‘O Mau Exemplo de Cameron Post’: ao abordar ‘cura gay’, o filme alerta para o perigo da intolerância e do ciclo de perpetuação do ódio
Adaptação 22 de abril de 2019 Aline T.K.M. Nenhum comentário
Necessário e – infelizmente – ainda muito atual, O Mau Exemplo de Cameron Post, a adaptação do livro YA homônimo de Emily M. Danforth, chega aos cinemas para falar de intolerância, opressão, ignorância e homofobia.
Protagonizado pela ótima Chloë Grace Moretz e com direção de Desiree Akhavan, o longa foi o ganhador do Grande Prêmio do Júri no Festival de Sundance e foi finalista ao Troféu Bandeira Paulista na Mostra de Cinema Internacional de São Paulo. Além disso, o filme faz parte do projeto Caixa de Pandora - falei dele aqui.
Protagonizado pela ótima Chloë Grace Moretz e com direção de Desiree Akhavan, o longa foi o ganhador do Grande Prêmio do Júri no Festival de Sundance e foi finalista ao Troféu Bandeira Paulista na Mostra de Cinema Internacional de São Paulo. Além disso, o filme faz parte do projeto Caixa de Pandora - falei dele aqui.
Acompanhamos a trajetória de Cameron, que após ser pega transando com a melhor amiga, é enviada pela tia (ela perdeu os pais em um acidente quando mais nova) para um centro de recuperação cristão, que promete “curar” jovens com “desvios sexuais”, que sentem atração por pessoas do mesmo sexo. Ou seja, uma espécie de “cura gay”.
A época é o início dos anos 1990, mas a história da Cameron nunca foi tão compatível com os dias de hoje. Ela é apenas uma adolescente vivendo experiências normais, como qualquer jovem de sua idade, mas enfiada em uma cidadezinha extremamente religiosa e opressora. Opressão que será multiplicada ao ingressar no tal centro, um misto de acampamento e colégio interno cristão, onde a “terapia” realizada se baseia em um constante alimentar do ódio de si mesmo e da sensação de inadequação, além da ideia de pecado. Um local onde os jovens sofrem constante abuso psicológico disfarçado de ajuda e chancelado por “Deus”.
Não demora para que os abusos físicos apareçam, vindos das mãos dos próprios jovens, motivados pelo autodesprezo e pela necessidade de se encaixar naquela sociedade e em suas respectivas famílias.
Não demora para que os abusos físicos apareçam, vindos das mãos dos próprios jovens, motivados pelo autodesprezo e pela necessidade de se encaixar naquela sociedade e em suas respectivas famílias.
Mas há os que resistem, e é a eles que Cameron acaba se juntando, dando início a uma daquelas amizades que só podem durar para sempre. Juntos, Cameron, Jane Fonda (sim, é esse o nome da personagem!) e Adam encontrarão forças para não se deixar sucumbir – e para continuar com suas pequenas transgressões cotidianas.
O filme alterna os dias de Cameron no centro de recuperação com flashbacks de seus momentos com a ex-melhor amiga, Coley. Também percebemos as diferentes fases pelas quais a protagonista passa: rejeição, tentativa de adequação, “cair da ficha”, a aceitação das próprias incertezas e impulso para a ação.
O filme alterna os dias de Cameron no centro de recuperação com flashbacks de seus momentos com a ex-melhor amiga, Coley. Também percebemos as diferentes fases pelas quais a protagonista passa: rejeição, tentativa de adequação, “cair da ficha”, a aceitação das próprias incertezas e impulso para a ação.
Centrada no efeito que as ideias e práticas abusivas provocam nesses jovens, a trama revela como se dá o ciclo de perpetuação do ódio, direcionado a si e aos demais, levando à proliferação de atos violentos.
Ainda, chama a atenção a “cegueira coletiva” dos mais velhos – e da sociedade –, apoiada na crença de estar fazendo o bem, quando na realidade está operando uma agressão a outro ser humano, a um ente querido. Quantos pais, colegas, amigos, professores, ainda hoje, não fazem algo semelhante? A questão é que, sim, isso pode estraçalhar a autoestima (e a vida) de alguém, especialmente a de um jovem.
Ainda, chama a atenção a “cegueira coletiva” dos mais velhos – e da sociedade –, apoiada na crença de estar fazendo o bem, quando na realidade está operando uma agressão a outro ser humano, a um ente querido. Quantos pais, colegas, amigos, professores, ainda hoje, não fazem algo semelhante? A questão é que, sim, isso pode estraçalhar a autoestima (e a vida) de alguém, especialmente a de um jovem.
Chloë Grace Moretz se mostra versátil e segura muito bem o peso da personagem, fazendo o equilíbrio ideal do sofrimento pelos infortúnios com o jeito relaxado e até brincalhão, em certa medida, de Cameron. E ela é exatamente como a Cameron que imaginei ao ler o livro – é bem possível que outros leitores sintam o mesmo!
Falando no livro... A adaptação soube condensar muito bem a essência da trama e da protagonista, muito embora todo o início da adolescência de Cameron tenha sido suprimido, incluindo muito do impacto da morte dos pais na vida dela. Mesmo assim, é uma adaptação incrível, das melhores que já vi.
Falando no livro... A adaptação soube condensar muito bem a essência da trama e da protagonista, muito embora todo o início da adolescência de Cameron tenha sido suprimido, incluindo muito do impacto da morte dos pais na vida dela. Mesmo assim, é uma adaptação incrível, das melhores que já vi.
O Mau Exemplo de Cameron Post é forte, poderoso, um filme daqueles que a gente precisa sair recomendando por aí - e que todo mundo precisa ver. Em tempos de incentivo ao amor-próprio, de bandeiras levantadas pela autoaceitação e respeito às diferenças, essa história serve como um alerta para o perigo representado pela intolerância, bem como por fanatismos e opressão de toda e qualquer ordem.
TRAILER E INFOS
O Mau Exemplo de Cameron Post (The Miseducation of Cameron Post) – 91 min.
EUA | 2018
Direção: Desiree Akhavan
Roteiro: Desiree Akhavan e Cecilia Frugiuele, baseado no livro de Emily M. Danforth
Elenco: Chloë Grace Moretz, Sasha Lane, Forrest Goodluck, Steven Hauck, Quinn Shephard, Emily Skeggs, Owen Campbell, Christopher Dylan White, Jennifer Ehle, John Gallagher Jr., Kerry Butler
Estreia: 18 de abril
Aline T.K.M.
Criou o Livro Lab há 12 anos e se dedicar a este projeto é uma das coisas que mais ama fazer, além de estar em contato com os mais variados tipos de expressões artísticas. Tem paixão por cinema, viajar e conhecer outras culturas. Ah, e ama ler em francês!
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