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Resenha: Loney, de Andrew Michael Hurley

Andrew Michael Hurley 16 de setembro de 2016 Aline T.K.M. 6 comentários

Loney, de Andrew Michael Hurley

Antes de começar, preciso dizer que tudo em Loney contribuiu para que minha experiência com o livro fosse incrível. Só a capa já fez o início do trabalho, instaurando em mim a atmosfera sombria, reflexo daquele mundo melancólico e cinzento que logo mais eu encontraria na leitura. Então eu comecei a ler, achando que estava preparada para o que viria pela frente. Sabe de nada, inocente...

Trata-se da história de dois irmãos. Andrew – ou Hanny – é o mais velho e é mudo desde que nasceu, e o outro, de quem não sabemos o nome, é o narrador da trama. Ele é quem cuida e passa a maior parte do tempo com Hanny, pois é quem mais o entende e consegue se comunicar melhor com ele.

Junto com a família, o padre da comunidade e outros frequentadores da igreja, eles viajam todos os anos para a região do Loney, hospedando-se em uma casa antiga chamada Moorings. Essa viagem anual funciona como um retiro espiritual e inclui como objetivo principal a visita a um santuário local – além de muitas orações – em busca de uma “cura” para a mudez de Hanny.

Adolescentes, os irmãos e os demais voltam a esse lugar para mais uma dessas viagens, porém sem o padre Wilfred, que faleceu há relativamente pouco tempo – sua morte é um assunto desconfortável e evitado a todo custo entre os demais. Quem os acompanha desta vez é o novato padre Bernard, que ainda está se adaptando e tentando conquistar a confiança dos demais.

Ao longo dos dias na Moorings coisas estranhas acontecem, alguns segredos ameaçam vir à tona e conflitos estão quase a ponto de ebulição. Nas andanças pela região, os irmãos se deparam com assuntos nos quais não deveriam ter se intrometido, e têm contato com pessoas e práticas um tanto misteriosas.

Loney, de Andrew Michael Hurley
Estamos diante de uma trama de terror puro e simples, não? Não. Ou não completamente, pois o livro é assustador para caramba. Só que a grande sacada aqui são as nuances psicológicas e o combustível que o autor nos injeta para pensarmos em certos temas – como a fé, assunto central da trama.

Não sou muito dada a livros com temáticas relacionadas à fé religiosa, salvo quando eles nos fazem pensar, como é o caso de Loney. Na realidade, o que Hurley traz aqui é o questionamento – e até a perda – da fé. Mecanismo de autoproteção, a fé isola, cria uma bolha de proteção contra um mundo que não justifica e mesmo dispensa a existência desse sentimento. Isso fica muito claro nos personagens adultos; a Sra. Esther Smith, mãe dos garotos, vive em um estado de “alienação voluntária”, em que prefere resguardar a si mesma e a família dentro da falsa proteção proporcionada pela fé. Não a fé simples e cotidiana, mas uma fé cega, que parece existir e ganhar força justamente porque pode, no íntimo, estar sendo questionada por essa mulher.

O que a gente também percebe aqui é que a fé vem sempre acompanhada do medo. Para a Sra. Esther Smith, muito provavelmente existe o medo e o desamparo que a perda da fé pode causar. E existe também, agora claramente, o medo do diferente (e desconhecido) e do inexplicável – ela teme e rejeita a condição do filho Hanny e, desesperadamente, faz de tudo para “curá-lo”. As pessoas têm a necessidade de ser submissas a algo – à fé –, de se saberem sob o olhar daquele que pune, mas que também pode salvar.

Além da sensação de que algo muito ruim acontecerá a qualquer instante, o livro também me impressionou pela complexidade não óbvia da relação dos irmãos entre si e com o mundo. Logo no início sabemos que os acontecimentos na Moorings e até as lembranças anteriores são um grande flashback do narrador, que já é um homem saído da meia-idade. O que esses acontecimentos e essa relação fez com os garotos ao longo da vida dá pano para umas boas reflexões no sentido psicológico da coisa toda. O que eu quero dizer é que os homens que esses garotos se tornaram foi algo imprevisível para mim, pelo menos de início.

Deu para perceber que eu poderia passar horas falando sobre Loney – talvez seja por isso que eu achei melhor não fazer esta resenha em vídeo!

Em seu romance de estreia, Hurley presenteou o leitor com uma trama repleta de camadas, cada vez mais obscuras, e com mistérios que vão além do compreensível. Loney é aquele tipo de livro que mostra a vida destituída de todas as cores com que a gente insiste em pintá-la. No fim, talvez tudo não passe de um cenário cinzento do qual cada um se protege como pode.

LEIA PORQUE
É um livro sombrio, que dá medo e, ao mesmo tempo, faz pensar. Ou seja, um combo dos melhores.

Além disso, Loney veio do mercado independente. Publicado originalmente em edição limitada – somente 300 exemplares –, o livro conquistou a imprensa e o público, rendendo a Andrew Michael Hurley o Costa Book Award de melhor autor estreante de 2015, um dos prêmios literários de maior prestígio no Reino Unido.

DA EXPERIÊNCIA
Me deixou ansiosa, me tirou o sono e me fez carregar essa edição capa dura liiinda – mas um tanto pesadinha – na bolsa TODOS OS DIAS.

FEZ PENSAR
Alguém pelamordedeus compra os direitos desse livro e transforma em uma adaptação bem cool e ainda mais sombria? Ops, parece que já estão fazendo isso – thanks, DNA Films! Só para constar, a DNA Films é a mesma produtora de Trainspotting (já falei sobre o filme e resenhei o livro no blog), A Praia e Não Me Abandone Jamais. Estou liberada para ter expectativas altíssimas?!


Loney, de Andrew Michael Hurley

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Título: Loney
Título original: The Loney
Autor(a): Andrew Michael Hurley
Tradução: Renato Marques de Oliveira
Editora: Intrínseca
Edição: 2016
Ano da obra: 2014
Páginas: 304

Aline T.K.M.
Criou o Livro Lab há 12 anos e se dedicar a este projeto é uma das coisas que mais ama fazer, além de estar em contato com os mais variados tipos de expressões artísticas. Tem paixão por cinema, viajar e conhecer outras culturas. Ah, e ama ler em francês!

 

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6 comentários

  1. Convido você e seus leitores a virem conhecer meu blog. Falamos sobre livros, filmes, músicas e também temos uma fanfic lá no wattpad.
    Acesse: atravesdaestanteblog.blogspot.com

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  2. Boa resenha, não li este livro mas a maneira como pincelou a leitura e os conflitos me deu vontade de ler. Obrigado.

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    1. Oi Victor, que legal que você gostou da resenha. Eu amei esse livro, mas soube de algumas pessoas que não gostaram. Assim, é um livro psicológico, até introspectivo, achei incrível. Talvez para quem espera um livro recheado de ação ou com cenas de terror, não seja o mais indicado.

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  3. Oi, Aline!
    Comprei LONEY bem recentemente e pretendo começar a ler na próxima semana. Já havia lido algumas coisas sobre, mas sempre gosto de ler resenhas. Na verdade adorei a sua! Gostei muito de sua abordagem, somente sua resenha, pelo aângulo que você escolheu e pelo seu estilo, já me valeu como um conto cativante. Parabéns, te agradeço pelo texto. Gostaria muito de ler sua obra de ficção, se vc tiver trabalhos nesse sentido. Não tenho facebook nem nenhuma outra modalidade de rede social, mas gostaria de ler o que vc escreve, se possível obviamente, e manter contato e troca de idéias com vc. Se for do seu interesse, te envio aqui um email para contato: alberto_knox_60@yahoo.com
    Agradeço muito sua atenção, e se quiser entrar em contato será um grande prazer. 'Come in at your own will..." Rs... Abraços, parabéns por tocar os pensamentos alheios com sua escrita.

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    1. Oie! Nossa, fiquei bem feliz com seu comentário e por saber que você gostou tanto da resenha. Ah, a essa altura você provavelmente já deve ter lido Loney, né! Passa aqui depois para dizer o que achou! :-)
      Na verdade, de ficção só tenho um ou outro conto, mas são de alguns anos atrás. Não tenho nada nesse gênero de mistério e, na realidade, tenho projeto de escrever "para valer", algum trabalho mais longo e mais elaborado. Obrigada novamente e fique à vontade para passar aqui quando quiser!

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  4. Esse livro é ruim demais, pelo amor de Deus!! Não mantém a narrativa, nao te prende, decepciona com o final. Estou me odiando por ter desprendido tanto tempo lendo essa porcaria

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