‘A Esposa’: filme que deu a Glenn Close o Globo de Ouro aborda o papel da mulher e o massacre silencioso ainda operado pela sociedade machista
Adaptação 10 de janeiro de 2019 Aline T.K.M. 2 comentários
A Esposa, filme que deu a Glenn Close o Globo de Ouro de Melhor Atriz, chega aos cinemas trazendo a história de uma mulher que anulou os próprios sonhos para viver à sombra do marido por toda uma vida. O tipo de história que faz eco a tantas outras da vida real.
Baseado no livro homônimo de Meg Wolitzer, A Esposa tem direção de Björn Runge.
Baseado no livro homônimo de Meg Wolitzer, A Esposa tem direção de Björn Runge.
Glenn Close dá vida a Joan, uma mulher que ainda na juventude abriu mão do talento e de seus sonhos para apoiar o marido Joe (Jonathan Pryce), um escritor de sucesso, em um casamento que já dura 40 anos. Ao acompanhar o marido em uma viagem a Estocolmo, para que ele receba o Prêmio Nobel de Literatura, Joan é procurada por um jornalista (Christian Slater) que quer a todo custo escrever uma biografia do escritor. É neste momento que alguns segredos emergirão, e Joan se verá frente a frente com o maior sacrifício de sua vida.
Com atuação forte e sensível a um só tempo, Glenn Close emociona na pele da protagonista. Já a trama vem repleta de bons diálogos e abre espaço para uma conversa franca sobre o papel da mulher ontem e hoje.
Com atuação forte e sensível a um só tempo, Glenn Close emociona na pele da protagonista. Já a trama vem repleta de bons diálogos e abre espaço para uma conversa franca sobre o papel da mulher ontem e hoje.
É certo que hoje as mulheres estão muito mais à frente de suas próprias vidas do que a geração das nossas mães e avós, mas ainda é comum que se espere (e se cobre) da mulher o papel daquela que zela pela família, a responsável pelo funcionamento dessa instituição não raro cheia de hipocrisia, responsável também pelo bem-estar emocional de todos os membros do núcleo familiar – enquanto o seu próprio talvez esteja em frangalhos. Não podemos nos esquecer de que, além de todas as conquistas e realizações profissionais, a mulher de hoje em dia ainda é golpeada pela culpa relacionada à maternidade (carreira e tempo vs. filhos), e mesmo pelas expectativas alheias sobre formar uma família.
Então, sim, A Esposa é um filme que diz respeito a todas nós, ainda que a nossa realidade não seja literalmente como a de Joan.
Então, sim, A Esposa é um filme que diz respeito a todas nós, ainda que a nossa realidade não seja literalmente como a de Joan.
Por meio de flashbacks (a atriz Annie Starke, filha de Glenn Close, interpreta Joan na juventude), enxergamos o passado do casal e a maneira como Joan e Joe entraram na vida um do outro. Também compreendemos melhor a personalidade e o caráter de Joe, o que nos permite não sermos acometidos por um excesso de complacência ao encará-lo nos dias atuais – convenhamos, a imagem de um velhinho simpático ainda consegue dobrar muita gente.
As coisas começam a ficar claras quando nos damos conta de quão enorme é o egocentrismo do escritor. E é aí que o sacrifício de Joan também ganha dimensões sufocantes. Isso acontece não pelo segredo que o casal esconde – que, verdade seja dita, é bem previsível –, mas por aquilo que ele representa para Joan.
O mais instigante na trama, porém, é aquele ponto de encontro entre o sacrifício de uma vida, a família, os filhos, as próprias necessidades, a gota d’água e as amarras (inclusive as emocionais) que ainda persistem. Cada aspecto tem um peso colossal e entra em jogo, fazendo com que as decisões de Joan sejam extremamente complicadas – sobretudo para ela mesma.
As coisas começam a ficar claras quando nos damos conta de quão enorme é o egocentrismo do escritor. E é aí que o sacrifício de Joan também ganha dimensões sufocantes. Isso acontece não pelo segredo que o casal esconde – que, verdade seja dita, é bem previsível –, mas por aquilo que ele representa para Joan.
O mais instigante na trama, porém, é aquele ponto de encontro entre o sacrifício de uma vida, a família, os filhos, as próprias necessidades, a gota d’água e as amarras (inclusive as emocionais) que ainda persistem. Cada aspecto tem um peso colossal e entra em jogo, fazendo com que as decisões de Joan sejam extremamente complicadas – sobretudo para ela mesma.
Munido de mensagem poderosa – brilhantemente complementada pelo discurso de Glenn Close na premiação do Globo de Ouro –, A Esposa se mostra um confronto sorrateiro com cada mulher do lado de cá da tela. Até que ponto ainda desempenhamos papéis que a sociedade – o homem – nos designou? Até que ponto realmente queremos aquilo que estamos vivendo e o que estamos fazendo? Nossas escolhas e decisões são motivadas unicamente por nossa própria vontade – ou elas vêm disfarçadas de autonomia?
Joan precisa tomar decisões – e ela as toma. Mas, até que ponto sua decisão mais derradeira foi ditada por sua própria vontade, valores e considerações? Ou, ao contrário, silenciosamente massacrada por aquilo que os demais esperam dela?
Joan precisa tomar decisões – e ela as toma. Mas, até que ponto sua decisão mais derradeira foi ditada por sua própria vontade, valores e considerações? Ou, ao contrário, silenciosamente massacrada por aquilo que os demais esperam dela?
TRAILER E FICHA TÉCNICA
A Esposa (The Wife) – 100 min.
Reino Unido, Suécia, EUA – 2017
Direção: Björn Runge
Roteiro: Jane Anderson, baseado no livro de Meg Wolitzer
Elenco: Glenn Close, Jonathan Pryce, Christian Slater, Max Irons, Elizabeth McGovern, Karin Franz Körlof, Alix Wilton Regan, Annie Starke, Harry Lloid
Estreia: 10 de janeiro
Aline T.K.M.
Criou o Livro Lab há 12 anos e se dedicar a este projeto é uma das coisas que mais ama fazer, além de estar em contato com os mais variados tipos de expressões artísticas. Tem paixão por cinema, viajar e conhecer outras culturas. Ah, e ama ler em francês!
2 comentários
Não assisti, mas to apostando que a Glenn vai ganhar o Oscar, não só por seu desempenho, mas também por ter uma longa carreira com várias indicações sem levar.
ResponderExcluirTambém tô achando que chegou a hora dela! Tô torcendo, pelo menos; mais que merecido.
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