De Volta: filme bonito, mas arrastado e repleto de lacunas
Cinema francês 24 de janeiro de 2018 Aline T.K.M. Nenhum comentário
Para aqueles que um dia deixaram seu país de origem, pelas razões mais diversas, o retorno vem sempre acompanhado do sentimento de amparo, colorido pela nostalgia de tempos já idos e adocicado pela ânsia do reencontro. Imagina-se e espera-se que seja assim.
De Volta, filme dirigido por Jihane Chouaib e estrelado pela iraniana Golshifteh Farahani (Dois Amigos), vem nos mostrar um outro lado, bem mais amargo, do retorno às origens. O filme estreará em breve nos cinemas e confesso que me deixou bastante dividida.
De Volta, filme dirigido por Jihane Chouaib e estrelado pela iraniana Golshifteh Farahani (Dois Amigos), vem nos mostrar um outro lado, bem mais amargo, do retorno às origens. O filme estreará em breve nos cinemas e confesso que me deixou bastante dividida.
Nada (Golshifteh Farahani) é uma jovem mulher libanesa que retorna ao país natal depois de muitos anos vivendo na França. Consigo ela traz apenas uma única mala de rodinhas, com a qual percorre ruas e mais ruas, e a esperança de encontrar respostas para um incidente do passado que permaneceu mal resolvido – o misterioso desaparecimento do avô durante a guerra civil, período em que milhares de pessoas “sumiram”.
Os flashbacks da infância se intercalam com o retorno de Nada à casa onde viveu, agora em ruínas, vandalizada e repleta de lixo e entulho. Um pouco como a desordem dentro de si, enquanto lida com a morte recente da tia e com o fato de todos preferirem fingir que nada aconteceu a remexer feridas do passado. O pai, ausente, é evocado por se importar apenas com o dinheiro da venda da casa; já o irmão, que se instala junto de Nada, prefere sempre o lado mais prático das coisas.
Um dos pontos mais interessantes em De Volta é que, conforme avança a história, descobrimos que estamos diante de uma protagonista não confiável. As memórias dos tempos de menina ainda mantêm algo do invólucro dourado da idealização; o olhar da Nada criança tanto revela como também oculta muito do que, à época, ela não teria – e não teve – estrutura para lidar.
Um dos pontos mais interessantes em De Volta é que, conforme avança a história, descobrimos que estamos diante de uma protagonista não confiável. As memórias dos tempos de menina ainda mantêm algo do invólucro dourado da idealização; o olhar da Nada criança tanto revela como também oculta muito do que, à época, ela não teria – e não teve – estrutura para lidar.
A relação quase de carne com o irmão Samir (Maximilien Seweryn) também nos ajuda a decifrar um pouco da protagonista. A necessidade do toque desde pequena, quase como para se certificar de que não está avulsa no mundo, contrasta com a aparente hermeticidade da adulta que retorna à casa.
Sem dúvida, Nada é uma personagem com sombras e camadas a serem descortinadas, tarefa à qual o filme não se dedica suficientemente. A obsessão pela verdade quanto ao ocorrido com o avô; o inconformismo perante o silêncio geral; a insistência em reafirmar suas raízes libanesas, enquanto é tratada como forasteira dentro do próprio país. Começamos a decifrar Nada, mas apenas começamos. Pena, pois saí do filme com a sensação de não ter chegado completamente ao âmago da protagonista – o que é bastante ruim, considerando que a personagem tende a “conquistar” a antipatia de quem assiste.
Sem dúvida, Nada é uma personagem com sombras e camadas a serem descortinadas, tarefa à qual o filme não se dedica suficientemente. A obsessão pela verdade quanto ao ocorrido com o avô; o inconformismo perante o silêncio geral; a insistência em reafirmar suas raízes libanesas, enquanto é tratada como forasteira dentro do próprio país. Começamos a decifrar Nada, mas apenas começamos. Pena, pois saí do filme com a sensação de não ter chegado completamente ao âmago da protagonista – o que é bastante ruim, considerando que a personagem tende a “conquistar” a antipatia de quem assiste.
Entretanto, a atuação de Golshifteh Farahani não deixa de ser um bom consolo. Equilibrada, e ainda intensa e expressiva, ela ora brinca com o irmão ora se entrega à escuridão e às lacunas que leva dentro de si, ao desamparo de quem busca respostas e um pedaço no mundo ao qual pertencer.
Levando tudo isso em consideração, os quase cem minutos de projeção parecem se alongar – de fato, o filme tem momentos bem arrastados. O cansaço final é atenuado - apenas atenuado - pela beleza do conjunto. Ainda assim, prefiro encerrar com uma recomendação: não espere tanto por respostas, mas prefira entregar-se aos sentimentos e a tudo aquilo que nunca é dito.
TRAILER E FICHA TÉCNICA
De Volta (Go Home) – 98 min.
França / Suíça / Bélgica – 2015
Direção: Jihane Chouaib
Roteiro: Jihane Chouaib
Elenco: Golshifteh Farahani, Maximilien Seweryn, François Nour, Julia Kassar, Mireille Maalouf, Mohammad Akil, Nasri Sayegh, Charbel Iskandar, Michel Adabachi, Wissam Farès
Estreia: breve
Aline T.K.M.
Criou o Livro Lab há 12 anos e se dedicar a este projeto é uma das coisas que mais ama fazer, além de estar em contato com os mais variados tipos de expressões artísticas. Tem paixão por cinema, viajar e conhecer outras culturas. Ah, e ama ler em francês!
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