Assistir a um filme do François Ozon é sempre a certeza de me deparar com uma trama intrincada, que desafia o psicológico e mexe com o emocional.

Pois fui conferir O Amante Duplo, o mais recente filme do diretor e destaque do Festival Varilux de Cinema Francês 2018, que iniciou esta semana, e as expectativas foram em muito superadas. O longa segue em exibição durante o festival, e estreia nos cinemas no dia 21 de junho.

Chloé (Marine Vacth) é uma ex-modelo de 25 anos que sofre constantemente de dores abdominais. Emocionalmente fragilizada, ela busca ajuda psicológica para as dores e acaba se envolvendo amorosamente com seu terapeuta, Paul (Jérémie Renier). Por razões éticas, ele encerra a terapia e indica uma colega para continuar o tratamento de Chloé – o relacionamento deles evolui e acabam indo morar juntos.

No entanto, Chloé não segue a indicação do ex-terapeuta e então companheiro, e resolve se consultar com outro psicólogo – o irmão gêmeo de Paul, de quem ela nunca tinha ouvido falar. Com isso, Chloé descortina uma parte da vida e da identidade de Paul que lhe era até então desconhecida.

Sem jamais suspeitarmos sobre o que os momentos finais nos reservam, embarcamos na trama de O Amante Duplo e nos deixamos seduzir por esse thriller a um só tempo sensual e psicológico. É um daqueles filmes em que muitas coisas não são o que parecem ser. Prestar atenção em cada mínimo detalhe e elemento só faz aumentar a delícia de nos percebermos enredados no imenso e perturbador nó psicológico no qual nos metem os personagens.

E que nó! As especulações com certeza povoarão os pensamentos do espectador por algum tempo, naquela ânsia de desvendar a natureza de cada cena, cada acontecimento.

Chloé é, sem dúvida, uma das personagens mais interessantes que tenho visto nos últimos tempos. Sexualmente reprimida e repleta de questões e traumas escondidos, ela se deixa levar, se liberta e ao mesmo tempo se ata à selvageria e à manipulação de Louis, o gêmeo e completo oposto de Paul. Depois de conhecê-lo, cada passo se torna arriscado e as descobertas se apresentam em fluxo contínuo e desesperador.

É impossível falar sobre O Amante Duplo sem mencionar o elenco do filme. Jérémie Renier é excelente como o duplo protagonista e Marine Vacth simplesmente rouba todas as atenções – encantadora e, ao mesmo tempo, presa em um profundo poço de destruição. Nas sutilezas e nos olhares que revelam a alma, é ali que a atriz nos ganha e convence.

Com um desfecho que não poderia ter sido melhor e que alimenta nossas sedentas mentes cinéfilas com perguntas e hipóteses, O Amante Duplo é filme obrigatório para a) fãs do cinema francês; b) aqueles que não perdem um filme do François Ozon; e c) admiradores de um bom thriller psicológico. Perturbador e irresistível. Assistam e tirem suas conclusões!

TRAILER E FICHA TÉCNICA

O Amante Duplo (L’amant double) – 107 min.
França/Alemanha/Bélgica – 2017
Direção: François Ozon
Roteiro: François Ozon
Elenco: Marine Vacth, Jérémie Renier, Jacqueline Bisset, Myriam Boyer, Fanny Sage, Dominique Reymond

Estreia: 7 de junho no Festival Varilux de Cinema Francês 2018 | 21 de junho nos cinemas