, convenhamos, nada piedosa. Marc é arrogante, mostra ideias um tanto sexistas, mas ainda é inteligente e se define como “um homem encantador”. Um homem que não faz questão de se preocupar com nada além de si mesmo e de sua vida confortável, da qual fazem parte a esposa e as filhas, e que não enxerga o caminho da ética como o único a ser seguido.

Herman Koch coloca o leitor contra a parede ao descortinar uma história em que sempre há uma bifurcação, uma escolha a ser feita, e que a noção de certo e errado é a todo instante colocada à prova. Não julgar os personagens – especialmente o nosso protagonista Marc Schlosser – é tarefa quase impossível; apesar de tudo, e mesmo condenando-o, acabamos de certa forma atingidos por sua revolta. Quem é que pode garantir que não faria nada semelhante estando na mesma situação?

Thriller psicológico dos melhores – Herman Koch é bom nisso! –, Casa de praia com piscina é duro ao expor uma verdade nem sempre colorida: a de que todos somos culpados, em maior ou menor grau, e de que só nos resta arcar com o peso de nossas escolhas.

LEIA PORQUE...
Ameno é uma palavra que não existe nas tramas de Herman Koch. O cara é cruel na narrativa, com os personagens e com o próprio desenrolar da história. Livro “tapa na cara”, certamente vai agradar àqueles que acreditam na culpa e, sendo mais dura, na podridão do ser humano.

DA EXPERIÊNCIA...
Já sou fã do autor, não deu para evitar. Sabe aquele livro que você quer devorar rapidão, mas, ao mesmo tempo, não quer que termine logo? Então! Casa de praia com piscina tem algo de mistério, traz reflexão, é impiedoso, mas não de todo pessimista – depende do ângulo através do qual você decide olhar.

FEZ PENSAR EM...
Como eu queria que esse livro virasse filme! Algo assim no nível da adaptação holandesa de O Jantar.

Aliás, vale mencionar que O Jantar tem duas adaptações – uma holandesa (Het Diner, de Menno Meyjes, 2013) e uma italiana (I Nostri Ragazzi, de Ivano De Matteo, 2014). E haverá também uma adaptação americana, com direção de Cate Blanchett, prevista para 2017. Muitos jantares!

QUANTO VALE?

Título: Casa de praia com piscina
Título original: Zomerhuis met Zwembad
Autor(a): Herman Koch
Tradução: Alexandre Martins
Editora: Intrínseca
Edição: 2015
Ano da obra: 2011
Páginas: 336
Onde comprar: Submarino | Shoptime | Amazon (edição Kindle)

Aline T.K.M.
Criou o Livro Lab há 12 anos e se dedicar a este projeto é uma das coisas que mais ama fazer, além de estar em contato com os mais variados tipos de expressões artísticas. Tem paixão por cinema, viajar e conhecer outras culturas. Ah, e ama ler em francês!

 

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2 comentários

  1. Muito bom, né?? também virei fã do autor. Acho incrível como ele consegue nos incomodar e ao mesmo tempo compreender os personagens mesmo sem necessariamente concordar com suas atitudes. Nesse livro, o que mais me incomodou foi a atitude dos homens para com as mulheres.

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    Respostas
    1. Sim, os personagens dele cutucam, são sempre polêmicos, nunca muito corretos, mas muito humanos. E concordo com a atitude dos homens nesse livro, completamente machistas, opressores até. É o tipo de atitude que é fácil de se notar por aí, em todo lugar a gente encontra exemplos assim, infelizmente. Bjs.

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