O que você faria se encontrasse com o seu próprio eu, vinte anos mais velho ou mais jovem? Será que o alertaria para as escolhas que viriam a se provar erradas mais tarde; ou então o consultaria, como a um oráculo, a cada passo ou decisão a ser tomada?

Essa é a premissa da comédia francesa Quando Margot Encontra Margot, dirigida por Sophie Fillières e estrelada por Sandrine Kimberlain e Agathe Bonitzer (que fez vários outros filmes, mas que sempre vai me lembrar do lindo Uma Garrafa no Mar de Gaza).

O longa estreia esta semana nos cinemas e abrirá a programação do projeto Caixa de Pandora, fruto da parceria entre a Pandora Filmes e a rede Cinépolis – saiba mais aqui.

Margot (Sandrine Kimberlain) é uma mulher de 45 anos que, em uma festa, num daqueles acasos misteriosos da vida, acaba conhecendo Margot (Agathe Bonitzer), uma jovem de 25 anos. Não demora muito para chegar a constatação: elas são a mesma pessoa em momentos diferentes da vida.

A Margot de 45 não resiste e passa a alertar a jovem quanto a algumas escolhas que não levarão a nada. Já a Margot de 25 tira algumas dúvidas com sua dupla, e também fica sabendo da morte de uma grande amiga, em cujo funeral a outra Margot acaba de comparecer.

E então aparece Marc (Melvil Poupaud), ex-namorado da Margot mais velha, e seu ressurgimento acaba mexendo não apenas com ela, mas também com a jovem Margot, fato que fará com que elas se unam ainda mais.

Quando Margot Encontra Margot fascina pelo tema que, apesar de não ser inédito, traz um fator inusitado capaz de fazer o espectador fantasiar. Mas, longe de desenvolver reflexões mais profundas, a presença do insólito é tratada de forma leve e bem-humorada, mostrando que, no fim das contas, o que vale é viver plenamente o presente, sem se trancar na prisão dos erros do passado nem na inércia de deixar a vida passar sem saber exatamente o que está fazendo.

O único elemento que pareceu uma espécie de despropósito na trama foi o tal do Marc. Exceto por um detalhe ou outro, a importância dele na vida de Margot (das duas) parece questionável e não necessariamente convence quem assiste.

Se em alguns momentos ele parece apenas mais um cara conquistador e centrado em satisfazer os próprios desejos, em outros, percebemos como ele afeta e provoca um rebuliço nos sentimentos das duas mulheres, em especial da Margot que foi sua ex, mas sem jamais entregar um motivo real, no presente, para que essa atração (e algo mais) surja assim tão forte. O personagem se mantém tão raso que é inevitável a sensação, durante todo o filme, de que elas mereceriam alguém muito melhor e mais interessante.

Mas, decepções com o carinha à parte, Quando Margot Encontra Margot se mostra um filme divertido e despretensioso, e acerta em suas protagonistas – nas atrizes e nas personagens. Margot (as duas) aprende muito com a outra versão de si mesma e entende a importância não só de dar uma chance para um presente mais emocionante, como também de ter consciência de que as menores escolhas feitas hoje definirão uma grande parcela do amanhã – e algumas podem ser irreversíveis.

TRAILER E INFOS

Quando Margot Encontra Margot (La Belle et la Belle) – 95 min.
França | 2018
Direção: Sophie Fillières
Roteiro: Sophie Fillières
Elenco: Sandrine Kiberlain, Agathe Bonitzer, Melvil Poupaud, Lucie Desclozeaux, Laurent Bateau, Théo Cholbi

Estreia: 4 de abril