‘A Última Loucura de Claire Darling’: com poesia e atmosfera de realismo mágico, filme de Julie Bertuccelli traz Catherine Deneuve e Chiara Mastroianni juntas
Adaptação 5 de junho de 2019 Aline T.K.M. Nenhum comentário
Catherine Deneuve e Chiara Mastroianni, mãe e filha, voltam a trabalhar juntas em A Última Loucura de Claire Darling, um filme de Julie Bertuccelli sobre os meandros obscuros do coração de uma mulher, baseado no livro Faith Bass Darling’s Last Garage Sale, de Lynda Rutledge.
É o primeiro dia de verão em Verderonne, um vilarejo na região do rio Oise. Claire Darling (Catherine Deneuve) tem certeza de que este é seu último dia de vida e decide se desfazer de todos os móveis e objetos, vendendo tudo no jardim de sua enorme casa. Itens do século XIX, móveis antigos e até sua coleção de autômatos; todas as memórias de uma vida de desilusões são colocadas à venda por mixaria.
O ato impulsivo de Claire ocasiona o retorno da filha, Mary (Chiara Mastroianni), que não vê a mãe há vinte anos.
O ato impulsivo de Claire ocasiona o retorno da filha, Mary (Chiara Mastroianni), que não vê a mãe há vinte anos.
Flashbacks se alternam com a realidade de Claire Darling em uma dança vertiginosa e dolorida. Por vezes, o passado se mescla ao presente, fazendo-nos testemunhar – e mesmo experimentar – a confusão que toma a mente da protagonista em determinados momentos. Lapsos de memória, visões que beiram a fantasia, recordações trágicas, incertezas quanto aos fatos: é esse o presente de Claire.
Personagens de diferentes épocas e em diferentes fases da vida se reúnem a um só tempo no espaço quase onírico da casa que um dia fora o lar de uma família e que, hoje, é o imenso refúgio de uma mulher solitária e dos muitos objetos que contam a sua história. Os autômatos, esses bonecos que parecem ter vida própria e, ao mesmo tempo, são prisioneiros de um único e repetido movimento, emanam a tristeza e o aspecto hermético de sua dona. Por trás da aparente frieza, Claire é apenas um espírito doce e frágil, afinal.
Talvez tão fechada quanto a mãe, Mary não deixa entrever muito de seu presente. Conhecemos, no entanto, a Mary menina, aquela em busca constante do olhar e da atenção da mãe.
Talvez tão fechada quanto a mãe, Mary não deixa entrever muito de seu presente. Conhecemos, no entanto, a Mary menina, aquela em busca constante do olhar e da atenção da mãe.
Desde os primeiros minutos, nos descobrimos diante de um filme quase etéreo, de imagens incrustadas entre a graça e a inocência da infância e o residual amargo que muitas vezes resta no paladar na memória.
Para além da história de uma mulher que acredita viver seu último dia, o longa revela também a intersecção da vida dessas duas mulheres, a mãe e a filha, numa bolha em que os homens são apenas passageiros e nunca puderam, de fato, adentrar. Duas vidas que se separam e voltam a se unir para uma conclusão e, de certa maneira, um novo começo.
Para além da história de uma mulher que acredita viver seu último dia, o longa revela também a intersecção da vida dessas duas mulheres, a mãe e a filha, numa bolha em que os homens são apenas passageiros e nunca puderam, de fato, adentrar. Duas vidas que se separam e voltam a se unir para uma conclusão e, de certa maneira, um novo começo.
A Última Loucura de Claire Darling une confusão e lucidez, tristeza e leveza, sonho e realidade, tudo isso regado a beleza e poesia. Com ares de conto de realismo mágico, o filme apresenta a materialização de lembranças de uma época perdida com doçura e um inevitável tom melancólico. Recomendadíssimo.
TRAILER E INFOS
A Última Loucura de Claire Darling (La Dernière Folie de Claire Darling) – 94 min.
França, Bélgica | 2018
Direção: Julie Bertuccelli
Roteiro: Julie Bertuccelli, Marion Doussot, Mariette Désert, Sophie Fillières, baseado na obra de Lynda Rutledge
Elenco: Catherine Deneuve, Chiara Mastroianni, Alice Taglioni, Laure Calamy, Samir Guesmi, Olivier Rabourdin, Johan Leysen, Colomba Giovanni, Simon Thomas, Mona Goinard, Joseph Flammer, Lewine Weber-Monfort, Julien Chavrial, Angèle Meunier-Bertuccelli
Estreia: 6 de junho
Aline T.K.M.
Criou o Livro Lab há 12 anos e se dedicar a este projeto é uma das coisas que mais ama fazer, além de estar em contato com os mais variados tipos de expressões artísticas. Tem paixão por cinema, viajar e conhecer outras culturas. Ah, e ama ler em francês!
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