‘Clímax’: o que esperar do novo filme de Gaspar Noé, ou viver é uma impossibilidade coletiva
Cinema francês 2 de fevereiro de 2019 Aline T.K.M. Nenhum comentário
“Viver é uma impossibilidade coletiva.”
A frase acima é uma das que nos são atiradas na tela – e na cara – ao longo do novo filme de Gaspar Noé. Depois de Love 3D, Clímax chega aos cinemas esta semana, trazendo uma explosão de cores, batidas frenéticas, corpos dançantes e, claro, aquele quê desconfortável que paira sobre os filmes do diretor.
A frase acima é uma das que nos são atiradas na tela – e na cara – ao longo do novo filme de Gaspar Noé. Depois de Love 3D, Clímax chega aos cinemas esta semana, trazendo uma explosão de cores, batidas frenéticas, corpos dançantes e, claro, aquele quê desconfortável que paira sobre os filmes do diretor.
A partir da ideia inicial de ter um filme com dançarinos, o diretor argentino reuniu um elenco bastante diverso, formado por artistas da dança, não necessariamente atores – a dança foi o maior requisito na formação do casting. No galpão de uma escola com uma enorme e brilhante bandeira francesa ao fundo, esses jovens membros de uma companhia de dança festejam.
Só que a cena inicial, que mostra a luta pela sobrevivência (ou o início do processo de morte) em um ambiente inóspito, já revela um vislumbre do destino dessa festa. Não só da festa, mas da existência humana em si, moldada pelos códigos e interesses que caracterizam os relacionamentos interpessoais em conflito com o animal que há em cada um de nós.
Só que a cena inicial, que mostra a luta pela sobrevivência (ou o início do processo de morte) em um ambiente inóspito, já revela um vislumbre do destino dessa festa. Não só da festa, mas da existência humana em si, moldada pelos códigos e interesses que caracterizam os relacionamentos interpessoais em conflito com o animal que há em cada um de nós.
As sequências de dança de encher os olhos – vistas por ângulos e perspectivas igualmente fascinantes – são seguidas por discussões, intrigas sexuais, drogas, e uma espécie de histeria coletiva na qual os limites entre o eu e o outro se tornam fluidos e permeáveis. É que os jovens desconfiam que alguém colocou LSD na sangria que estão bebendo.
Com um roteiro dominado por improvisações, o filme alcança sua segunda parte: aquela em que a festa (e os indivíduos, e as relações, e todo e qualquer contato humano) se deteriora. Cresce o desconforto, a porção mais sórdida e mais primitiva de cada personagem toma conta. Emoções à flor da pele, estados alterados, a loucura já não pertence a um só... mas, quem disse que há, de fato, loucura?
A perturbação nos gestos, as luzes coloridas e uma câmera que gira na vertical levam a atmosfera até o espectador. Se os personagens de fato alucinam, nós não chegamos a saber – o diretor no coloca no meio da balbúrdia, mas vemos tudo sempre em terceira pessoa. A viagem é longa, e até demais: essa segunda parte, a do caos, acaba ficando arrastada lá pelas tantas.
E, claro, temos as frases de efeito que, embora não cheguem a ser epifânicas, trazem verdades sobre nascer, viver e morrer de maneira tão direta quanto um fundo preto e letras gordas e gigantes. É assim, goela abaixo.
A perturbação nos gestos, as luzes coloridas e uma câmera que gira na vertical levam a atmosfera até o espectador. Se os personagens de fato alucinam, nós não chegamos a saber – o diretor no coloca no meio da balbúrdia, mas vemos tudo sempre em terceira pessoa. A viagem é longa, e até demais: essa segunda parte, a do caos, acaba ficando arrastada lá pelas tantas.
E, claro, temos as frases de efeito que, embora não cheguem a ser epifânicas, trazem verdades sobre nascer, viver e morrer de maneira tão direta quanto um fundo preto e letras gordas e gigantes. É assim, goela abaixo.
Clímax traz uma experiência única. Se é boa ou ruim, depende de quão aberto você está para vivenciá-la. O melhor de tudo é chegar ao fim e dar aquela espremida mental acerca dos seres humanos naquela festa. Das entrevistas para a companhia de dança no início até a liberação total da loucura e dos fantasmas particulares de cada no decorrer da festa. Da maneira como um indivíduo se mostra para a sociedade até a sua porção mais irracional, e a mais verdadeira.
No fundo (e nem tão fundo assim), viver é uma impossibilidade coletiva, de fato. Nem é preciso ir muito longe para constatar: pense nos filmes em que um grupo de pessoas é mantido junto por longas horas em um ambiente fechado; inúmeras facetas e loucuras escondidas sempre acabam reveladas.
Selvagem e orgásmico, Clímax, mesmo sem querer, diz muito sobre a vida ao trazer um espetáculo para os sentidos, luta egoísta, e a certeza da decadência.
Selvagem e orgásmico, Clímax, mesmo sem querer, diz muito sobre a vida ao trazer um espetáculo para os sentidos, luta egoísta, e a certeza da decadência.
TRAILER E FICHA TÉCNICA
Clímax (Climax) – 95 min.
França – 2018
Direção: Gaspar Noé
Roteiro: Gaspar Noé
Elenco: Sofia Boutella, Romain Guillermic, Souheila Yacoub, Kiddy Smile, Claude-Emmanuelle Gajan-Maull, Giselle Palmer, Taylor Kastle, Thea Carla Schott, Sharleen Temple, Lea Vlamos, Alaia Alsafir, Kendall Mugler, Lakdhar Dridi, Adrien Sissoko, Mamadou Bathily, Alou Sidibé, Ashley Biscette, Mounia Nassangar, Tiphanie Au, Sarah Belala, Alexandre Moreau, Naab, Strauss Serpent, Vince Galliot Cumant
Estreia: 31 de janeiro
Aline T.K.M.
Criou o Livro Lab há 12 anos e se dedicar a este projeto é uma das coisas que mais ama fazer, além de estar em contato com os mais variados tipos de expressões artísticas. Tem paixão por cinema, viajar e conhecer outras culturas. Ah, e ama ler em francês!
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