Ninguém Está Olhando: temas interessantes, mas pouco desenvolvidos
Cinema argentino 21 de novembro de 2017 Aline T.K.M. Nenhum comentário
Vencedor do 27º Cine Ceará – Festival Ibero-Americano de Cinema, o argentino Ninguém Está Olhando chega aos cinemas nesta semana.
O filme de Julia Solomonoff apresenta a história de Nico (Guillermo Pfening), um ator de novelas argentino com carreira promissora em seu país, mas que decidiu partir para tentar uma carreira internacional em Nova York.
Enquanto aguarda o trabalho num longa que está sempre sendo adiado por questões de financiamento, Nico sobrevive fazendo bicos e também é babá do bebê de uma amiga. Além disso, comete pequenos furtos e golpes.
O filme de Julia Solomonoff apresenta a história de Nico (Guillermo Pfening), um ator de novelas argentino com carreira promissora em seu país, mas que decidiu partir para tentar uma carreira internacional em Nova York.
Enquanto aguarda o trabalho num longa que está sempre sendo adiado por questões de financiamento, Nico sobrevive fazendo bicos e também é babá do bebê de uma amiga. Além disso, comete pequenos furtos e golpes.
Um ou outro teste de elenco também faz parte do seu dia a dia, mas aí também enfrenta um problema: sua aparência não condiz com o estereótipo latino – Nico é loiro e tem pele bem clara –, mas por causa do sotaque muito carregado também não se adequa aos papéis americanos.
À medida que vamos acompanhando sua vida de fingimentos e aparências, percebemos os verdadeiros motivos pelos quais ele deixou seu país natal.
À medida que vamos acompanhando sua vida de fingimentos e aparências, percebemos os verdadeiros motivos pelos quais ele deixou seu país natal.
Ao simplesmente resvalar em vários temas, Ninguém Está Olhando acaba não se aprofundando em nenhum. Algumas discussões poderiam ter sido mais desenvolvidas, mas o longa apenas nos entrega um vislumbre delas, algo muito en passant.
A questão dos imigrantes ilegais que vão tocando suas vidas como podem, as garotas estrangeiras que trabalham como babás, a dificuldade de engatar uma carreira artística internacional na terra dos grandes astros do cinema. Ou mesmo questões mais individuais, como a delicada situação emocional do protagonista, o relacionamento tumultuado que ainda mexe muito com ele. Tudo isso poderia ter sido mais trabalhado aqui ou, também, mostrado a partir de uma perspectiva mais incisiva.
Saí da sessão ainda “me decidindo” em relação a minha opinião geral sobre o filme, e um tanto insatisfeita com o fato de ter esperado encontrar muitas coisas que não encontrei.
A questão dos imigrantes ilegais que vão tocando suas vidas como podem, as garotas estrangeiras que trabalham como babás, a dificuldade de engatar uma carreira artística internacional na terra dos grandes astros do cinema. Ou mesmo questões mais individuais, como a delicada situação emocional do protagonista, o relacionamento tumultuado que ainda mexe muito com ele. Tudo isso poderia ter sido mais trabalhado aqui ou, também, mostrado a partir de uma perspectiva mais incisiva.
Saí da sessão ainda “me decidindo” em relação a minha opinião geral sobre o filme, e um tanto insatisfeita com o fato de ter esperado encontrar muitas coisas que não encontrei.
No ritmo caótico de Nova York, Nico é apenas mais um. Para dificultar, ele ainda faz parte de uma minoria desfavorecida e à margem da sociedade – é latino, está nos Estados Unidos em situação ilegal e é gay.
Desde o início, a solidão caminha ao seu lado e só aumenta conforme se multiplicam as suas frustrações – a carreira internacional parece algo cada vez mais longínquo. Sua válvula de escape – e o único aspecto realmente autêntico em sua vida – é a relação com o bebê de sua amiga, de quem ele cuida e com quem passa grande parte do tempo.
Desde o início, a solidão caminha ao seu lado e só aumenta conforme se multiplicam as suas frustrações – a carreira internacional parece algo cada vez mais longínquo. Sua válvula de escape – e o único aspecto realmente autêntico em sua vida – é a relação com o bebê de sua amiga, de quem ele cuida e com quem passa grande parte do tempo.
Uma coisa que achei interessante é que o filme revela um sentimento/comportamento muito comum naqueles que acabam de deixar seu lar para viver sozinhos em outro país. É algo como “não estar nem lá nem cá”; o pensamento fica lá no país de origem, e a pessoa vai vivendo numa espécie de limbo, sem foco, quase no automático. Até que essa situação faz da realidade algo frustrante e mesmo torturante, já que todo o emocional ainda reside naquele lugar e realidade que não são mais as suas.
Muitas vezes me peguei pensando por que é que eu não conseguia me conectar ao protagonista. Não rolou empatia, qualquer afeição, nem mesmo aquela torcida para que as coisas dessem certo para ele.
Cheguei à conclusão de que isso aconteceu porque, em nenhum momento, foi possível alcançar os pensamentos de Nico, seus sentimentos mais genuínos, suas motivações e mesmo a intensidade daquilo que o movia a levar uma vida baseada em mentiras, mesmo tendo propostas artísticas tentadoras na Argentina. Por que manter um orgulho besta, mas tão humano ao mesmo tempo; por que não buscar reconstruir uma vida nesse outro lugar em vez de apenas fugir. Faltou profundidade e um conjunto de nuances em Nico e nos demais personagens também.
E, no entanto, ao considerar o perfil de Nico, ele é um protagonista interessante. Mas a construção chapada acabou matando meu interesse nele e em sua evolução ao longo da trama.
Cheguei à conclusão de que isso aconteceu porque, em nenhum momento, foi possível alcançar os pensamentos de Nico, seus sentimentos mais genuínos, suas motivações e mesmo a intensidade daquilo que o movia a levar uma vida baseada em mentiras, mesmo tendo propostas artísticas tentadoras na Argentina. Por que manter um orgulho besta, mas tão humano ao mesmo tempo; por que não buscar reconstruir uma vida nesse outro lugar em vez de apenas fugir. Faltou profundidade e um conjunto de nuances em Nico e nos demais personagens também.
E, no entanto, ao considerar o perfil de Nico, ele é um protagonista interessante. Mas a construção chapada acabou matando meu interesse nele e em sua evolução ao longo da trama.
Pensando nisso tudo, Ninguém Está Olhando acaba sendo um filme insosso, com um protagonista que a gente nem chega a conhecer, de fato. Um filme com muitas boas histórias para contar, mas que preferiu não desdobrar nenhuma delas. Interessante e ok são adjetivos possíveis aqui, mas só.
Nico (Guillermo Pfening), um ator argentino de televisão de sucesso em seu país, tenta sorte em Nova York, mas logo descobre que não encaixa no clichê do ator latino. Sua boa aparência o ajuda a esconder a solidão e a vida precária. Ele sobrevive de bicos e trabalhando como baby-sitter, cuidando do menino Theo. Conhece um grupo de babás latinas no parque que frequenta e entra em contato com as experiências dos imigrantes, muito mais difícil que o confronto com a natureza destrutiva de seu autoexílio.
TRAILER E FICHA TÉCNICA
Nico (Guillermo Pfening), um ator argentino de televisão de sucesso em seu país, tenta sorte em Nova York, mas logo descobre que não encaixa no clichê do ator latino. Sua boa aparência o ajuda a esconder a solidão e a vida precária. Ele sobrevive de bicos e trabalhando como baby-sitter, cuidando do menino Theo. Conhece um grupo de babás latinas no parque que frequenta e entra em contato com as experiências dos imigrantes, muito mais difícil que o confronto com a natureza destrutiva de seu autoexílio.
Ninguém Está Olhando (Nadie Nos Mira) – 102 min.
Argentina – 2017
Direção: Julia Solomonoff
Roteiro: Christina Lazaridi, Julia Solomonoff
Elenco: Guillermo Pfening, Elena Roger, Rafael Ferro, Marco Antonio Caponi, Paola Baldion, Mayte Montero, Cristina Morrison, Petra Costa
Estreia: 23 de novembro
Aline T.K.M.
Criou o Livro Lab há 12 anos e se dedicar a este projeto é uma das coisas que mais ama fazer, além de estar em contato com os mais variados tipos de expressões artísticas. Tem paixão por cinema, viajar e conhecer outras culturas. Ah, e ama ler em francês!
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