Resenha: Um Estranho Numa Terra Estranha, de Robert A. Heinlein
Aleph 10 de outubro de 2017 Aline T.K.M. 2 comentários
Valentine Michael Smith é um humano que foi criado por marcianos. Já adulto, ele é trazido à Terra, onde, pela primeira vez, terá contato com seus iguais.
Muito além da adaptação física, Mike – como passa a ser chamado – passará por um longo processo para compreender os hábitos, as regras sociais e a moral dos terráqueos. Ao mesmo tempo, ele tentará fazer entender seus conceitos e perspectiva de vida aos seus novos companheiros na Terra.
Eis aqui a premissa de Um Estranho Numa Terra Estranha, de Robert A. Heinlein, uma obra-prima da ficção científica que passou de best-seller a clássico cult. Publicado pela primeira vez em 1961, o livro foi um verdadeiro fenômeno e foi considerado um ícone da contracultura, além de ter influenciado toda uma geração.
Tão logo chega à Terra, o Homem de Marte é mantido isolado em um hospital. Quase ninguém tem acesso a ele, o que causa um burburinho geral e também atrai a atenção do jornalista Ben Caxton, que tem um romance com a enfermeira Jill Boardman.
Não demora a ficar claro que Mike é objeto de interesse de governantes e de gente poderosa, e que, justamente por isso, pode correr perigo. Ben e Jill têm noção dos riscos a que Mike está exposto – ao Homem de Marte é associado um imenso poder financeiro e também o poder sobre o seu planeta de origem. Ben e Jill decidem, então, proteger Mike, cuja inocência é a de um garoto que reconhece que “é apenas um ovo”.
O homem marciano que precisa aprender a tornar-se humano, mas tendo que lidar com todas as habilidades e poderes que adquiriu em sua criação no planeta vermelho é, por vezes, comparado ao Mogli do clássico de Kipling. O fato é que Mike é tão alienígena para os terráqueos quanto estes o são para ele.
Dentre as várias peculiaridades de Mike, é legal mencionar três delas. A primeira é o ritual de compartilhar água, que, para os marcianos, une duas ou mais pessoas em um elo de confiança e proteção incondicionais. A segunda é a incrível habilidade de controlar o próprio metabolismo. E a terceira peculiaridade é o uso da palavra marciana grokar, que passa a ser amplamente utilizada por todos e que compreende uma série de significados, dependendo do contexto.
Em determinado momento, surge a figura de Jubal Harshaw, o personagem mais interessante do livro. Excêntrico, amante da arte de Rodin e portando um lado um tanto machista e conservador, ele também é uma espécie de pai, aquele que protege e é admirado por todos, inclusive por Mike. Sua casa é praticamente aberta e abriga, além de seus funcionários e suas três secretárias, todos os amigos que aparecerem.
Muito além da adaptação física, Mike – como passa a ser chamado – passará por um longo processo para compreender os hábitos, as regras sociais e a moral dos terráqueos. Ao mesmo tempo, ele tentará fazer entender seus conceitos e perspectiva de vida aos seus novos companheiros na Terra.
Eis aqui a premissa de Um Estranho Numa Terra Estranha, de Robert A. Heinlein, uma obra-prima da ficção científica que passou de best-seller a clássico cult. Publicado pela primeira vez em 1961, o livro foi um verdadeiro fenômeno e foi considerado um ícone da contracultura, além de ter influenciado toda uma geração.
Tão logo chega à Terra, o Homem de Marte é mantido isolado em um hospital. Quase ninguém tem acesso a ele, o que causa um burburinho geral e também atrai a atenção do jornalista Ben Caxton, que tem um romance com a enfermeira Jill Boardman.
Não demora a ficar claro que Mike é objeto de interesse de governantes e de gente poderosa, e que, justamente por isso, pode correr perigo. Ben e Jill têm noção dos riscos a que Mike está exposto – ao Homem de Marte é associado um imenso poder financeiro e também o poder sobre o seu planeta de origem. Ben e Jill decidem, então, proteger Mike, cuja inocência é a de um garoto que reconhece que “é apenas um ovo”.
O homem marciano que precisa aprender a tornar-se humano, mas tendo que lidar com todas as habilidades e poderes que adquiriu em sua criação no planeta vermelho é, por vezes, comparado ao Mogli do clássico de Kipling. O fato é que Mike é tão alienígena para os terráqueos quanto estes o são para ele.
Dentre as várias peculiaridades de Mike, é legal mencionar três delas. A primeira é o ritual de compartilhar água, que, para os marcianos, une duas ou mais pessoas em um elo de confiança e proteção incondicionais. A segunda é a incrível habilidade de controlar o próprio metabolismo. E a terceira peculiaridade é o uso da palavra marciana grokar, que passa a ser amplamente utilizada por todos e que compreende uma série de significados, dependendo do contexto.
Em determinado momento, surge a figura de Jubal Harshaw, o personagem mais interessante do livro. Excêntrico, amante da arte de Rodin e portando um lado um tanto machista e conservador, ele também é uma espécie de pai, aquele que protege e é admirado por todos, inclusive por Mike. Sua casa é praticamente aberta e abriga, além de seus funcionários e suas três secretárias, todos os amigos que aparecerem.
A trama reserva muitas – muitas! – reviravoltas e surpresas, o que deixa a gente na euforia ao pensar nas quase 600 páginas do livro. Além disso, carrega um tom provocativo e satírico, bem como uma ironia inteligente ao questionar convicções e incitar à reavaliação de conceitos e preconceitos numa época tão emblemática, em termos de transformações culturais e morais, como foi a década de 60.
O sexo e a religião foram os aspectos mais cutucados pelo autor. A ideia do amor livre e coletivo tira o sexo da caixinha do tabu para representar a forma essencial de aproximação e entendimento mútuo entre os seres humanos.
Já no campo da religião, vemos uma igreja que pratica shows quase burlescos com mulheres e cobras, e mais adiante acompanhamos o nascer de uma instituição que mistura todas as crenças e que prega a vida em comunidades onde o amor livre é tão natural quanto necessário.
Não à toa, Um Estranho Numa Terra Estranha foi reverenciado pelas comunidades hippies na época de sua publicação, tendo sido até mesmo levado a sério demais por alguns que, erroneamente, acharam no livro uma espécie de guia para um estilo de vida diferente, e que viram no autor algo como um guru.
Entretanto, apesar dos questionamentos e reflexões, muitos traços e atitudes ainda permanecem no campo conservador. O modo como os personagens masculinos se relacionam com as mulheres é bastante machista – assim como o próprio lugar em que as personagens femininas se colocam.
Também na questão do amor livre, há passagens que sugerem o sexo coletivo incluindo pessoas do mesmo sexo, mas a sugestão pende muito mais para as relações entre mulheres do que entre homens. E vemos mesmo Mike se referindo ao sexo como uma dádiva entre homem e mulher. Ou seja, é livre, mas ainda não chega a ser assim tão livre de todos os tabus.
O sexo e a religião foram os aspectos mais cutucados pelo autor. A ideia do amor livre e coletivo tira o sexo da caixinha do tabu para representar a forma essencial de aproximação e entendimento mútuo entre os seres humanos.
Já no campo da religião, vemos uma igreja que pratica shows quase burlescos com mulheres e cobras, e mais adiante acompanhamos o nascer de uma instituição que mistura todas as crenças e que prega a vida em comunidades onde o amor livre é tão natural quanto necessário.
Não à toa, Um Estranho Numa Terra Estranha foi reverenciado pelas comunidades hippies na época de sua publicação, tendo sido até mesmo levado a sério demais por alguns que, erroneamente, acharam no livro uma espécie de guia para um estilo de vida diferente, e que viram no autor algo como um guru.
Entretanto, apesar dos questionamentos e reflexões, muitos traços e atitudes ainda permanecem no campo conservador. O modo como os personagens masculinos se relacionam com as mulheres é bastante machista – assim como o próprio lugar em que as personagens femininas se colocam.
Também na questão do amor livre, há passagens que sugerem o sexo coletivo incluindo pessoas do mesmo sexo, mas a sugestão pende muito mais para as relações entre mulheres do que entre homens. E vemos mesmo Mike se referindo ao sexo como uma dádiva entre homem e mulher. Ou seja, é livre, mas ainda não chega a ser assim tão livre de todos os tabus.
No mais, o livro possibilita muitas e diferentes leituras, e é repleto de passagens hilárias na mesma proporção que aparecem os diálogos mais profundos sobre o ser humano, a vida e a fé.
Para quem tiver curiosidade – e é impossível não ter! – sobre o papel deste livro na contracultura e as referências e significados dos elementos da trama, tenho algo lindo para contar: ele vem com uma parte de extras bem bacana e também traz um prefácio assinado por ninguém menos que Neil Gaiman. Ou seja, já deu para sacar a importância que tem essa obra, né?!
Vencedor do Prêmio Hugo de melhor romance de ficção científica, Um Estranho Numa Terra Estranha é aquele livro que, antes de ler, a gente acha que está prestes a mergulhar em algo transformador. Ao terminar a leitura, dando aquela respirada e terminando de digerir a coisa toda, vem a confirmação de quão fundamental este livro é.
Plus: o livro tem playlist no Spotify, minha gente! De Beatles a Tame Impala, passando por Pink Floyd e MGMT. Ouve só!
Para quem tiver curiosidade – e é impossível não ter! – sobre o papel deste livro na contracultura e as referências e significados dos elementos da trama, tenho algo lindo para contar: ele vem com uma parte de extras bem bacana e também traz um prefácio assinado por ninguém menos que Neil Gaiman. Ou seja, já deu para sacar a importância que tem essa obra, né?!
Vencedor do Prêmio Hugo de melhor romance de ficção científica, Um Estranho Numa Terra Estranha é aquele livro que, antes de ler, a gente acha que está prestes a mergulhar em algo transformador. Ao terminar a leitura, dando aquela respirada e terminando de digerir a coisa toda, vem a confirmação de quão fundamental este livro é.
LEIA PORQUE
É uma obra icônica, que marcou uma época e uma geração, e que ainda segue bastante atual. Além disso, a gente sabe que Heinlein é um dos mais importantes autores de sci-fi, e isso por si só já é uma razão para ler o livro.Plus: o livro tem playlist no Spotify, minha gente! De Beatles a Tame Impala, passando por Pink Floyd e MGMT. Ouve só!
DA EXPERIÊNCIA
Meu primeiro Heinlein – apesar de ter Tropas Estelares na fila há um tempo. Amei por tudo o que expliquei em todas as linhas acima.FEZ PENSAR
Essa relação entre Mike e os terráqueos, o estranhamento mútuo e, então, a aproximação e a apropriação de costumes e estilo de vida me fez pensar em O Livro das Coisas Estranhas, de Michel Faber – que, inclusive, também aborda a religião e a fé.
Onde comprar: Amazon
Título: Um Estranho Numa Terra Estranha
Título original: Stranger in a strange land
Autor(a): Robert A. Heinlein
Tradução: Edmo Suassuna
Editora: Aleph
Edição: 2017
Ano da obra: 1961
Páginas: 576
Aline T.K.M.
Criou o Livro Lab há 12 anos e se dedicar a este projeto é uma das coisas que mais ama fazer, além de estar em contato com os mais variados tipos de expressões artísticas. Tem paixão por cinema, viajar e conhecer outras culturas. Ah, e ama ler em francês!
2 comentários
Li faz 40 anos, alguns volumes de edição portuguesa Argonauta. A resenha é ótima. ❤️ Parabéns!
ResponderExcluirAh, ficou anônimo. Comentário de Artur Wagner.
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