‘Compra-me um Revólver’: terra de ninguém e uma realidade sem mulheres no filme de Julio Hernández Cordón
Cinema latino-americano 29 de maio de 2019 Aline T.K.M. 2 comentários
Num futuro nada distante, uma garotinha usa uma máscara e é acorrentada ao tornozelo para sobreviver. Huck (Matilde Hernández) vive com o pai, viciado em drogas, e o ajuda a manter um campo de beisebol abandonado e frequentado pelos traficantes. A menina precisa esconder seu gênero neste México distópico, controlado por cartéis e de onde as mulheres desaparecem gradativamente.
Diante do desconsolo trazido pelas fotografias da mãe morta – que representam, ao mesmo tempo, um senso de verdade e existência no mundo – e do medo de ser descoberta e separada do pai, Huck encontra apoio e alguma alegria com os amigos, um grupo de garotos de sua idade. Mas os acontecimentos que se seguem exigirão que a garota lute pela própria vida e liberdade em meio à máfia local.
Com estreia mundial no Festival de Cannes 2018, Compra-me um Revólver chega aos cinemas nesta semana e tem direção do premiado Julio Hernández Cordón.
Diante do desconsolo trazido pelas fotografias da mãe morta – que representam, ao mesmo tempo, um senso de verdade e existência no mundo – e do medo de ser descoberta e separada do pai, Huck encontra apoio e alguma alegria com os amigos, um grupo de garotos de sua idade. Mas os acontecimentos que se seguem exigirão que a garota lute pela própria vida e liberdade em meio à máfia local.
Com estreia mundial no Festival de Cannes 2018, Compra-me um Revólver chega aos cinemas nesta semana e tem direção do premiado Julio Hernández Cordón.
A partir do olhar de uma criança, enxergamos uma realidade devastadora. O filme de Cordón é pesado e não há eufemismos que possam suavizar o fato. Armas, mortes, tráfico e um pai que usa drogas na frente da filha; eis o mundo do qual estamos falando.
O aspecto realista aparece mesclado ao tom de alegoria, o cru ganha contornos fabulescos, mas sem se distanciar do mundo real. Pelo contrário, a violência salta ainda mais aos olhos. Ver a menina Huck caminhando por entre cadáveres massacrados feitos de papel tem efeito tão ou mais pungente do que se estes fossem representados por corpos reais.
O aspecto realista aparece mesclado ao tom de alegoria, o cru ganha contornos fabulescos, mas sem se distanciar do mundo real. Pelo contrário, a violência salta ainda mais aos olhos. Ver a menina Huck caminhando por entre cadáveres massacrados feitos de papel tem efeito tão ou mais pungente do que se estes fossem representados por corpos reais.
Se a trama tem ares pós-apocalípticos, a violência e as drogas e todo o sentido de terra de ninguém são elementos muito atuais. Compra-me um Revólver lança um olhar reflexivo para a questão sociopolítica que assola não apenas o México, mas o mundo de forma geral – incluindo os mecanismos que mantêm esse tipo de situação.
Concebido como uma homenagem às histórias que alimentaram as fantasias do diretor quando criança, o longa também traz o amor desse pai pela filha, em contraponto a toda a brutalidade que os cerca. Um pai cheio de problemas, mas que tem na sorte a sua principal aliada, lado a lado com a garra para proteger a filha. O amor e a amizade restam como os únicos verdadeiros refúgios e chances de sobrevivência em meio ao caos.
Sem ultrapassar hora e meia de projeção, Compra-me um Revólver é prova de que não é preciso se estender para contar uma boa história. Além da fotografia notável e da vivacidade da garota Matilde Hernández, o filme vale por cada um de seus aspectos. E, principalmente, por nos fazer enxergar um mundo que, de certa maneira, já é um pouco o nosso.
TRAILER E INFOS
Compra-em um Revólver (Cómprame un Revólver) – 84 min.
México | 2018
Direção: Julio Hernández Cordón
Roteiro: Julio Hernández Cordón
Elenco: Matilde Hernández, Ángel Leonel Corral, Rogelio Sosa, Wallace Pereyda, Sostenes Rojas, Fabiana Hernández, Mariano Sosa
Estreia: 30 de maio
Aline T.K.M.
Criou o Livro Lab há 12 anos e se dedicar a este projeto é uma das coisas que mais ama fazer, além de estar em contato com os mais variados tipos de expressões artísticas. Tem paixão por cinema, viajar e conhecer outras culturas. Ah, e ama ler em francês!
2 comentários
já que esse filme não irá alcançar muitas pessoas, não acharia nada ruim Hollywood fazer um remake - por pior que possa ficar, pelo menos trará uma segunda vida ao original que parece muito interessante.
ResponderExcluirPutz, aí eu vou ter que discordar rsrsrs. Eu num sou a favor quando resolvem fazer remake hollywoodiano de filmes de outros lugares. Na maioria das vezes o resultado deixa a desejar e acho que acaba distanciando o público de ver mais filmes de outros países, acaba caindo naquele "comodismo" de consumir só cinema americano, não ajuda a dissolver aquele pé atrás com o cinema de outras partes.
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