4 motivos para ver o filme Depois da Tempestade, de Hirokazu Kore-eda
Drama familiar 17 de novembro de 2016 Aline T.K.M. Nenhum comentário
Confesso que não manjo nada de cinema asiático e foram pouquíssimos os filmes de diretores orientais que tive a chance de ver. Apesar de poder contá-los nos dedos de uma mão, digo que cada um deles foi marcante e me surpreendeu de alguma maneira.
Depois da Tempestade, do japonês Hirokazu Kore-eda – diretor de Pais e Filhos e de Nossa Irmã Mais Nova, dois filmes que eu quis muito e acabei não vendo até agora –, fez parte da programação da 40ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e estreia hoje nos cinemas.
A premissa é simples. Ryota trabalha como detetive particular, mas também é escritor e já publicou um romance que alcançou o sucesso. Com o salário que recebe por investigar casos de adultério, mantém seus vícios na bebida e nas apostas. De sua vida, de alguma forma, também fazem parte a mãe idosa e viúva, a ex-mulher e o filho, pessoas com as quais Ryota não tem uma real proximidade.
No entanto, essa família se encontra na casa da matriarca Yoshiko, mãe de Ryota, e permanecerá reunida quando um temporal os obriga a passar a noite por lá. Talvez seja uma oportunidade para reconstruir laços dados como perdidos.
Centrado em conflitos familiares e refletindo a vida de forma muito humana, Depois da Tempestade dá atenção a tudo aquilo que não é dito. É preciso dedicar um olhar às nuances, às pequenas coisas e, principalmente, aos muros que vamos construindo a nossa volta.
Bonito em sua simplicidade, o filme me mostrou que eu devo, sim, procurar conhecer mais sobre o cinema asiático. Gostei tanto que senti que precisava recomendá-lo a vocês. Pode ser algo novo para muitos aqui, como foi para mim também, mas penso que vale a pena encarar um filme diferente do que vocês estão acostumados.
Para deixar essa minha recomendação ainda mais palpável, listo abaixo 4 motivos para assistir a Depois da Tempestade. Considerem com carinho e, caso algum de vocês já tenha visto o filme, me diz aí nos comentários o que achou!
Depois da Tempestade, do japonês Hirokazu Kore-eda – diretor de Pais e Filhos e de Nossa Irmã Mais Nova, dois filmes que eu quis muito e acabei não vendo até agora –, fez parte da programação da 40ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e estreia hoje nos cinemas.
A premissa é simples. Ryota trabalha como detetive particular, mas também é escritor e já publicou um romance que alcançou o sucesso. Com o salário que recebe por investigar casos de adultério, mantém seus vícios na bebida e nas apostas. De sua vida, de alguma forma, também fazem parte a mãe idosa e viúva, a ex-mulher e o filho, pessoas com as quais Ryota não tem uma real proximidade.
No entanto, essa família se encontra na casa da matriarca Yoshiko, mãe de Ryota, e permanecerá reunida quando um temporal os obriga a passar a noite por lá. Talvez seja uma oportunidade para reconstruir laços dados como perdidos.
Centrado em conflitos familiares e refletindo a vida de forma muito humana, Depois da Tempestade dá atenção a tudo aquilo que não é dito. É preciso dedicar um olhar às nuances, às pequenas coisas e, principalmente, aos muros que vamos construindo a nossa volta.
Bonito em sua simplicidade, o filme me mostrou que eu devo, sim, procurar conhecer mais sobre o cinema asiático. Gostei tanto que senti que precisava recomendá-lo a vocês. Pode ser algo novo para muitos aqui, como foi para mim também, mas penso que vale a pena encarar um filme diferente do que vocês estão acostumados.
Para deixar essa minha recomendação ainda mais palpável, listo abaixo 4 motivos para assistir a Depois da Tempestade. Considerem com carinho e, caso algum de vocês já tenha visto o filme, me diz aí nos comentários o que achou!
UMA MATRIARCA IRÔNICA, ENGRAÇADA E MUITO SÁBIA
Sempre com uma boa tirada – irônica e sábia – na ponta da língua, a mãe e avó Yoshiko é claramente o pilar da família já fragmentada, o ponto de intersecção que ainda resta entre seus membros dispersos.
Apesar da independência e da força, a matriarca tem suas dores e fraquezas, sempre muito bem guardadas e, por vezes, se deixando entrever disfarçadas de insensibilidade – apenas disfarçadas.
Percebemos o peso que ela carrega e o sofrimento silencioso ao vê-la – por uma única vez – em prantos, num dolorido questionamento sobre como é que as coisas teriam chegado a tal ponto em sua família. E isso, sinto dizer, é o que acontece na vida. Ela vai passando, assim como os dias, os meses, os anos, até nos darmos conta do que o tempo – e nós mesmos – fez ou deixou de fazer. Até nos darmos conta de que nada mais parece ter jeito.
Apesar da independência e da força, a matriarca tem suas dores e fraquezas, sempre muito bem guardadas e, por vezes, se deixando entrever disfarçadas de insensibilidade – apenas disfarçadas.
Percebemos o peso que ela carrega e o sofrimento silencioso ao vê-la – por uma única vez – em prantos, num dolorido questionamento sobre como é que as coisas teriam chegado a tal ponto em sua família. E isso, sinto dizer, é o que acontece na vida. Ela vai passando, assim como os dias, os meses, os anos, até nos darmos conta do que o tempo – e nós mesmos – fez ou deixou de fazer. Até nos darmos conta de que nada mais parece ter jeito.
GRANDES VERDADES
Reflexão sobre a passagem do tempo e a vida, Depois da Tempestade alcança seu ápice em um momento que resume muito bem o significado – ou boa parte dele, pelo menos – da existência.
Falo da conversa entre um pai e um filho ainda criança, abrigados sob um brinquedo em um parquinho durante a tempestade. Diante de uma pergunta do garoto vem a triste constatação de que o adulto que nos tornamos em nada corresponde à pessoa que esperávamos e queríamos ser quando crianças.
Diante da tomada de consciência dessa armadilha – armada pela vida e por nós mesmos –, o conselho de Ryota ao filho é, talvez, a coisa mais valiosa que ele pode lhe dar: tudo o que podemos fazer é viver sempre tentando ser essa pessoa que queremos nos tornar um dia.
Falo da conversa entre um pai e um filho ainda criança, abrigados sob um brinquedo em um parquinho durante a tempestade. Diante de uma pergunta do garoto vem a triste constatação de que o adulto que nos tornamos em nada corresponde à pessoa que esperávamos e queríamos ser quando crianças.
Diante da tomada de consciência dessa armadilha – armada pela vida e por nós mesmos –, o conselho de Ryota ao filho é, talvez, a coisa mais valiosa que ele pode lhe dar: tudo o que podemos fazer é viver sempre tentando ser essa pessoa que queremos nos tornar um dia.
UMA VIDA SEMPRE EM MODO REPEAT
As mentiras, vícios e comportamentos desviados de Ryota notadamente trazem algo de seu já falecido pai e percebemos sinais de que podem vir a ser transmitidos para o filho, dependendo de como se dê a convivência entre eles. No final, tudo não passa de um grande círculo vicioso em que muitos comportamentos e padrões se repetem ao longo dos anos e das gerações, num loop infinito.
NEM PESSIMISTA NEM OTIMISTA DEMAIS, APENAS REAL
Talvez um dos principais pontos que me conquistaram no filme é o fato de que Kore-eda não dá a seus personagens uma vida repleta de lamentos e zerada de possibilidades. Muito menos apresenta um desfecho do tipo “tudo sempre acaba bem” – que eu detesto com fervor. Em Depois da Tempestade vemos um pedaço da vida real, com problemas – quem é que está livre deles? – e repleto de bifurcações. Tudo sempre poderia ter tomado um rumo diferente no passado e sempre há diferentes caminhos a serem tomados no futuro.
Afinal, o drama familiar que encontramos na telona em nada difere da própria realidade de cada um de nós – seja essa realidade a atual ou uma que ainda está por vir. Com os anos, as dores passam a ser carregadas individualmente, tornando-se mais pesadas. As barreiras entre os indivíduos de uma família vão se espessando até o ponto de parecerem quase intransponíveis.
Mas mesmo as piores situações e as maiores distâncias podem ser encurtadas, pelo menos durante o intervalo de tempo de uma noite de tormenta. Apesar das sequelas da tempestade – porque sempre há sequelas –, amanhã será um novo dia e a vida sempre continua. De um jeito bom, ruim ou apenas diferente.
O Japão está prestes a receber o 23º tufão do ano. A matriarca Yoshiko (Kirin Kiki), uma mulher idosa que mora sozinha, recebe a visita de dois filhos que não costumam ir à sua casa: Ryota (Hiroshi Abe), um escritor fracassado que ainda sofre com o divórcio e se arrisca fazendo bicos de detetive, e a filha mais velha, que tenta passar por exemplo da família, mas também tem seus problemas. Juntos, eles aguardam a chegada do tufão e relembram a morte recente do pai e marido.
Afinal, o drama familiar que encontramos na telona em nada difere da própria realidade de cada um de nós – seja essa realidade a atual ou uma que ainda está por vir. Com os anos, as dores passam a ser carregadas individualmente, tornando-se mais pesadas. As barreiras entre os indivíduos de uma família vão se espessando até o ponto de parecerem quase intransponíveis.
Mas mesmo as piores situações e as maiores distâncias podem ser encurtadas, pelo menos durante o intervalo de tempo de uma noite de tormenta. Apesar das sequelas da tempestade – porque sempre há sequelas –, amanhã será um novo dia e a vida sempre continua. De um jeito bom, ruim ou apenas diferente.
TRAILER E SINOPSE
O Japão está prestes a receber o 23º tufão do ano. A matriarca Yoshiko (Kirin Kiki), uma mulher idosa que mora sozinha, recebe a visita de dois filhos que não costumam ir à sua casa: Ryota (Hiroshi Abe), um escritor fracassado que ainda sofre com o divórcio e se arrisca fazendo bicos de detetive, e a filha mais velha, que tenta passar por exemplo da família, mas também tem seus problemas. Juntos, eles aguardam a chegada do tufão e relembram a morte recente do pai e marido.
Depois da Tempestade (Umi yori mo mada fukaku) – 117 min.
Japão – 2016
Direção: Hirokazu Kore-eda
Roteiro: Hirokazu Kore-eda
Elenco: Hiroshi Abe, Yoko Maki, Kirin Kiki, Sosuke Ikematsu, Taiyo Yoshizawa
Estreia: 17 de novembro
Aline T.K.M.
Criou o Livro Lab há 12 anos e se dedicar a este projeto é uma das coisas que mais ama fazer, além de estar em contato com os mais variados tipos de expressões artísticas. Tem paixão por cinema, viajar e conhecer outras culturas. Ah, e ama ler em francês!
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