‘O Beijo no Asfalto’: filme marca a estreia de Murilo Benício como diretor e traz Nelson Rodrigues como você nunca viu
Adaptação 5 de dezembro de 2018 Aline T.K.M. Nenhum comentário
Encenado incontáveis vezes nos palcos e adaptado para o cinema em 1981, o texto O Beijo no Asfalto, de Nelson Rodrigues, ganha nova adaptação cinematográfica pelas mãos de Murilo Benício em sua estreia como diretor. O filme chega aos cinemas esta semana.
Em preto e branco, o longa apresenta um mix interessante de cinema e teatro para contar a história de Arandir (Lázaro Ramos), um homem recém-casado que testemunha um atropelamento e, ao tentar socorrer a vítima, o homem moribundo pede a ele que o beije. O beijo é flagrado tanto por Aprígio (Stênio Garcia), o sogro de Arandir, como também por um repórter sensacionalista, que se aproveitará do acontecimento inusitado para criar e alimentar polêmicas.
Em preto e branco, o longa apresenta um mix interessante de cinema e teatro para contar a história de Arandir (Lázaro Ramos), um homem recém-casado que testemunha um atropelamento e, ao tentar socorrer a vítima, o homem moribundo pede a ele que o beije. O beijo é flagrado tanto por Aprígio (Stênio Garcia), o sogro de Arandir, como também por um repórter sensacionalista, que se aproveitará do acontecimento inusitado para criar e alimentar polêmicas.
Fundir o teatro ao cinema foi uma escolha acertada, proporcionando a imersão na história que está sendo contada sem deixar esquecer que se trata de ficção, de teatro. Além disso, também foi interessante do ponto de vista da própria trama. Isso porque, hoje em dia, a trama sozinha já não traz a surpresa e o arrebatamento de outrora, muito embora O Beijo no Asfalto seja um texto imortal na dramaturgia brasileira.
Dentro do aspecto teatral, a gente acompanha desde o momento de concentração dos atores antes de entrar em cena até passagens de texto no camarim. São momentos muito bonitos, mas o destaque maior vai mesmo para a leitura dramática, o estudo do texto na mesa, que o diretor optou por incluir no longa.
Os comentários dos atores – sobre o próprio texto, sobre memórias, mas também sobre fatos atuais – contribuem na contextualização da história e também a transportam para os dias atuais, fazendo com que dialogue e faça sentido no mundo de hoje, ainda que publicada nos anos 1960 – outro grande mérito do filme.
Os comentários dos atores – sobre o próprio texto, sobre memórias, mas também sobre fatos atuais – contribuem na contextualização da história e também a transportam para os dias atuais, fazendo com que dialogue e faça sentido no mundo de hoje, ainda que publicada nos anos 1960 – outro grande mérito do filme.
O elenco, que também vem do teatro, mostra um trabalho bastante afinado entre si e eleva o nível do longa com interpretações notáveis. Não há faltas nem excessos, por isso é até difícil falar de um e não falar de todos. Lázaro Ramos atrai as atenções, e Débora Falabella também está muito bem – é uma das atrizes brasileiras que mais admiro hoje em dia.
Quanto à participação de Fernanda Montenegro, ainda que restrita à leitura dramática, engrandece o todo e contribui para esse olhar diferenciado que o filme nos proporciona da tão conhecida e aclamada peça.
Quanto à participação de Fernanda Montenegro, ainda que restrita à leitura dramática, engrandece o todo e contribui para esse olhar diferenciado que o filme nos proporciona da tão conhecida e aclamada peça.
Preciso abrir um parêntese e inserir um comentário mais pessoal sobre o filme. Para aqueles que têm certa familiaridade com a obra, que já assistiram a algumas adaptações ou que já a estudaram – e aí eu me coloco, pois conheci bem o texto quando estudei teatro –, posso afirmar que essa nova adaptação do Murilo Benício me levou a um outro lugar, conseguiu me surpreender, mesmo já estando familiarizada com a trama.
Os momentos mais tensos, aqueles envolvendo acusações e um desencavar frenético em busca da verdade, conseguem de fato prender a respiração do espectador. Há cenas em que a sensação que experimentamos se assemelha àquela que um verdadeiro thriller nos daria, graças ao enquadramento, ritmo e também a sutis mudanças na trilha sonora, aspectos que aqui se mostram muito bem alinhados e na medida certa.
Homenagem ao texto de Nelson Rodrigues, arrisco dizer que este novo O Beijo no Asfalto é a adaptação que estava faltando ser feita. Um trabalho sensível e apurado, que certamente agradará aos amantes do cinema e do teatro, e a todos aqueles que apreciam obras munidas de críticas, que façam pensar e que se relacionem com aspectos da nossa realidade, mas sem tropeçar em caminhos óbvios nem didáticos demais. Um belo filme!
TRAILER E FICHA TÉCNICA
O Beijo no Asfalto – 98 min.
Brasil – 2017
Direção: Murilo Benício
Roteiro: Murilo Benício, baseado na obra de Nelson Rodrigues
Elenco: Lázaro Ramos, Débora Falabella, Otávio Müller, Stenio Garcia, Luiza Tiso, Marcelo Flores, Augusto Madeira, Amir Haddad, Fernanda Montenegro
Estreia: 6 de dezembro
Aline T.K.M.
Criou o Livro Lab há 12 anos e se dedicar a este projeto é uma das coisas que mais ama fazer, além de estar em contato com os mais variados tipos de expressões artísticas. Tem paixão por cinema, viajar e conhecer outras culturas. Ah, e ama ler em francês!
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