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‘Nico, 1988’: cru e devastador, filme retrata fase sombria dos últimos anos de Nico, antiga vocalista da banda The Velvet Underground

Cinema italiano 29 de agosto de 2018 Aline T.K.M. Nenhum comentário

Filme Nico, 1988 | Cinema

Ícone dos anos 1960, foi vocalista da banda The Velvet Underground, cantora solo, modelo, atriz, musa de Andy Warhol, encantou os cineastas Federico Fellini e Philippe Garrel, e encantou muitas outras personalidades por onde passou – por exemplo, Lou Reed e o ator francês Alain Delon, com quem teve um filho.

Refiro-me à mítica Christa Päffgen, ou Nico. A cantora e artista alemã é o centro do terceiro longa de Susanna Nicchiarelli, intitulado Nico, 1988, que retrata os dois últimos anos de vida de Nico – de 1986 a 1988, quando falece após um acidente de bicicleta.

Coprodução entre Itália e Bélgica, o drama biográfico traz a rotina da artista enquanto fazia shows pela Europa e lutava contra seus demônios particulares, tentando abandonar a heroína e buscando uma nova imagem como artista. O filme estreia esta semana nos cinemas.

Filme Nico, 1988 | Cinema

Fim da década de 80. Nico já não carrega nada da imagem da musa que um dia fora. Em plena decadência pessoal, o filme traz um recorte da trajetória da artista em seus momentos finais – do fundo do poço ao recomeço, em todas as facetas de sua vida. Não espere ver nada do glamour geralmente associado aos rock stars. A coisa aqui vai por um caminho diferente, mais sombrio, mais cruel.

Logo de cara, o recorte apresentado no longa me atraiu pela não obviedade. Seria de se esperar um filme que retratasse Nico em sua época de glória; porém, a simples escolha de se debruçar nos anos finais, em um período obscuro de sua vida, fez com que o filme mexesse com o meu interesse de um jeito especial.

Filme Nico, 1988 | Cinema

O vício, o fato de não ceder ao mainstream, e a busca por reconhecimento em sua carreira solo são alguns dos tópicos abordados no longa. E também temos um vislumbre da questão em torno de seu filho, Ari.

Ponto delicado na vida de Christa, o filho nunca foi reconhecido pelo pai, Alain Delon, apesar de ter sido criado pelos avós paternos. Já adolescente, a própria Christa o introduziria à heroína e compartilharia a droga com ele.

Curiosamente, meses atrás, na mídia francesa, Ari criticou duramente o filme de Nicchiarelli, bem como a maneira como sua mãe é retratada e interpretada pela atriz Trine Dyrholm.

Filme Nico, 1988 | Cinema

Nico, 1988 ganha pontos por não pesar a mão no drama e não utilizar o sentimentalismo como tempero. Sim, Christa carrega uma história complicada e bastante dramática, mas o filme é genialmente cru nesse sentido.

Ainda assim, a atmosfera é devastadora, um aspecto visceral e pungente nos acompanha do início ao fim da projeção. É a falta de beleza em inúmeros sentidos – inclusive na aparência da artista, que afirma não ter sido feliz quando era bonita – o que nos leva a encontrar o que está em ebulição dentro da controversa personagem, e, ao mesmo tempo, nos apresenta um outro tipo de beleza, algo como aquilo que se sente diante de um poema fúnebre.

Louvável, a performance da atriz dinamarquesa Trine Dyrholm engrandece o filme e é fundamental ao tecer essa Christa Päffgen que existia por trás do ícone Nico. É a própria atriz, inclusive, quem interpreta as músicas da artista, readaptadas para o filme.

Filme Nico, 1988 | Cinema

E, já que mencionei as músicas, não poderia deixar de dar atenção especial à trilha sonora. A readaptação das músicas de Nico é notável e não deixou nada a desejar, e a maneira como Trine as interpreta traz urgência e desolação, melancolia e desespero. Lindo de ver.

Aliás, vale lembrar que Nico foi, e continua sendo, uma figura importante na música. Experimental, com influências do rock, folk e também da música clássica, o som de Nico também exerceu impacto na cena do rock gótico e da new wave, tendo servido de influência para muitas bandas e artistas.

Filme Nico, 1988 | Cinema

Outro aspecto que vale a atenção é o visual do filme. O formato quadrado é um recurso interessante, entre outros, utilizado para reviver o final dos anos 80.


Nico, 1988 é um filme que merece ser visto, sentido, ouvido. Imperativo para quem conhece e admira o trabalho da cantora, e igualmente interessante para aqueles que não têm muita familiaridade com ela. E vou além: se você curte qualquer coisa com pegada mais underground, certamente não vai se arrepender de conferir esse filme no cinema.

TRAILER E FICHA TÉCNICA




Nico, 1988 – 93 min.
Itália / Bélgica – 2017
Direção: Susanna Nicchiarelli
Roteiro: Susanna Nicchiarelli
Elenco: Trine Dyrholm, John Gordon Sinclair, Anamaria Marinca, Sandor Funtek, Thomas Trabacchi, Karina Fernandez, Calvin Dembra, Francesco Colella

Estreia: 30 de agosto

Aline T.K.M.
Criou o Livro Lab há 12 anos e se dedicar a este projeto é uma das coisas que mais ama fazer, além de estar em contato com os mais variados tipos de expressões artísticas. Tem paixão por cinema, viajar e conhecer outras culturas. Ah, e ama ler em francês!

 

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