‘Em Trânsito’: baseado no livro de Anna Seghers, filme de Christian Petzold une passado e presente de maneira ousada e arrebatadora
Christian Petzold 11 de abril de 2019 Aline T.K.M. Nenhum comentário
Encerrando a trilogia “Amor em tempos de sistemas opressivos”, o filme Em Trânsito chega aos cinemas esta semana trazendo a história de um amor na França em plena ocupação nazista. O longa tem direção de Christian Petzold, que também dirigiu Barbara (2012) e Phoenix (2014), os dois primeiros filmes da trilogia.
Em Trânsito é baseado no romance Transit, de autoria de Anna Seghers, uma das mais importantes escritoras alemãs do século 20, antifascista e ativista de esquerda.
Em Trânsito é baseado no romance Transit, de autoria de Anna Seghers, uma das mais importantes escritoras alemãs do século 20, antifascista e ativista de esquerda.
Ao tentar fugir da França invadida pelos nazistas, Georg (Franz Rogowski) assume a identidade de um escritor que acaba de falecer e cujos documentos caem em suas mãos. Em Marselha, enquanto aguarda os arranjos para a partida para o México, ele conhece e se apaixona por Marie (Paula Beer), uma jovem em busca de seu marido desaparecido – o mesmo homem por quem Georg se faz passar.
Em meio às belezas da cidade portuária do sul da França, corredores e reentrâncias escondidas nas sombras. Pessoas de passagem, transportando toda uma vida de histórias, aguardando que o destino permita sua fuga dos horrores do nazismo. O cenário é encantador, mas de constante preocupação. A sensação que se tem em muitos momentos é a de que o tempo se encontra suspenso em uma espécie de bolha – marcada pela espera interminável, solidão e desconfiança.
Em meio às belezas da cidade portuária do sul da França, corredores e reentrâncias escondidas nas sombras. Pessoas de passagem, transportando toda uma vida de histórias, aguardando que o destino permita sua fuga dos horrores do nazismo. O cenário é encantador, mas de constante preocupação. A sensação que se tem em muitos momentos é a de que o tempo se encontra suspenso em uma espécie de bolha – marcada pela espera interminável, solidão e desconfiança.
Ainda que o momento histórico conduza a trama e os personagens, o filme é centrado nas vivências de Georg em seus dias marselheses, em tudo aquilo que ele vê, nas pessoas que encontra e, claro, na paixão que passa a nutrir por Marie. Reside aí a grande beleza do filme: traz uma história tão individual, joga sua luz sobre pessoas específicas, sem que a questão do nazismo e da Segunda Guerra sobreponha esses indivíduos.
Ao mesmo tempo, o fato de tudo se passar não só em Marselha, mas na Marselha dos dias de hoje, é especialmente interessante e suscita questões da atualidade. A segunda maior cidade francesa é também a que mais sofre com as desigualdades, possui alto índice de criminalidade relacionada ao tráfico e por isso é estigmatizada. Além disso, a cidade foi a porta de entrada para milhões de imigrantes, muitos dos quais permaneceram ali, e a população é bastante diversificada – o que não quer dizer que exista uma real integração. As comunidades vivem de maneira separada e a discriminação é algo entranhado.
A partir daí, a bonita relação entre Georg e o garoto Driss – filho de um amigo que faleceu quando tentavam fugir, e que vive com a mãe em situação ilegal – é um ponto altíssimo do filme e levanta questões mais atuais, fazendo com que a Marselha do passado e do presente se encontrem. A busca por um lar e o sentimento de não pertencimento, alavancado pela marginalização e discriminação sempre presentes, unem os personagens de hoje e de outrora.
A partir daí, a bonita relação entre Georg e o garoto Driss – filho de um amigo que faleceu quando tentavam fugir, e que vive com a mãe em situação ilegal – é um ponto altíssimo do filme e levanta questões mais atuais, fazendo com que a Marselha do passado e do presente se encontrem. A busca por um lar e o sentimento de não pertencimento, alavancado pela marginalização e discriminação sempre presentes, unem os personagens de hoje e de outrora.
Petzold não deixa de nos surpreender nesse belo trabalho. A mistura de histórias e de tempos e suas intersecções é narrada por uma outra voz. Um narrador que acreditamos ser onisciente, e que, uma vez revelada sua identidade, o percebemos como uma testemunha ocular e auditiva – de certa maneira, ainda portador de certa onisciência em seu entorno.
Sensível, Em Trânsito traz um arrebatamento silencioso, uma entrega total da parte do espectador, que custa a conseguir tirar a história da cabeça. Não estranhe se der vontade de assistir mais de uma vez – é um filme de várias nuances e de uma beleza que se destaca entre tudo o que está em cartaz atualmente.
TRAILER E INFOS
Em Trânsito (Transit) – 101 min.
Alemanha, França | 2018
Direção: Christian Petzold
Roteiro: Christian Petzold, baseado no livro de Anna Seghers
Elenco: Franz Rogowski, Paula Beer, Godehard Giese, Maryam Zarée, Barbara Auer, Matthias Brandt, Sebastian Hülk, Lilien Batman
Estreia: 11 de abril
Aline T.K.M.
Criou o Livro Lab há 12 anos e se dedicar a este projeto é uma das coisas que mais ama fazer, além de estar em contato com os mais variados tipos de expressões artísticas. Tem paixão por cinema, viajar e conhecer outras culturas. Ah, e ama ler em francês!
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