‘Inocência Roubada’: autobiográfico, filme arrebata ao contar o abuso sexual na infância e a quebra do silêncio
Abuso sexual 11 de julho de 2019 Aline T.K.M. 4 comentários
Às vezes a gente vai ver um filme esperando levar algo como um soco no estômago, e sai do cinema completamente sem ar. Assim foi a minha experiência ao ver Inocência Roubada, filme de estreia do casal Andréa Bescond e Éric Métayer que foi destaque em Cannes e esteve na programação do Festival Varilux de Cinema Francês 2019.
Baseado na história da própria Andréa Bescond – que é também a protagonista –, o filme é a adaptação do premiado espetáculo teatral Les Chatouilles ou la Danse de la Colère, no qual a atriz, bailarina e diretora dança os traumas que marcaram sua infância, época em que sofreu abuso sexual. O longa chega aos cinemas nesta semana.
Baseado na história da própria Andréa Bescond – que é também a protagonista –, o filme é a adaptação do premiado espetáculo teatral Les Chatouilles ou la Danse de la Colère, no qual a atriz, bailarina e diretora dança os traumas que marcaram sua infância, época em que sofreu abuso sexual. O longa chega aos cinemas nesta semana.
Inocência Roubada conta a história da menina Odette (Cyrille Mairesse), de 8 anos, que sonha em ser bailarina e adora desenhar. Quando um amigo da família passa a “brincar” de um jeito nada inocente com ela, a menina se sente incomodada, mas guarda segredo.
Já adulta, Odette (Andréa Bescond) tem consciência de que foi abusada, e tenta se libertar do trauma com a ajuda de uma terapeuta e se dedicando completamente à carreira na dança.
Já adulta, Odette (Andréa Bescond) tem consciência de que foi abusada, e tenta se libertar do trauma com a ajuda de uma terapeuta e se dedicando completamente à carreira na dança.
Bastante teatral, o longa mescla o lúdico e o humor presentes na fase adulta da protagonista com o realismo e a delicadeza melancólica dos flashbacks da infância. Os diálogos com a terapeuta e os momentos com os amigos são marcados por mudanças repentinas de cenário, ou então a cena é subitamente invadida pela dança, que acontece de forma visceral, como uma forma de expurgar a dor e transformar a ferida em arte.
É justamente aí que reside o fator de arrebatamento do filme – o tema é tratado com certa leveza e humor, mas sem jamais desbotar a gravidade da história nem atenuar o sofrimento da protagonista. O trajeto que ela percorre em busca de libertação e reconciliação consigo mesma é sensível e emocionante, do início até os segundos finais.
É justamente aí que reside o fator de arrebatamento do filme – o tema é tratado com certa leveza e humor, mas sem jamais desbotar a gravidade da história nem atenuar o sofrimento da protagonista. O trajeto que ela percorre em busca de libertação e reconciliação consigo mesma é sensível e emocionante, do início até os segundos finais.
Também não estamos livres dos “socos no estômago”; eles dão as caras quando testemunhamos a Odette mulher buscar consolo nas drogas ou enfrentar conflitos em um relacionamento amoroso, e também são certeiros ao nos mostrar uma menininha sob as cobertas, desesperada diante da presença de seu abusador. Desejamos intimamente que a história da menina Odette fosse reescrita com tantas cores quanto os desenhos que ela pinta.
Os pais de Odette atuam como potencializadores do trauma vivido pela menina. Apesar de amoroso e em certa medida protetor, o pai é completamente alheio ao que realmente acontece com a filha, mesmo quando tem os sinais diante dos olhos. Já a mãe, numa excelente interpretação de Karin Viard, é toda uma vilã e desacredita a filha o tempo inteiro, alguém que certamente carrega inúmeras questões mal resolvidas, que tem dificuldade em amar e se relacionar.
Os pais de Odette atuam como potencializadores do trauma vivido pela menina. Apesar de amoroso e em certa medida protetor, o pai é completamente alheio ao que realmente acontece com a filha, mesmo quando tem os sinais diante dos olhos. Já a mãe, numa excelente interpretação de Karin Viard, é toda uma vilã e desacredita a filha o tempo inteiro, alguém que certamente carrega inúmeras questões mal resolvidas, que tem dificuldade em amar e se relacionar.
Inocência Roubada é um filme difícil de esquecer. Os motivos são muitos, desde a própria história – verdadeira, e também semelhante a muitas outras vividas por tantas crianças –, até o tom artístico com a qual ela nos é contada. Se conseguimos chegar ao fim com os olhos no máximo marejados, os momentos finais são capazes de nos desmontar em pedacinhos. O desfecho é justo e coroa com simplicidade o percurso de uma mulher que resolve quebrar o silêncio e luta para se ver livre dos fantasmas do passado.
TRAILER E INFOS
Inocência Roubada (Les Chatouilles) – 103 min.
França | 2018
Direção: Andréa Bescond, Éric Métayer
Roteiro: Andréa Bescond, Éric Métayer
Elenco: Andréa Bescond, Karin Viard, Clovis Cornillac, Pierre Deladonchamps, Grégory Montel, Carole Franck, Ariane Ascaride, Gringe, Cyrille Mairesse
Estreia: 11 de julho
Aline T.K.M.
Criou o Livro Lab há 12 anos e se dedicar a este projeto é uma das coisas que mais ama fazer, além de estar em contato com os mais variados tipos de expressões artísticas. Tem paixão por cinema, viajar e conhecer outras culturas. Ah, e ama ler em francês!
4 comentários
Nossa que forte! Não sei se tenho coragem de ver...
ResponderExcluirÉ forte pela temática, mas o filme é conduzido com certa leveza, é muito bonito e vale muito a pena ver. Cria coragem sim, é muito bom!
Excluirgostei, um dia espero assistir.
ResponderExcluirVale muito a pena, viu! O filme é forte e consegue trazer leveza ao mesmo tempo. Um dos melhores que vi este ano.
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