‘Um Segredo em Paris’: singelo, filme traz amor improvável, livraria antiga e fenômeno curioso no céu parisiense
Cinema francês 14 de novembro de 2018 Aline T.K.M. Nenhum comentário
“O amor é tão burro”, ela disse.
“É. Por isso que nunca quis me apaixonar”, ele disse.
O que faz duas pessoas se apaixonarem? Uma palavra, um gesto, uma demonstração de afeto? É por entre os meandros de questões tão simples e tão complicadas que caminha o filme Um Segredo em Paris. O diálogo acima, parte de uma das cenas mais bonitas do longa, deixa pistas de que seus interlocutores acabaram encontrando o amor – da maneira mais improvável.
Dirigido pela francesa Élise Girard e destaque no Festival de Berlim, o longa estreia esta semana nos cinemas e conta a trajetória de uma garota solitária e desajeitada que se muda para Paris. Recorte de um período específico de uma vida, marcado por um encontro improvável, um fenômeno esquisito da natureza e uma relação nada convencional.
“É. Por isso que nunca quis me apaixonar”, ele disse.
O que faz duas pessoas se apaixonarem? Uma palavra, um gesto, uma demonstração de afeto? É por entre os meandros de questões tão simples e tão complicadas que caminha o filme Um Segredo em Paris. O diálogo acima, parte de uma das cenas mais bonitas do longa, deixa pistas de que seus interlocutores acabaram encontrando o amor – da maneira mais improvável.
Dirigido pela francesa Élise Girard e destaque no Festival de Berlim, o longa estreia esta semana nos cinemas e conta a trajetória de uma garota solitária e desajeitada que se muda para Paris. Recorte de um período específico de uma vida, marcado por um encontro improvável, um fenômeno esquisito da natureza e uma relação nada convencional.
Mavie, como é apelidada, tem 27 anos e procura um local para morar. A amiga em cujo apartamento está hospedada não é nada silenciosa em seus encontros sexuais, atividade que ocupa boa parte da rotina diária da casa.
A garota encontra uma nova moradia e um emprego em uma antiga livraria que quase não vê clientes. George é o dono do lugar, um homem 40 anos mais velho e com o semblante sempre fechado. Sem grandes perspectivas na vida nem, ao que parece, a real necessidade de trabalhar, ele esconde um passado misterioso.
A convivência diária e as diferenças entre eles levam a um sentimento raro, um amor nada convencional. Essa relação – baseada na constatação do sentimento que os une e na impossibilidade de sua concretização física – transformará a vida de Mavie.
A garota encontra uma nova moradia e um emprego em uma antiga livraria que quase não vê clientes. George é o dono do lugar, um homem 40 anos mais velho e com o semblante sempre fechado. Sem grandes perspectivas na vida nem, ao que parece, a real necessidade de trabalhar, ele esconde um passado misterioso.
A convivência diária e as diferenças entre eles levam a um sentimento raro, um amor nada convencional. Essa relação – baseada na constatação do sentimento que os une e na impossibilidade de sua concretização física – transformará a vida de Mavie.
A trama adorável é preenchida pelo cenário inspirador de Paris, suas ruas e o skyline perfeito. E também ganha um toque inusitado – um estranho fenômeno que afeta os pássaros da cidade, que, acometidos por um mal súbito, despencam do céu. Mavie é frequentemente surpreendida por esse despencar de aves, o tipo de coisa rara que vem a dialogar com sua personalidade incomum e com seu momento de vida – recém-chegada do interior, a garota está perdida e precisa aprender a trilhar o próprio caminho.
Ponto interessante, o título original do filme, Drôles d’oiseaux, faz alusão a esse fenômeno dos pássaros parisienses, esses “pássaros esquisitos”. Ao mesmo tempo, a expressão francesa é usada para se referir a “pessoas incomuns, fora do convencional”, justamente o que caracteriza os personagens desse longa.
Ponto interessante, o título original do filme, Drôles d’oiseaux, faz alusão a esse fenômeno dos pássaros parisienses, esses “pássaros esquisitos”. Ao mesmo tempo, a expressão francesa é usada para se referir a “pessoas incomuns, fora do convencional”, justamente o que caracteriza os personagens desse longa.
Mavie – “minha vida” em francês – é encantadora com seu jeito simples e despretensioso. A garota tem o hábito de escrever diálogos imaginários entre ela e seu amor, George, esse homem com quem ela não enxerga a possibilidade de vir a ter um relacionamento amoroso como qualquer outro, mas por quem alimenta um sentimento puro. E ele também compartilha do mesmo sentimento e descrença.
A diferença de idade é colocada como uma questão importante e que os separa; não são apenas as décadas, meros números, mas o próprio momento da existência de cada um deles. É a triste constatação de que duas pessoas poderiam ter sido felizes juntas, não fosse o fato de suas almas terem se desencontrado no tempo e nascido em épocas diferentes.
Além da idade, o passado obscuro de George também coloca qualquer relacionamento no campo do impossível. Passado que, aliás, não ganha tanto destaque quanto a princípio é esperado.
Além da idade, o passado obscuro de George também coloca qualquer relacionamento no campo do impossível. Passado que, aliás, não ganha tanto destaque quanto a princípio é esperado.
Algumas lacunas se fazem presentes e, ao contrário do que pode parecer, não representam qualquer problema, uma vez que essa é a história de e sobre Mavie, de um momento específico de sua vida, seu encontro com George, e como isso acaba mudando o rumo da moça. Com isso em mente, no fim nas contas, não importa o que é que faz nascer o amor entre duas pessoas, mas tudo o que flui a partir desse sentimento, sua capacidade de transformar vidas.
Trazendo bons diálogos, um visual que acarinha o olhar, e personagens com certa estranheza que fascina, Um Segredo em Paris nos faz sair do cinema com um sentimento entre a ternura e a melancolia.
Não vale esperar por uma comédia romântica comum – apesar de ser definido como tal, o filme não traz todo o conjunto de elementos que estamos acostumados a ver no gênero. Também não é o tipo de filme que vai fazer brilhar os olhos de todo mundo. Mas, para aqueles que nutrem um amor pela vida parisiense e por livrarias empoeiradas, aqueles que têm simpatia por acontecimentos e personagens improváveis, e que forem ao cinema de coração aberto, Um Segredo em Paris será uma singela e terna surpresa.
Não vale esperar por uma comédia romântica comum – apesar de ser definido como tal, o filme não traz todo o conjunto de elementos que estamos acostumados a ver no gênero. Também não é o tipo de filme que vai fazer brilhar os olhos de todo mundo. Mas, para aqueles que nutrem um amor pela vida parisiense e por livrarias empoeiradas, aqueles que têm simpatia por acontecimentos e personagens improváveis, e que forem ao cinema de coração aberto, Um Segredo em Paris será uma singela e terna surpresa.
TRAILER E FICHA TÉCNICA
Um Segredo em Paris (Drôles d’oiseaux) – 70 min.
França – 2017
Direção: Élise Girard
Roteiro: Élise Girard, com colaboração de Anne-Louise Trividic
Elenco: Lolita Chammah, Jean Sorel, Virginie Ledoyen, Pascal Cervo
Estreia: 15 de novembro
Aline T.K.M.
Criou o Livro Lab há 12 anos e se dedicar a este projeto é uma das coisas que mais ama fazer, além de estar em contato com os mais variados tipos de expressões artísticas. Tem paixão por cinema, viajar e conhecer outras culturas. Ah, e ama ler em francês!
Nenhum comentário