Filme ‘A Câmera de Claire’: conflitos cotidianos e Isabelle Huppert com polaroid em punho
Cinema asiático 24 de maio de 2018 Aline T.K.M. Nenhum comentário
A premiada atriz francesa Isabelle Huppert está mais uma vez diante das lentes do cineasta sul-coreano Hong Sangsoo. Seu mais recente filme, A Câmera de Claire, estreia esta semana nos cinemas.
Minha primeira experiência com o cinema de Hong Sangsoo foi com O Dia Depois e, confesso, não foi de todo feliz. No entanto, A Câmera de Claire trouxe alguns aspectos que me atraíram no filme anterior, mas, desta vez, acompanhados de personagens mais instigantes e da presença de Huppert no elenco. Não é a primeira vez que a atriz trabalha com o diretor sul-coreano – em 2012, ela protagonizou o filme A Visitante Francesa.
Minha primeira experiência com o cinema de Hong Sangsoo foi com O Dia Depois e, confesso, não foi de todo feliz. No entanto, A Câmera de Claire trouxe alguns aspectos que me atraíram no filme anterior, mas, desta vez, acompanhados de personagens mais instigantes e da presença de Huppert no elenco. Não é a primeira vez que a atriz trabalha com o diretor sul-coreano – em 2012, ela protagonizou o filme A Visitante Francesa.
Durante o Festival de Cinema de Cannes, a parisiense Claire (Isabelle Huppert), uma professora de música e aspirante a poeta, percorre as ruas fotografando pessoas com sua polaroid. Num desses passeios fotográficos, ela conhece Jeon Manhee (Kim Minhee), que trabalha com cinema e que acaba de ser demitida sem explicação. Rápida e naturalmente, as duas acabam se tornando amigas.
Caminhando por Cannes, Claire também encontra outras pessoas que, coincidentemente, trabalham e têm conflitos com Jeon Manhee.
Caminhando por Cannes, Claire também encontra outras pessoas que, coincidentemente, trabalham e têm conflitos com Jeon Manhee.
O que acompanhamos é, na realidade, um recorte do momento vivido pelos personagens. A ausência de um gatilho mais potente para o desenrolar da história e de um desfecho marcante pode fazer com que o filme pareça senão perdido, pelo menos permanentemente ancorado num mesmo lugar. A falta de um clímax só faz acentuar tal percepção.
No entanto, essa possível percepção é apenas isso – uma percepção. Isso porque essa “cara de cotidiano puro e simples”, além de uma marca do diretor, é um dos atrativos do filme – embora não o seja para todos os espectadores.
Muito embora os conflitos entre os personagens cheguem a beirar o banal, combinados à atmosfera geral, e junto com a figura de Claire, resultam em um longa suficientemente notável.
No entanto, essa possível percepção é apenas isso – uma percepção. Isso porque essa “cara de cotidiano puro e simples”, além de uma marca do diretor, é um dos atrativos do filme – embora não o seja para todos os espectadores.
Muito embora os conflitos entre os personagens cheguem a beirar o banal, combinados à atmosfera geral, e junto com a figura de Claire, resultam em um longa suficientemente notável.
Entre os aspectos dignos de atenção estão o enquadramento e a bela fotografia, os ótimos diálogos e um quê filosófico nas palavras e no significado que Claire imprime às fotografias, as quais ela sempre oferece aos fotografados.
Único ponto crítico do longa, a cena de uma discussão de teor bastante sexista envolvendo Jeon Manhee foi, a meu ver, desnecessária e até absurda. A maneira como a coprotagonista se revela passiva diante do homem que crê ter o direito de ofendê-la contribui para que a personagem perca força e seja (ainda mais) ofuscada pela personagem de Huppert.
Único ponto crítico do longa, a cena de uma discussão de teor bastante sexista envolvendo Jeon Manhee foi, a meu ver, desnecessária e até absurda. A maneira como a coprotagonista se revela passiva diante do homem que crê ter o direito de ofendê-la contribui para que a personagem perca força e seja (ainda mais) ofuscada pela personagem de Huppert.
Apesar de deleitar os olhos, A Câmera de Claire não arrebata. Ainda assim, é um bom filme e merece ser visto por aqueles que se dispõem a tomar certa distância para observar (e apreciar) aquilo a que estamos tão habituados a ver ao nosso redor. O cotidiano e o banal não raro trazem peculiaridades, mas é preciso treinar olhos e ouvidos para reconhecê-las e enxergar o que se esconde nas entrelinhas.
TRAILER E FICHA TÉCNICA
A Câmera de Claire (La Caméra de Claire) – 69 min.
Coreia do Sul – 2017
Direção: Hong Sangsoo
Roteiro: Hong Sangsoo
Elenco: Isabelle Huppert, Kim Minhee, Chang Mihee, Jung Jinyoung, Shahira Fahmy, Yoon Heesun, Lee Wanmin, Kang Taeu, Mark Peranson
Estreia: 24 de maio
Aline T.K.M.
Criou o Livro Lab há 12 anos e se dedicar a este projeto é uma das coisas que mais ama fazer, além de estar em contato com os mais variados tipos de expressões artísticas. Tem paixão por cinema, viajar e conhecer outras culturas. Ah, e ama ler em francês!
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