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Filme obrigatório, Invisível aborda juventude esquecida e toca em tema delicado

Aborto 10 de novembro de 2017 Aline T.K.M. 6 comentários

Obrigatório, filme de Pablo Giorgelli, Invisível, aborda juventude esquecida e toca em tema delicado

Do argentino Pablo Giorgelli – diretor do premiado Las Acacias –, Invisível chegou aos cinemas esta semana e é aquele tipo de filme que eu recomendaria geral, para todo mundo MESMO.

Ao trazer o dilema de uma adolescente que descobre uma gravidez indesejada, o longa mostra não apenas uma juventude, mas toda uma parcela da população, que se encontra imersa em abandono e sem muitas perspectivas para o futuro. Um filme sobre solidão, sobre falta de apoio, e que traz à tona um tema delicado: a ilegalidade do aborto.

Obrigatório, filme de Pablo Giorgelli, Invisível, aborda juventude esquecida e toca em tema delicado

Ely (Mora Arenillas) tem 17 anos, mora no bairro La Boca, em Buenos Aires, e, além de estudante, trabalha em um pet shop para complementar a renda familiar. Ela vive sozinha com a mãe, que está em condição fragilizada. Para complicar ainda mais a vida da garota, Ely engravida de Raúl (Diego Cremonesi), o dono do pet shop em que trabalha.

A descoberta da gravidez mexe muito com a jovem. Ter o bebê parece não ser uma opção a ser considerada; mas, mesmo neste dilema, não há ninguém ao seu lado, realmente disposto a apoiá-la – menos ainda o Estado. Completamente perdida, Ely se vê prestes a tomar uma decisão que mudará para sempre a sua vida.

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Coprodução entre Brasil, Argentina, Uruguay e Alemanha, Invisível é um filme obrigatório primeira e principalmente por um motivo bem simples: faz pensar em coisas que não queremos e não gostamos de pensar.

Mais do que uma história fechadinha, com começo, meio e fim, o longa traz um recorte da vida de uma jovem extremamente solitária, para quem o futuro parece algo ainda muito distante. Sua vida se resume a suprir as necessidades básicas do presente – se alimentar, dormir, ter sexo esporádico. Uma adolescência tão desbotada quanto as cores na fotografia do filme. Sem sorrisos nem trilha sonora, uma adolescência um tanto silenciosa demais. E, principalmente, invisível – como a própria Ely e também sua mãe, com saúde frágil e que enfrenta problemas com o local de trabalho.

O tempo todo acompanhamos a história pela perspectiva da protagonista e, com isso, nos aproximamos dela e nos envolvemos em um nível maior com o extenso material de reflexão trazido pelo filme.

Com a descoberta da gravidez, a questão do aborto entra em cena como uma possível solução, mas também como mais um problema. Ainda um tabu, a prática permanece ilegal em muitos países, como o Brasil e a Argentina (onde se passa o filme), e essa situação afeta especialmente as mulheres – de todas as idades – das camadas menos favorecidas da população. Além disso, meninas e meninos de todas as classes sociais ainda contam com o agravante de passarem pela adolescência sem um programa eficiente de educação sexual, o que contribui para o crescimento dos índices de gravidez na juventude.

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O dilema da protagonista é forte, uma vez que o aborto só se torna possível nas condições impostas por sua ilegalidade, o que significa se arriscar em clínicas clandestinas. Ou então a utilização de medicamentos sem qualquer orientação, também colocando a própria vida em risco e não garantindo a efetividade do aborto – a criança pode vir a nascer, e com graves sequelas. A outra opção seria ter o bebê, que viria num lar sem estrutura física e psicológica para recebê-lo.

Fica claro que todas as opções desfavorecem o lado de Ely, o lado da adolescente e da mulher. Ou seja, a questão vai muito além, uma vez que toca na liberdade e no poder de decisão da mulher sobre o próprio corpo. Poder que lhe é roubado por uma sociedade sexista e retrógrada, ao impedir que o aborto legal e seguro possa ser uma opção.

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O desfecho do filme é, sem dúvida, um ponto particularmente interessante: a maneira como ele pode ser percebido pelo espectador é muito relativa. Os momentos finais e o rumo que a protagonista toma pode tanto suscitar uma espécie de alívio “torto”, quanto a entrega a um desespero sem saída.

No entanto, é unânime a percepção da transformação iminente na vida de Ely, acarretada pela falta de assistência de uma sociedade que insiste em manter invisíveis aqueles que mais precisam de seu apoio.

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Ainda que o foco em Invisível esteja na solidão e na carência de meios com os quais lidar com a juventude e apoiá-la em seus mais diversos aspectos, é quase impossível não evocar o tema aborto e, mais ainda, finalizar este texto pensando nisso e na situação da mulher na sociedade.

Enquanto a prática do aborto é legal em praticamente toda a Europa, nos Estados Unidos e Canadá, e em parte da Ásia, nos resta refletir sobre a importância da questão e exigir uma legislação mais justa e democrática nesse sentido. Uma legislação que seja parte de todo um conjunto de condições que possam, finalmente, tirar a mulher de seu estado de invisibilidade.

TRAILER E FICHA TÉCNICA


Ely (Mora Arenillas) tem 17 anos e mora no bairro da Boca, em Buenos Aires. Ela cursa o último ano do ensino médio e trabalha num pet shop para completar a renda familiar. Ao descobrir que está grávida de Raúl (Diego Cremonesi), o dono do pet shop, seu mundo interno colapsa. Enquanto tenta manter sua rotina diária como se nada tivesse acontecido ela é tomada pelo medo e angústia. A sociedade que a pressiona e o estado de saúde frágil da sua mãe a isolam e a obrigam a amadurecer precocemente. Tomar a decisão que mudará sua vida para sempre lhe permitirá ter um novo começo.



Invisível (Invisible) – 90 min.
Argentina | Brasil | Uruguai | Alemanha | França – 2017
Direção: Pablo Giorgelli
Roteiro: Pablo Giorgelli
Elenco: Mora Arenillas, Mara Bestelli, Diego Cremonesi, Estrela Strauss, Andrés Schaffer, Michael Wahrmann, Fabiana Uría, Agustina Fernández

Estreia: 9 de novembro

Aline T.K.M.
Criou o Livro Lab há 12 anos e se dedicar a este projeto é uma das coisas que mais ama fazer, além de estar em contato com os mais variados tipos de expressões artísticas. Tem paixão por cinema, viajar e conhecer outras culturas. Ah, e ama ler em francês!

 

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6 comentários

  1. Ainda não conhecia, já quero assistir. Obrigada pela dica :D

    http://submersa-em-palavras.blogspot.com.br/

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  2. Oi, Aline! Esse é um dos filmes que eu provavelmente iria passar, se visse na lista, mas a tua resenha me encheu de vontade de assisti-lo. É muito importante levantarmos essas questões ainda tabus na sociedade, e fazer as pessoas pensarem nelas. Instigar aquela coceirinha incômoda das coisas sobre as quais nós não queremos falar. Obrigada pela indicação. Tuas resenhas são top! :)

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    1. Oi Gabi, que legal ver seu comentário aqui! <3 Esse filme realmente deixa um caminho aberto para a reflexão, e de um jeito bem cru, sem excessos. Com certeza acho que é tempo de as pessoas deixarem de lado certas convenções e crenças, e passarem a realmente pensar no que faz sentido para a sociedade e para as vidas que todos os dias são atingidas de alguma maneira. Eu que agradeço sua visita! ^^ Se você for ver o filme, depois me conta o que achou! Beijo!

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  3. Oi Aline T.K.M.
    Sou eu, Elvis_Poeta!!
    Sua percepçao disse tudo!! Assiti ao filme ontem e, confesso que ele me deixou tenso, pela personagem e por todo o ambiente em volta. O pai da criança, o dono da pet shop, tem uma atitude extremamente maxista ao dizer que ela estava fazendo a coisa certa. Como voce mesmo citou, brilhantemente, morar em um bairro sem condiçoes para se criar um filho descentemente faz a mente dela virar um turbilhao. Ela se divide no querer ter o filho, ao ver as maes no parque, e em abortar, pois sabe que nao pode contar ao pai, que é casado. Alem disso, percebi que a mae sofre de uma grave depressao(acredite eu sei porque tambem tenho depressao), o que faz com que ela fique mais confusa. Confesso, temi muito pela vida dela. Mas muito mesmo. Nao só dela. Mas como isso iria impactar no futuro, caso acontecesse o aborto. Estamos lidando com uma situaçao delicada, onde a mulher é privada do seu poder de decisão. Pela lei, pela comunidade medica,pela sociedade. È preciso colocar em pauta que, é uma decisao das mulheres. E a discussao vai mais alem. Envolve condiçoes financeiras, sociais e psicologicas. Espero que tenha gostado do meu comentario. Se gostou, me responde no Instagram e, se voce nao viu o meu Instagram, de uma olhadinha e me segue. Seria uma honra para mim!! Bjos!! Bom Dia!!

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    1. Heyy!! Adorei ver seu comentário por aqui! <3 Com certeza é um filme que tem muito mais camadas do que aparenta, traz uma discussão que vai muito longe e que envolve uma série de fatores. Eu sou totalmente a favor da legalização do aborto, primeira e simplesmente pensando no direito da mulher de ser soberana de seu próprio corpo. Sei que muita gente é contra e que faz relações - a meu ver, um tanto simplistas demais - com a legalização e a uma possível "baderna geral", a banalização do aborto. O que eu discordo. Mas acho que o mais interessante é que o filme fala, acima de tudo, da juventude que ainda está muito desamparada em tantos aspectos, e essa parte da gravidez/aborto é apenas mais um deles.
      Ah sim, vou ver se insta, mas eu não te sigo já por lá??!! Vou conferir isso, porque eu sou completamente lesada e desmemoriada, num liga não! Beijão e obrigada pelo comentário! E, de novo, fico feliz que tenha ido assistir ao filme e gostado também!

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