Resenha: O Oceano no Fim do Caminho, de Neil Gaiman
Fantasia 7 de junho de 2017 Aline T.K.M. Nenhum comentário
Finalmente, meu primeiríssimo Gaiman!
Antes da leitura, tudo em O Oceano no Fim do Caminho me intrigava – a capa, a sinopse, o título e, claro, o autor –, só que o que mais me chamava atenção era encontrar sempre opiniões tão opostas sobre o livro. Uns amam, enquanto outros simplesmente não curtem. Quanto a mim, já adianto que fiquei no primeiro grupo e vou dizer para vocês o porquê...
Logo nas linhas iniciais sabemos que um homem já na meia-idade – o protagonista da trama, cujo nome jamais conhecemos – retorna ao interior da Inglaterra, lugar onde passou sua infância, para um funeral.
Dirigindo pela conhecida estradinha, ele é atraído em direção à velha fazenda Hempstock, mais precisamente para o lago que fica nos fundos da casa. Ali, seus pensamentos se voltam à época de criança e aos acontecimentos trágicos e fantásticos que o marcaram para sempre.
É a partir daí que a gente conhece o garoto de 7 anos que ele um dia fora. Tudo começa com o suicídio do inquilino que ocupa um quarto na casa de sua família. A tragédia o leva a conhecer a menina Lettie Hempstock, de 11 anos, e as outras duas mulheres que vivem na fazenda com ela – a velha e a jovem senhora Hempstock.
Tem início uma corrente de acontecimentos. Um ser maligno se aproxima do garoto, enquanto pessoas da região começam a receber dinheiro de forma misteriosa. O surgimento da bela Ursula Monkton – a maquiavélica governanta que passa a viver com a família do menino – confirma que o mal está mais próximo do que nunca e que o garotinho não escapará ileso.
Estamos diante de uma história sobre a infância, ancorada em fantasia e incrustada num cenário bucólico, mas desolador.
Se a gente parar para pensar, existe um ponto específico na infância em que o encanto e a inocência são perdidos. Todo mundo vivencia esse “rompimento”, esse algo de muito frágil que a gente tem dentro de si e que, por algum motivo ou apenas por circunstâncias da vida, se espatifa em milhões de pedacinhos impossíveis de serem colados de volta.
É isso o que acontece com esse garoto de 7 anos. As tragédias e os pequenos traumas e decepções da vida assumem a forma de forças do mal, que chegam para bagunçar sua vida e suas relações familiares.
Fiquei encantada! Nem preciso dizer como achei deliciosa a escrita do Gaiman, e como a trama me pareceu imaginativa e, ainda assim, muito coerente.
Na verdade, todo o livro – e cada um de seus elementos – me pareceu um organismo vivo, cujo exterior está repleto de informações, mas que guarda um mundo muito mais vasto em seu interior. Um mundo pronto a ser desbravado por olhares mais atentos; um lago que, ao mergulhar, é todo um oceano.
Sem dúvida, as três mulheres Hempstock são as personagens mais fascinantes disso tudo. Sábias e donas de poderes nada compreensíveis pelos mundanos, elas são um pouco como as Parcas da mitologia romana – ou as Moiras da mitologia grega. Seres divinos e capazes de controlar o destino dos humanos. Elas tecem o fio da vida, cuidam do caminho que este toma, e o cortam no momento necessário. Por sinal, uma das partes mais legais da história é precisamente quando a velha senhora Hempstock realiza uma espécie de magia, cortando e costurando fatos da realidade do garoto.
E as mulheres Hempstock também desempenham meio que um papel materno na vida do pequeno protagonista, protegendo-o e confortando-o, especialmente num momento em que ele se vê tão desamparado.
A história desse mestre da fantasia que atende por Neil Gaiman vem repleta de analogias e metáforas sobre a infância e o processo de amadurecimento. Ler O Oceano no Fim do Caminho foi como devorar duas histórias a um só tempo. A que está ali, impressa em cada linha e parágrafo, explícita aos olhos. E a que se encontra nas entrelinhas, sugerindo o que há de mais obscuro, mas ainda assim bonito, nas memórias dos tempos infantis.
Delicioso e também pungente, O Oceano no Fim do Caminho alimenta e ao mesmo tempo descontrói o encantamento da infância e a maneira como nos lembramos dessa época. Um livro que, certamente, conta muito mais do que suas 208 páginas parecem dizer...
Além disso, com o lançamento mais recente de Neil Gaiman, Mitologia Nórdica, e com a estreia da série Deuses Americanos (baseada no livro homônimo), a empolgação para ler tudo quanto possível do autor só faz crescer!
Antes da leitura, tudo em O Oceano no Fim do Caminho me intrigava – a capa, a sinopse, o título e, claro, o autor –, só que o que mais me chamava atenção era encontrar sempre opiniões tão opostas sobre o livro. Uns amam, enquanto outros simplesmente não curtem. Quanto a mim, já adianto que fiquei no primeiro grupo e vou dizer para vocês o porquê...
Logo nas linhas iniciais sabemos que um homem já na meia-idade – o protagonista da trama, cujo nome jamais conhecemos – retorna ao interior da Inglaterra, lugar onde passou sua infância, para um funeral.
Dirigindo pela conhecida estradinha, ele é atraído em direção à velha fazenda Hempstock, mais precisamente para o lago que fica nos fundos da casa. Ali, seus pensamentos se voltam à época de criança e aos acontecimentos trágicos e fantásticos que o marcaram para sempre.
É a partir daí que a gente conhece o garoto de 7 anos que ele um dia fora. Tudo começa com o suicídio do inquilino que ocupa um quarto na casa de sua família. A tragédia o leva a conhecer a menina Lettie Hempstock, de 11 anos, e as outras duas mulheres que vivem na fazenda com ela – a velha e a jovem senhora Hempstock.
Tem início uma corrente de acontecimentos. Um ser maligno se aproxima do garoto, enquanto pessoas da região começam a receber dinheiro de forma misteriosa. O surgimento da bela Ursula Monkton – a maquiavélica governanta que passa a viver com a família do menino – confirma que o mal está mais próximo do que nunca e que o garotinho não escapará ileso.
Estamos diante de uma história sobre a infância, ancorada em fantasia e incrustada num cenário bucólico, mas desolador.
Se a gente parar para pensar, existe um ponto específico na infância em que o encanto e a inocência são perdidos. Todo mundo vivencia esse “rompimento”, esse algo de muito frágil que a gente tem dentro de si e que, por algum motivo ou apenas por circunstâncias da vida, se espatifa em milhões de pedacinhos impossíveis de serem colados de volta.
É isso o que acontece com esse garoto de 7 anos. As tragédias e os pequenos traumas e decepções da vida assumem a forma de forças do mal, que chegam para bagunçar sua vida e suas relações familiares.
Fiquei encantada! Nem preciso dizer como achei deliciosa a escrita do Gaiman, e como a trama me pareceu imaginativa e, ainda assim, muito coerente.
Na verdade, todo o livro – e cada um de seus elementos – me pareceu um organismo vivo, cujo exterior está repleto de informações, mas que guarda um mundo muito mais vasto em seu interior. Um mundo pronto a ser desbravado por olhares mais atentos; um lago que, ao mergulhar, é todo um oceano.
Sem dúvida, as três mulheres Hempstock são as personagens mais fascinantes disso tudo. Sábias e donas de poderes nada compreensíveis pelos mundanos, elas são um pouco como as Parcas da mitologia romana – ou as Moiras da mitologia grega. Seres divinos e capazes de controlar o destino dos humanos. Elas tecem o fio da vida, cuidam do caminho que este toma, e o cortam no momento necessário. Por sinal, uma das partes mais legais da história é precisamente quando a velha senhora Hempstock realiza uma espécie de magia, cortando e costurando fatos da realidade do garoto.
E as mulheres Hempstock também desempenham meio que um papel materno na vida do pequeno protagonista, protegendo-o e confortando-o, especialmente num momento em que ele se vê tão desamparado.
A história desse mestre da fantasia que atende por Neil Gaiman vem repleta de analogias e metáforas sobre a infância e o processo de amadurecimento. Ler O Oceano no Fim do Caminho foi como devorar duas histórias a um só tempo. A que está ali, impressa em cada linha e parágrafo, explícita aos olhos. E a que se encontra nas entrelinhas, sugerindo o que há de mais obscuro, mas ainda assim bonito, nas memórias dos tempos infantis.
Delicioso e também pungente, O Oceano no Fim do Caminho alimenta e ao mesmo tempo descontrói o encantamento da infância e a maneira como nos lembramos dessa época. Um livro que, certamente, conta muito mais do que suas 208 páginas parecem dizer...
LEIA PORQUE
Já ouviu falar de livros 1001 utilidades? O Oceano no Fim do Caminho tem fantasia, é divertido, gostosíssimo de ler e ainda é um tanto profundo. Assim, tudo em um!Além disso, com o lançamento mais recente de Neil Gaiman, Mitologia Nórdica, e com a estreia da série Deuses Americanos (baseada no livro homônimo), a empolgação para ler tudo quanto possível do autor só faz crescer!
DA EXPERIÊNCIA
A-D-O-R-E-I!!! Foi uma excelente porta de entrada para entrar no universo de Gaiman e começar a conhecer de pertinho suas obras.FEZ PENSAR
Este é um daqueles casos em que um bom quote fala por nós...- Vou dizer uma coisa importante para você. Os adultos também não se parecem com adultos por dentro. Por fora, são grandes e desatenciosos e sempre sabem o que estão fazendo. Por dentro, eles se parecem com o que sempre foram. Com o que eram quando tinham a sua idade. A verdade é que não existem adultos. Nenhum, no mundo inteirinho.
Onde comprar: Amazon
Título: O Oceano no Fim do Caminho
Título original: The Ocean at the End of the Lane
Autor(a): Neil Gaiman
Tradução: Renata Pettengill
Editora: Intrínseca
Edição: 2013
Ano da obra: 2013
Páginas: 208
Aline T.K.M.
Criou o Livro Lab há 12 anos e se dedicar a este projeto é uma das coisas que mais ama fazer, além de estar em contato com os mais variados tipos de expressões artísticas. Tem paixão por cinema, viajar e conhecer outras culturas. Ah, e ama ler em francês!
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