O polêmico diretor iraniano Jafar Panahi está de volta nos cinemas brasileiros com 3 Faces, filme vencedor do prêmio de Melhor Roteiro no Festival de Cannes no ano passado.

Depois de receber um vídeo com o pedido de ajuda de uma jovem proibida por sua família de prosseguir seus estudos no Conservatório de Teatro no Teerã, a conhecida atriz Behnaz Jafari abandona seu trabalho atual para acompanhar o cineasta Jafar Panahi em uma viagem de carro até a aldeia em que vive a garota.

Com o objetivo de solucionar o mistério relacionado à veracidade do vídeo e ao que terá acontecido à jovem – a filmagem sugere um desfecho trágico –, eles têm contato com o povo local e com a família da garota e, em meio a encontros simpáticos, não demoram a se deparar com o tradicionalismo e a situação desigual e limitadora imposta às mulheres.

Com um resultado final menos interessante que Táxi Teerã, 3 Faces traz ótima premissa, mas acaba não preenchendo todo o espaço que foi aberto pelo suspense do início. A busca pela verdade permeia todo o longa e é realmente o aspecto mais atraente nele – além da atmosfera de documentário –, já que a todo momento somos contaminados pela possibilidade da mentira.

Contudo, a ideia de trazer à luz a história de três mulheres de gerações diferentes, todas conectadas ao fazer artístico e que levam consigo trajetórias distintas, cria uma expectativa por um discurso que parece nunca chegar.

Se em primeiro plano vemos a jovem que sonha em ser atriz e quer estudar para alcançar seus objetivos, acompanhamos também pequenos vislumbres da história de uma ex-atriz, mais velha e condenada pelos locais por seu ofício, o que a obriga a viver em reclusão.

No meio delas, temos Behnaz Jafari, atriz respeitada e ovacionada ao chegar na aldeia. As histórias se entrelaçam de certa maneira, mas a sensação que se tem é a de que fica faltando alguma argamassa ali, uma conexão mais concreta entre essas mulheres e como o ambiente em que estão inseridas as levou à situação presente. Inclusive, a reação dos habitantes da aldeia às três mulheres é percebida sem grande aprofundamento.

Os primeiros minutos do filme trazem grande impacto, mas o que vem em seguida são sequências bastante lentas – mesmo nos momentos de maior tensão. Por outro lado, temos imagens de beleza singular, como a fachada irregular de uma residência, ou a visão em primeira pessoa do trajeto que vai sendo percorrido pelo carro.

Apesar da temática relevante, a abordagem não me conquistou – e falo usando meu tom mais pessoal mesmo. Contudo, a situação do diretor Jafar Panahi contribui para a maneira como se recebe e se enxerga esse filme. Em prisão domiciliar e impedido de realizar seu trabalho, Panahi chega a seu quarto filme, sempre denunciando as condições da população, os problemas da sociedade e as autoridades do Irã.

Com início intenso e uma cena final bonita e cheia de significado, 3 Faces trouxe um recheio que, se não oco, pelo menos pareceu insuficiente em alguns aspectos. Ainda assim, para aqueles que acompanham e admiram o trabalho do cineasta, creio ser um filme para não perder. Aos apenas curiosos, e aos cinéfilos não necessariamente fãs de Panahi: recomendo expectativas mais flexíveis.

TRAILER E INFOS

3 Faces (Se Rokh) – 100 min.
Irã | 2018
Direção: Jafar Panahi
Roteiro: Jafar Panahi, Nader Saeivar
Elenco: Behnaz Jafari, Jafar Panahi, Marziyeh Rezaei, Maedeh Erteghaei

Estreia: 4 de abril