Verdadeira celebração da amizade feminina, o filme O Futuro Adiante narra os altos e baixos da relação entre duas amigas, da adolescência à idade adulta.

Protagonizado por Dolores Fonzi e Pilar Gamboa, este é o primeiro longa dirigido pela argentina Constanza Novick, que também é roteirista e produtora, e participou de alguns festivais, como o de Toronto, de Barcelona e do Rio. O filme estreou nesta semana nos cinemas.

Os segundos iniciais chegam provocando as lembranças mais nostálgicas da mulherada no cinema. Quem nunca passou tardes inteiras criando coreografias com a melhor amiga? Pois é! O Futuro Adiante começa com Romina e Flor, produzidíssimas, no meio de uma dancinha. Estamos em plena década de 80 – os penteados, maquiagens e figurino dão a dica.

As pré-adolescentes são melhores amigas, estudam juntas e vivem na casa uma da outra. As duas, aliás, são meio que apaixonadinhas pelo mesmo garoto – só que Flor gosta um pouco mais dele.

Em outro momento, vemos as amigas já adultas. Romina acaba de virar mãe de uma menina quando Flor reaparece em Buenos Aires e procura a amiga, depois de muito tempo sem se falarem.

Se na adolescência suas diferenças eram mais sutis, agora é perceptível que elas vivem fases bem diferentes e que suas personalidades são bastante dissonantes. Enquanto Romina é mais séria e discreta, Flor é dada a loucuras e vive a vida com a maior intensidade – uma eterna adolescente, eu diria.

Já num terceiro momento, Flor também tem uma filha e as meninas de ambas estão entrando na adolescência. A essa altura entendemos que inúmeros hiatos marcaram a amizade das protagonistas, que se unem mais uma vez, compartilhando tanto ocasiões festivas quanto discussões acaloradas.

Longe de idealizações e estereótipos, O Futuro Adiante retrata com frescor uma amizade tão verdadeira e, por isso mesmo, cheia de oscilações e desentendimentos.

Assim como na vida real, o filme faz questão de mostrar que as pausas – esses tempos de distância, de “não aguento mais você” – são necessárias para que a relação entre Flor e Romina permaneça forte através dos anos. A cada reencontro, a sensação é a de que o tempo não passou entre elas; a amizade retoma seu fluxo e tudo se desenrola tão naturalmente que é quase como se tivessem estado juntas no dia anterior.

Nesta comédia dramática sobre mulheres é interessante notar como as protagonistas se transformaram no oposto de suas mães. Ao mesmo tempo, as histórias e modelos se repetem. O divórcio de Romina, as discussões inflamadas por telefone entre Flor e o namorado, e até mesmo a simples recomendação que Romina faz à filha antes de sair à noite e deixá-la sozinha – como sua mãe o fez tantas vezes.

Muitas coisas mudam, os tempos mudam, mas em certos aspectos a vida parece assumir um movimento cíclico, uma eterna repetição. Tal qual a amizade entre Romina e Flor, que atravessa o tempo em um ciclo de encontros, reencontros e desentendimentos intensos, mas temporários e completamente superáveis. Mais além, a certeza de que, não importa o que o futuro reserve, aquela pessoa sempre fará parte dele.

O Futuro Adiante é um filme gostoso e bem-humorado, que eu recomendaria a todo mundo que tem ou já teve um amigo para a vida inteira.

E recomendaria especialmente às mulheres, uma vez que a trama vem repleta de personagens fortes e é centrada na amizade, na cumplicidade e naquela compreensão íntima e instantânea que só acontece entre duas amigas. A amizade em seu retrato mais genuíno, o filme é, sobretudo, uma prova de que as diferenças até podem facilitar as separações, mas apenas para que o reencontro e a união acabem cada vez mais fortalecidos.

O Futuro Adiante (El Futuro Que Viene) – 85 min.
Argentina – 2017
Direção: Constanza Novick
Roteiro: Constanza Novick
Elenco: Dolores Fonzi, Pilar Gamboa, José María Yazpik, Valeria Lois, Charo Dolz Doval, Esteban Bigliardi, Florencia Dyszel, Victoria Parrado, Federico León, Violeta Narvay, Sofía Podlischevsky

Estreia: 4 de outubro