3 motivos para ver o filme O Apartamento
Asghar Farhadi 4 de janeiro de 2017 Aline T.K.M. 4 comentários
Aquele filme que faz com que você se coloque no lugar dos personagens. Aquele filme que te faz encarar algumas questões para as quais você não teria resposta. Aquele filme que te deixa dividido e te faz pensar.
“Aquele” filme é O Apartamento, do cineasta iraniano Asghar Farhadi (diretor de O Passado e A Separação), que estreia amanhã nos cinemas.
Com atmosfera que beira o thriller psicológico, a trama gira em torno de um casal, Emad (Shahab Hosseini) e Rana (Taraneh Alidoosti), ambos atores em cena na montagem teatral de A Morte de um Caixeiro-viajante, peça de Arthur Miller. Eles se veem obrigados a deixar sua moradia após uma obra no prédio vizinho comprometer e colocar o edifício onde vivem em risco de desabamento.
Por recomendação de um amigo do casal e sem muita escolha, eles se mudam para um apartamento cuja antiga moradora havia saído às pressas, sem nem ao menos esvaziá-lo de seus pertences. Há um quarto lotado de objetos deixados para trás, que a mulher não manda retirar e nem aparece para buscar, o que acaba se tornando um incômodo para Rana e Emad.
Certa noite, por um descuido, um estranho – aparentemente ligado à ex-moradora – entra no apartamento e Rana é agredida enquanto toma banho.
“Aquele” filme é O Apartamento, do cineasta iraniano Asghar Farhadi (diretor de O Passado e A Separação), que estreia amanhã nos cinemas.
Com atmosfera que beira o thriller psicológico, a trama gira em torno de um casal, Emad (Shahab Hosseini) e Rana (Taraneh Alidoosti), ambos atores em cena na montagem teatral de A Morte de um Caixeiro-viajante, peça de Arthur Miller. Eles se veem obrigados a deixar sua moradia após uma obra no prédio vizinho comprometer e colocar o edifício onde vivem em risco de desabamento.
Por recomendação de um amigo do casal e sem muita escolha, eles se mudam para um apartamento cuja antiga moradora havia saído às pressas, sem nem ao menos esvaziá-lo de seus pertences. Há um quarto lotado de objetos deixados para trás, que a mulher não manda retirar e nem aparece para buscar, o que acaba se tornando um incômodo para Rana e Emad.
Certa noite, por um descuido, um estranho – aparentemente ligado à ex-moradora – entra no apartamento e Rana é agredida enquanto toma banho.
Após a agressão, há o trauma, a solidão, o medo constante e a falta de suporte do marido. Rana sofre praticamente calada, até porque não é nela que reside o foco principal – tudo é visto sob a perspectiva de Emad.
A partir do ataque sofrido por sua esposa, cujos detalhes são apenas sugeridos, Emad empreende uma jornada pessoal em busca da identidade desse agressor, uma atitude motivada mais por vingança e defesa – machista – de sua própria honra do que em solidariedade para com a dor de Rana.
O Apartamento levanta questões importantes e evidencia a postura machista de muitas sociedades do Oriente Médio. Ainda que em alguns momentos pareça arrastado, o filme preenche de tensão as sequências finais – a gente até desgruda as costas da poltrona à espera do que vai ou não acontecer.
Nem preciso dizer que eu mega recomendo o filme, especialmente para quem curte filmes para refletir. E só para convencê-los mais um pouquinho de que vale a pena ir ao cinema conferir, aí vão 3 motivos para ver O Apartamento:
A partir do ataque sofrido por sua esposa, cujos detalhes são apenas sugeridos, Emad empreende uma jornada pessoal em busca da identidade desse agressor, uma atitude motivada mais por vingança e defesa – machista – de sua própria honra do que em solidariedade para com a dor de Rana.
O Apartamento levanta questões importantes e evidencia a postura machista de muitas sociedades do Oriente Médio. Ainda que em alguns momentos pareça arrastado, o filme preenche de tensão as sequências finais – a gente até desgruda as costas da poltrona à espera do que vai ou não acontecer.
Nem preciso dizer que eu mega recomendo o filme, especialmente para quem curte filmes para refletir. E só para convencê-los mais um pouquinho de que vale a pena ir ao cinema conferir, aí vão 3 motivos para ver O Apartamento:
QUESTÕES MORAIS E SOCIEDADE EXTREMAMENTE MACHISTA
O que nós – eu, você, qualquer um – faríamos caso tivéssemos a chance de colocar as mãos em alguém que nos houvesse provocado uma agressão bastante traumática? Por mais que decidíssemos pelo caminho correto, é quase certa a existência daquele momento de quase ceder ao impulso, de querer fazer alguma justiça com as próprias mãos, de descontar o sofrimento.
Pois é, o filme faz a gente se deparar com questões e dilemas morais complicados. Coisa para se pensar e também – por que não? – para discutir na saída do cinema.
No filme, me chama atenção a maneira como Rana lida com a situação e com o trauma, inclusive ao se ver frente a frente com seu agressor.
Ainda que não possamos falar em perdão ou superação total do trauma, percebemos em Rana a ausência de um desejo de vingança – por mais que isso fosse compreensível. O constrangimento também é um fator que influencia sua atitude, mais próxima de um “deixe estar”. Lembrando que em uma sociedade extremamente machista como a que temos ali, o simples fato de denunciar o caso causaria tamanho incômodo em Rana – além dos julgamentos alheios – que ela prefere se calar.
A atitude dela toma um caminho diferente da do esposo – Emad é movido por vingança e pelo orgulho ferido. Nos momentos finais do filme, quando esta diferença entre os dois fica tão evidente, é inevitável nos colocarmos em seus lugares – especialmente no de Rana, que se anula e, em seu papel de vítima, não chega a ser compreendida. Mesmo se tivesse ido atrás de justiça, dificilmente o seria.
Pois é, o filme faz a gente se deparar com questões e dilemas morais complicados. Coisa para se pensar e também – por que não? – para discutir na saída do cinema.
No filme, me chama atenção a maneira como Rana lida com a situação e com o trauma, inclusive ao se ver frente a frente com seu agressor.
Ainda que não possamos falar em perdão ou superação total do trauma, percebemos em Rana a ausência de um desejo de vingança – por mais que isso fosse compreensível. O constrangimento também é um fator que influencia sua atitude, mais próxima de um “deixe estar”. Lembrando que em uma sociedade extremamente machista como a que temos ali, o simples fato de denunciar o caso causaria tamanho incômodo em Rana – além dos julgamentos alheios – que ela prefere se calar.
A atitude dela toma um caminho diferente da do esposo – Emad é movido por vingança e pelo orgulho ferido. Nos momentos finais do filme, quando esta diferença entre os dois fica tão evidente, é inevitável nos colocarmos em seus lugares – especialmente no de Rana, que se anula e, em seu papel de vítima, não chega a ser compreendida. Mesmo se tivesse ido atrás de justiça, dificilmente o seria.
QUANDO VIDA E ARTE SE FUNDEM
Durante todo o filme, fica evidente o paralelo traçado entre a vida pessoal de Emad e Rana e as encenações da peça A Morte de um Caixeiro-viajante, na qual o casal atua.
Logo no início contemplamos o palco e o cenário da peça, formado por diversos cômodos divididos apenas por estruturas metálicas. A ausência de paredes ou divisórias mais sólidas submete esses personagens à exposição permanente, confrontando-os com suas fragilidades.
De maneira semelhante, o prédio em que Emad e Rana viviam e que foram forçados a desocupar se vê tomado por rachaduras, como fraturas expostas, o abrir de uma ferida. Existe um perigo real que, no entanto, não chega a se concretizar – há um comprometimento das estruturas do prédio, mas ele não chega a desabar, e tampouco é seguro para seguir abrigando seus moradores. Essa atmosfera de “quebra”, de perigo iminente, insegurança e, ao mesmo tempo, de tudo aquilo que não é dito e da falta de tato, nos leva a todo instante à imagem daquilo que um dia fora inteiro e que começa a se deteriorar – como o prédio, a vida conjugal e o bem-estar emocional de Emad e Rana.
Assim como a peça de Arthur Miller culmina na morte de seu fracassado e iludido protagonista, também o filme de Farhadi levará à tentativa de expurgo do mal que consome Emad após a agressão sofrida por sua esposa. Mas, ainda que sua sede de vingança possa ser saciada de alguma maneira, a ruptura desse elo que um dia uniu Emad e Rana não parece passível de reparo.
Esse aspecto do filme – em que o conflito dos personagens e o teatro se envolvem e acabam se influenciando – me fez lembrar de Olmo e a Gaivota, documentário de Petra Costa e Lea Glob, em que uma atriz que ensaia A Gaivota, de Tchekhov, precisa se afastar da peça por conta da gravidez e todas essas mudanças acabam afetando a vida e a rotina dela, inclusive com o companheiro, que também atua na mesma peça.
Logo no início contemplamos o palco e o cenário da peça, formado por diversos cômodos divididos apenas por estruturas metálicas. A ausência de paredes ou divisórias mais sólidas submete esses personagens à exposição permanente, confrontando-os com suas fragilidades.
De maneira semelhante, o prédio em que Emad e Rana viviam e que foram forçados a desocupar se vê tomado por rachaduras, como fraturas expostas, o abrir de uma ferida. Existe um perigo real que, no entanto, não chega a se concretizar – há um comprometimento das estruturas do prédio, mas ele não chega a desabar, e tampouco é seguro para seguir abrigando seus moradores. Essa atmosfera de “quebra”, de perigo iminente, insegurança e, ao mesmo tempo, de tudo aquilo que não é dito e da falta de tato, nos leva a todo instante à imagem daquilo que um dia fora inteiro e que começa a se deteriorar – como o prédio, a vida conjugal e o bem-estar emocional de Emad e Rana.
Assim como a peça de Arthur Miller culmina na morte de seu fracassado e iludido protagonista, também o filme de Farhadi levará à tentativa de expurgo do mal que consome Emad após a agressão sofrida por sua esposa. Mas, ainda que sua sede de vingança possa ser saciada de alguma maneira, a ruptura desse elo que um dia uniu Emad e Rana não parece passível de reparo.
Esse aspecto do filme – em que o conflito dos personagens e o teatro se envolvem e acabam se influenciando – me fez lembrar de Olmo e a Gaivota, documentário de Petra Costa e Lea Glob, em que uma atriz que ensaia A Gaivota, de Tchekhov, precisa se afastar da peça por conta da gravidez e todas essas mudanças acabam afetando a vida e a rotina dela, inclusive com o companheiro, que também atua na mesma peça.
PREMIADO EM CANNES E ELOGIADO PELA CRÍTICA
Lançado oficialmente no Festival de Cannes 2016, O Apartamento levou o prêmio de melhor roteiro e Shahab Hosseini foi premiado na categoria de melhor ator pelo papel de Emad.
O filme também foi premiado em outros festivais, entre eles o World Cinema Amsterdam, Satellite Awards e Munich International Film Festival.
Obrigados a sair do prédio onde vivem por causa de um risco de desabamento, Emad (Shahab Hosseini) e Rana (Taraneh Alidoosti) se mudam para um apartamento no centro de Teerã. Um incidente ligado ao antigo morador vai mudar drasticamente a vida do jovem casal.
O filme também foi premiado em outros festivais, entre eles o World Cinema Amsterdam, Satellite Awards e Munich International Film Festival.
TRAILER E SINOPSE
Obrigados a sair do prédio onde vivem por causa de um risco de desabamento, Emad (Shahab Hosseini) e Rana (Taraneh Alidoosti) se mudam para um apartamento no centro de Teerã. Um incidente ligado ao antigo morador vai mudar drasticamente a vida do jovem casal.
O Apartamento (Forushande) – 125 min.
Irã – 2016
Direção: Asghar Farhadi
Roteiro: Asghar Farhadi
Elenco: Shahab Hosseini, Taraneh Alidoosti, Babak Karimi, Mina Sadati
Estreia: 5 de janeiro
Aline T.K.M.
Criou o Livro Lab há 12 anos e se dedicar a este projeto é uma das coisas que mais ama fazer, além de estar em contato com os mais variados tipos de expressões artísticas. Tem paixão por cinema, viajar e conhecer outras culturas. Ah, e ama ler em francês!
4 comentários
Oi, Aline, adorei sua análise (completa) do filme, é uma trama psicológica que aborda assuntos sérios, ótimos para uma boa discussão pós-sessão de cinema, com os amigos.
ResponderExcluirFeliz 2017!
Oi Manu, obrigada! Adoro filmes bem psicológicos, e quando entra alguma coisa mais polêmica, que mexe com questões morais, gosto ainda mais. Realmente recomendo esse filme. Um ótimo ano para você também!!
ExcluirSuper gostei da recomendação, parece realmente muito bom... Vou colocar na lista de filmes pra assistir...
ResponderExcluirParabéns pela análise, muito boa!
Sim, eu gostei bastante do filme! Às vezes ele fica um pouco lento, mas vale muito a pena, traz um bom material para refletir. Se for assistir, depois passa aqui para dizer o que achou! Bjs!
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