Verão 1993: abordagem sensível do luto e adaptação de uma criança a uma nova vida
Aids 8 de dezembro de 2017 Aline T.K.M. 2 comentários
Representante espanhol ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e estreia da diretora Carla Simón, Verão 1993 chega aos cinemas esta semana e surpreende pela sensibilidade e autenticidade da trama e do roteiro.
O longa – autobiográfico – traz a história de Frida, uma menina de seis anos que, após ter perdido o pai, se vê órfã de mãe, vítima da Aids.
A garota, então, vai viver com os tios e uma prima mais nova em uma cidadezinha no interior da Espanha, na Catalunha. Enquanto assimila a morte da mãe, Frida também precisa passar pelo processo de adaptação em uma nova família, em um novo lugar.
O longa – autobiográfico – traz a história de Frida, uma menina de seis anos que, após ter perdido o pai, se vê órfã de mãe, vítima da Aids.
A garota, então, vai viver com os tios e uma prima mais nova em uma cidadezinha no interior da Espanha, na Catalunha. Enquanto assimila a morte da mãe, Frida também precisa passar pelo processo de adaptação em uma nova família, em um novo lugar.
Verão 1993 é um filme de silêncios, de tristezas sufocadas e quase contraditórias quando inseridas no cenário bucólico e ensolarado de uma pequena cidade catalã. Aqui, as entrelinhas vêm bastante recheadas e a sensibilidade não é aquela óbvia, à flor da pele.
O filme não apenas acompanha o processo de adaptação e entendimento de uma criança que acaba de perder a mãe, como também traz um contexto delicado envolvendo essa perda. Vale lembrar que estamos no início da década de 90, época em que a epidemia da Aids ainda era recente e, com o difícil acesso aos medicamentos antirretrovirais, matava implacavelmente muitos soropositivos. Era assim especialmente na Espanha, o país com maior índice de Aids na Europa nesse período.
Levando tudo isso em consideração, é verdade que a história tem forte carga dramática, mas nem por isso é sentimentaloide. Aliás, é bem o oposto; o drama aqui é algo que se sente, que se respira, muito mais do que se vê estampado na tela.
O filme não apenas acompanha o processo de adaptação e entendimento de uma criança que acaba de perder a mãe, como também traz um contexto delicado envolvendo essa perda. Vale lembrar que estamos no início da década de 90, época em que a epidemia da Aids ainda era recente e, com o difícil acesso aos medicamentos antirretrovirais, matava implacavelmente muitos soropositivos. Era assim especialmente na Espanha, o país com maior índice de Aids na Europa nesse período.
Levando tudo isso em consideração, é verdade que a história tem forte carga dramática, mas nem por isso é sentimentaloide. Aliás, é bem o oposto; o drama aqui é algo que se sente, que se respira, muito mais do que se vê estampado na tela.
Como mencionei no início, Verão 1993 é um filme autobiográfico, baseado na história pessoal da diretora, Carla Simón. Tudo aqui tem ligação com sua vida, desde as locações até os personagens, que foram inspirados em sua família.
Além disso, todos os elementos que remontam ao início dos anos 90 também tocam quem está do outro lado, assistindo ao filme. Roupas, calçados, brinquedos; impossível não lembrar com saudades o icônico Meu Primeiro Gradiente – um brinquedo semelhante faz a diversão das meninas no filme, e o original fez também a minha, quando tinha a mesma idade que elas.
Além disso, todos os elementos que remontam ao início dos anos 90 também tocam quem está do outro lado, assistindo ao filme. Roupas, calçados, brinquedos; impossível não lembrar com saudades o icônico Meu Primeiro Gradiente – um brinquedo semelhante faz a diversão das meninas no filme, e o original fez também a minha, quando tinha a mesma idade que elas.
O sentimento de nostalgia é reforçado pela maneira como a câmera capta os momentos dessa família e das meninas. Ela observa e divide tudo conosco quase que com a mesma simplicidade e proximidade que antigos vídeos de família.
Pois, na realidade, é isto que está se passando diante da gente. Momentos de uma família que, de repente, sofre uma mudança em sua estrutura e precisa reaprender a se organizar, se reconstruir e se apropriar novamente de seu papel. Enquanto Frida se adapta a sua nova situação, também sua nova família passa por um período de adaptação. Existe um esforço necessário – e nem sempre fácil e agradável – para receber essa nova filha, amá-la e compreendê-la em seu próprio período de assimilação.
Pois, na realidade, é isto que está se passando diante da gente. Momentos de uma família que, de repente, sofre uma mudança em sua estrutura e precisa reaprender a se organizar, se reconstruir e se apropriar novamente de seu papel. Enquanto Frida se adapta a sua nova situação, também sua nova família passa por um período de adaptação. Existe um esforço necessário – e nem sempre fácil e agradável – para receber essa nova filha, amá-la e compreendê-la em seu próprio período de assimilação.
É certo que não dá para falar de Verão 1993 sem mencionar a presença e a sensibilidade das duas meninas, que estão na tela praticamente todo o tempo. Confesso que sou suspeitíssima para falar, já que tenho gosto especial por produções que envolvem crianças.
A pequena Paula Robles, que interpreta Anna, é de uma fofura e naturalidade impressionantes. Mas é Laia Artigas quem ganha nosso olhar mais atento. A menina que dá vida a Frida transmite, em seu observar silencioso, toda a complexidade da dor da pequena personagem. Uma dor infantil, de quem ainda não compreende direito o que se passou – até então, ninguém se deu ao trabalho de realmente conversar com ela sobre as circunstâncias da morte da mãe.
A pequena Paula Robles, que interpreta Anna, é de uma fofura e naturalidade impressionantes. Mas é Laia Artigas quem ganha nosso olhar mais atento. A menina que dá vida a Frida transmite, em seu observar silencioso, toda a complexidade da dor da pequena personagem. Uma dor infantil, de quem ainda não compreende direito o que se passou – até então, ninguém se deu ao trabalho de realmente conversar com ela sobre as circunstâncias da morte da mãe.
A solidão e a sensação de estar perdida e de não mais pertencer a algum lugar são denunciadas pelos olhos e pelas atitudes, muitas vezes ambíguas, da menina. Com apenas seis anos, ela tanto digere a perda como reaprende a fazer parte de um lar.
O entendimento chega de repente, no meio de uma brincadeira. A mãe não vai voltar. Há uma nova família disposta a amá-la como filha. Pela primeira vez, Frida consegue chorar sua dor, e chora também o vislumbre da felicidade e do amor que a chamam.
Lágrimas de pesar, mas também lágrimas de alívio. Um choro infantil que, de certa maneira, ganha maturidade e emociona por tudo aquilo que carrega. Momento que faço questão de mencionar – me arrepiou e quase me levou às lágrimas junto com a pequena grande protagonista.
Espanha, verão de 1993. Após a morte de sua mãe, Frida (Laia Artigas), de seis anos de idade, se muda de Barcelona para o interior da Catalunha para viver com seus tios, que agora são seus responsáveis legais. Antes do verão acabar, a garota terá que aprender a lidar com suas emoções e se adaptar a sua nova vida com a nova família.
Lágrimas de pesar, mas também lágrimas de alívio. Um choro infantil que, de certa maneira, ganha maturidade e emociona por tudo aquilo que carrega. Momento que faço questão de mencionar – me arrepiou e quase me levou às lágrimas junto com a pequena grande protagonista.
TRAILER E FICHA TÉCNICA
Espanha, verão de 1993. Após a morte de sua mãe, Frida (Laia Artigas), de seis anos de idade, se muda de Barcelona para o interior da Catalunha para viver com seus tios, que agora são seus responsáveis legais. Antes do verão acabar, a garota terá que aprender a lidar com suas emoções e se adaptar a sua nova vida com a nova família.
Verão 1993 (Estiu 1993) – 97 min.
Espanha – 2017
Direção: Carla Simón
Roteiro: Carla Simón
Elenco: Laia Artigas, Paula Robles, Bruna Cusí, David Verdaguer, Paula Blanco, Etna Campillo, Jordi Figueras, Berta Pipó, Fermí Reixach, Isabel Rocatti, Montse Sanz
Estreia: 7 de dezembro
Aline T.K.M.
Criou o Livro Lab há 12 anos e se dedicar a este projeto é uma das coisas que mais ama fazer, além de estar em contato com os mais variados tipos de expressões artísticas. Tem paixão por cinema, viajar e conhecer outras culturas. Ah, e ama ler em francês!
2 comentários
Parabéns pela resenha. Esse filme é incrível e não resisti no fim e chorei junto com a protagonista.
ResponderExcluirDa pra sentir na pele a dor;eo amor!
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