‘O Silêncio dos Outros’: poderoso, documentário traz a luta dos sobreviventes do franquismo
Almudena Carracedo 28 de fevereiro de 2019 Aline T.K.M. Nenhum comentário
Desde que a humanidade deu seu primeiro respiro na face da terra, o ser humano vem cometendo erros e atrocidades dos mais variados tipos. Genocídios, guerras religiosas e políticas, e regimes totalitários são alguns exemplos.
Contudo, a cada vez que uma fase obscura da história é superada – ao menos para alguns –, restam as memórias e a punibilidade, que carregam consigo a missão por vezes subestimada do aprendizado. Afinal, é recordando e aprendendo com nossos erros que podemos evitar repeti-los no futuro. Certo?
Em teoria, sim, está certíssimo. Na prática, nem sempre o mundo funciona dessa maneira. É o que mostra o documentário O Silêncio dos Outros, dirigido por Almudena Carracedo e Robert Bahar, e com produção de Pedro Almodóvar, Agustín Almodóvar e Esther García. O filme chega hoje aos cinemas.
Contudo, a cada vez que uma fase obscura da história é superada – ao menos para alguns –, restam as memórias e a punibilidade, que carregam consigo a missão por vezes subestimada do aprendizado. Afinal, é recordando e aprendendo com nossos erros que podemos evitar repeti-los no futuro. Certo?
Em teoria, sim, está certíssimo. Na prática, nem sempre o mundo funciona dessa maneira. É o que mostra o documentário O Silêncio dos Outros, dirigido por Almudena Carracedo e Robert Bahar, e com produção de Pedro Almodóvar, Agustín Almodóvar e Esther García. O filme chega hoje aos cinemas.
Filmado ao longo de seis anos e vencedor do Prêmio da Paz e do Prêmio do Público, da mostra Panorama, no Festival de Berlim, O Silêncio dos Outros direciona os holofotes para o passado sombrio do franquismo na Espanha. O regime ditatorial, ocorrido entre os anos de 1939 e 1975, tinha o conservadorismo e o nacionalismo como base, além da inclinação fascista, e era liderado por Francisco Franco (1892-1975).
Acompanhando histórias de pessoas que perderam entes queridos, que tiveram suas vidas e famílias dilaceradas pelo regime, o documentário insere o espectador na luta dessa gente por um tanto de dignidade, mesmo décadas após o fim da ditadura de Franco. Seja para a recuperação dos restos mortais de familiares ou para a renomeação de ruas que ainda exaltavam a dolorosa época, essas pessoas esquecidas clamam por justiça e contra a impunidade.
De fato, a Lei de Anistia na Espanha impede que os criminosos políticos paguem pelos crimes cometidos durante o franquismo. Ao longo do filme, encaramos estupefatos a história de um senhor que atualmente é obrigado a viver próximo ao seu torturador, que saiu impune pelo pacto do esquecimento.
Acompanhando histórias de pessoas que perderam entes queridos, que tiveram suas vidas e famílias dilaceradas pelo regime, o documentário insere o espectador na luta dessa gente por um tanto de dignidade, mesmo décadas após o fim da ditadura de Franco. Seja para a recuperação dos restos mortais de familiares ou para a renomeação de ruas que ainda exaltavam a dolorosa época, essas pessoas esquecidas clamam por justiça e contra a impunidade.
De fato, a Lei de Anistia na Espanha impede que os criminosos políticos paguem pelos crimes cometidos durante o franquismo. Ao longo do filme, encaramos estupefatos a história de um senhor que atualmente é obrigado a viver próximo ao seu torturador, que saiu impune pelo pacto do esquecimento.
O Silêncio dos Outros nos coloca diante de algumas histórias semelhantes, certamente uma pequena parcela de um sem-número de batalhas. Com o apoio da justiça argentina testemunhamos algumas vitórias, mas também casos em que o tempo foi mordaz com seus guerreiros, não lhes oferecendo chance de prosseguir com sua luta. Tão ou mais triste é o caso das mães que tiveram seus bebês roubados na maternidade – dados como mortos, sem sequer um corpo –, pois se dizia serem portadores do “gene vermelho”, filhos de esquerdistas que perigavam seguir os passos dos pais contra o sistema.
O filme choca. Tanto pela barbárie cometida quanto pelo desconhecimento por parte da população jovem espanhola – e, vale dizer, um certo desconhecimento geral, uma vez que não tenho lembrança, no meu tempo de escola, de uma grade curricular que se debruçasse sobre as atrocidades e os perigos dos regimes totalitários no mundo.
O filme choca. Tanto pela barbárie cometida quanto pelo desconhecimento por parte da população jovem espanhola – e, vale dizer, um certo desconhecimento geral, uma vez que não tenho lembrança, no meu tempo de escola, de uma grade curricular que se debruçasse sobre as atrocidades e os perigos dos regimes totalitários no mundo.
Necessário, O Silêncio dos Outros não apenas aborda a batalha remanescente de um capítulo negro da história da Espanha, mas também alerta para os perigos dos regimes fascistas e para os riscos incalculáveis de simplesmente apagar o passado. Pontuado por imagens de uma beleza triste – flores murchas sem uma sepultura sobre a qual repousar, uma escultura maculada por tiros –, o filme traz, acima de todas as coisas, histórias de pessoas que querem exercer seus direitos como seres humanos. Direitos que lhes foram roubados lá atrás e cuja recuperação ainda enfrenta uma árdua caminhada.
TRAILER E FICHA TÉCNICA
O Silêncio dos Outros (El Silencio de Otros | The Silence of Others) – 96 min.
EUA, Espanha | 2018 | Documentário
Direção: Almudena Carracedo e Robert Bahar
Roteiro: Ricardo Acosta, Robert Bahar, Almudena Carracedo, Kim Roberts
Elenco: María Martín, José María Galante, Carlos Slepoy, Ana Messuti, Maria Servini, Felisa Echegoyen, María Ángeles Martín, María de las Mercedes Bueno, Ascensión Mendieta
Estreia: 28 de fevereiro
Aline T.K.M.
Criou o Livro Lab há 12 anos e se dedicar a este projeto é uma das coisas que mais ama fazer, além de estar em contato com os mais variados tipos de expressões artísticas. Tem paixão por cinema, viajar e conhecer outras culturas. Ah, e ama ler em francês!
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