Resenha: Meia-Noite e Vinte, de Daniel Galera
Anos 90 20 de junho de 2017 Aline T.K.M. Nenhum comentário
Sim, sou dessas que curtem uma boa literatura nacional! Entre os autores que mais admiro, com certeza Daniel Galera está ali no topo da lista.
Meia-Noite e Vinte é o sétimo livro do autor do incrível Barba Ensopada de Sangue. Aqui, ele traz a juventude desiludida dos anos 1990 enfrentando as questões da vida adulta, em meio às memórias de um tempo que não volta mais.
Três amigos se reencontram, após anos sem se verem, para o enterro do quarto integrante do grupo que eles um dia foram quando jovens. Entre o luto e os dilemas da vida atual, eles rememoram a juventude, vivida numa época marcada pelo boom da internet e por uma espécie de desesperança – de certa maneira, um presságio de tudo aquilo em que o mundo se tornaria nos anos que se seguiram.
Duque, ou Andrei Dukelsky é morto em um assalto nas ruas de Porto Alegre em janeiro de 2014. Escritor famoso, mas um tanto discreto, ele foi ao longo dos anos saindo do mundo online, deixando de atualizar algumas redes sociais, deletando seu perfil em outras, enfim, borrando seus rastros na web.
Sua morte prematura deixa inconformada uma legião de fãs e também uma esposa que não sabe muito bem lidar com o papel que agora esperam dela. Ela apenas trata de cumprir as orientações que o marido lhe havia deixado caso um dia acontecesse algo com ele: destruir seus manuscritos e apagar completamente todos os seus perfis online.
A tragédia também é responsável pelo reencontro de Aurora, Emiliano e Antero. Junto com Duque, quando jovens eles mantinham o e-zine Orangotango, que bombou lá no começo da popularização da internet, no final da década de 90. Deles, apenas Duque continuou no ramo da escrita. Emiliano foi para o jornalismo e, logo após a morte do amigo, acaba recebendo a difícil proposta de escrever a biografia de Duque.
Aurora seguiu a área de biológicas e vive uma estressante batalha acadêmica na universidade. Ela é apaixonada pelo que faz, mas sente certo vazio dentro de si e sofre para encontrar a medida entre a maturidade e a inocência dos tempos de garota.
Já Antero é um publicitário de sucesso que, na juventude, fez um vídeo que viralizou na web, garantindo a ele certo sucesso e moral com as garotas. Atualmente bem-sucedido, casado e com um filho pequeno, Antero tenta digerir o fato de que as coisas – e ele mesmo – já não são como nos tempos passados.
A narrativa sempre deliciosa do Galera aparece aqui repleta de referências aos anos 90 – quem foi jovem nessa época vai se identificar horrores!
A gente mergulha no mundo particular de cada um dos amigos e em suas lembranças com Duque. E também seguimos o início do processo de pesquisa de Emiliano para a biografia do amigo escritor, pesquisa que o levará a descortinar alguns fatos sobre Duque que o deixarão um tanto perturbado.
Um mundo em pedaços com um fim já profetizado, um bug que afetaria todos os computadores na virada do milênio, um presente sem muita margem para grandes perspectivas sobre o futuro. Quinze anos depois, a constatação de uma vida tão diferente e, ao mesmo tempo, tão ligada àqueles dias do passado. Dias de desilusão, mas dias de ouro.
Meia-Noite e Vinte traz, sim, um pessimismo em suas entranhas. Mas, no fim das contas, mostra que o que restou daquele mundo não são apenas cinzas e coisas mortas. Talvez haja, ainda, uma luzinha de esperança escondida nos lugares menos prováveis, especialmente dentro de cada um.
Meia-Noite e Vinte é o sétimo livro do autor do incrível Barba Ensopada de Sangue. Aqui, ele traz a juventude desiludida dos anos 1990 enfrentando as questões da vida adulta, em meio às memórias de um tempo que não volta mais.
Três amigos se reencontram, após anos sem se verem, para o enterro do quarto integrante do grupo que eles um dia foram quando jovens. Entre o luto e os dilemas da vida atual, eles rememoram a juventude, vivida numa época marcada pelo boom da internet e por uma espécie de desesperança – de certa maneira, um presságio de tudo aquilo em que o mundo se tornaria nos anos que se seguiram.
Duque, ou Andrei Dukelsky é morto em um assalto nas ruas de Porto Alegre em janeiro de 2014. Escritor famoso, mas um tanto discreto, ele foi ao longo dos anos saindo do mundo online, deixando de atualizar algumas redes sociais, deletando seu perfil em outras, enfim, borrando seus rastros na web.
Sua morte prematura deixa inconformada uma legião de fãs e também uma esposa que não sabe muito bem lidar com o papel que agora esperam dela. Ela apenas trata de cumprir as orientações que o marido lhe havia deixado caso um dia acontecesse algo com ele: destruir seus manuscritos e apagar completamente todos os seus perfis online.
A tragédia também é responsável pelo reencontro de Aurora, Emiliano e Antero. Junto com Duque, quando jovens eles mantinham o e-zine Orangotango, que bombou lá no começo da popularização da internet, no final da década de 90. Deles, apenas Duque continuou no ramo da escrita. Emiliano foi para o jornalismo e, logo após a morte do amigo, acaba recebendo a difícil proposta de escrever a biografia de Duque.
Aurora seguiu a área de biológicas e vive uma estressante batalha acadêmica na universidade. Ela é apaixonada pelo que faz, mas sente certo vazio dentro de si e sofre para encontrar a medida entre a maturidade e a inocência dos tempos de garota.
Já Antero é um publicitário de sucesso que, na juventude, fez um vídeo que viralizou na web, garantindo a ele certo sucesso e moral com as garotas. Atualmente bem-sucedido, casado e com um filho pequeno, Antero tenta digerir o fato de que as coisas – e ele mesmo – já não são como nos tempos passados.
A narrativa sempre deliciosa do Galera aparece aqui repleta de referências aos anos 90 – quem foi jovem nessa época vai se identificar horrores!
A gente mergulha no mundo particular de cada um dos amigos e em suas lembranças com Duque. E também seguimos o início do processo de pesquisa de Emiliano para a biografia do amigo escritor, pesquisa que o levará a descortinar alguns fatos sobre Duque que o deixarão um tanto perturbado.
Um mundo em pedaços com um fim já profetizado, um bug que afetaria todos os computadores na virada do milênio, um presente sem muita margem para grandes perspectivas sobre o futuro. Quinze anos depois, a constatação de uma vida tão diferente e, ao mesmo tempo, tão ligada àqueles dias do passado. Dias de desilusão, mas dias de ouro.
Meia-Noite e Vinte traz, sim, um pessimismo em suas entranhas. Mas, no fim das contas, mostra que o que restou daquele mundo não são apenas cinzas e coisas mortas. Talvez haja, ainda, uma luzinha de esperança escondida nos lugares menos prováveis, especialmente dentro de cada um.
LEIA PORQUE
Escrita cativante + trama envolvente sobre pessoas, sobre uma época, sobre uma geração + referências que levam o leitor de volta à infância e juventude = livro arrasador, na certa! Taí a fórmula perfeita para uma leitura que vai te deixar tudo, menos indiferente.DA EXPERIÊNCIA
Eu quis muito um Pense Bem, passei noites no ICQ, baixei músicas no SoulSeek... Isso é só para vocês terem uma ideia de como esse livro dialogou comigo. Leitura excelente!FEZ PENSAR
O também sensacional A Maçã Envenenada, de Michel Laub, traz os anos 90 com uma pitada singular de pessimismo, mas com um quê de luz no fim do túnel. Um livro sobre memórias dolorosas, escolhas e extremos.
Onde comprar: Amazon
Título: Meia-Noite e Vinte
Autor(a): Daniel Galera
Editora: Companhia das Letras
Edição: 2016
Ano da obra: 2016
Páginas: 206
Aline T.K.M.
Criou o Livro Lab há 12 anos e se dedicar a este projeto é uma das coisas que mais ama fazer, além de estar em contato com os mais variados tipos de expressões artísticas. Tem paixão por cinema, viajar e conhecer outras culturas. Ah, e ama ler em francês!
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