‘Entre Tempos’: honesto, filme do italiano Valerio Mieli se apoia em fragmentos e memórias para contar a relação de um jovem casal
Cinema italiano 19 de agosto de 2019 Aline T.K.M. Nenhum comentário
Fragmentos de memórias se unem e se intercalam para contar a história de um jovem casal, desde o momento em que se conhecem e ao longo das muitas voltas que a vida dá. Essa é a proposta de Entre Tempos, segundo longa do diretor italiano Valerio Mieli, que chega aos cinemas nesta semana.
O filme é uma grande colcha em que os retalhos são as memórias de Paolo (Luca Marinelli) e Ginevra (Linda Caridi). Paolo é mais fechado e melancólico; Ginevra é alegre, vivaz. Ao dividirem suas vidas, também suas personalidades acabam por se fundir e incorporar características do outro. Através das lembranças – sempre tingidas pela perspectiva de cada um dos personagens –, nos deparamos com os diferentes momentos da relação entre eles, alguns mais apaixonados e solares, outros mais infelizes.
O filme é uma grande colcha em que os retalhos são as memórias de Paolo (Luca Marinelli) e Ginevra (Linda Caridi). Paolo é mais fechado e melancólico; Ginevra é alegre, vivaz. Ao dividirem suas vidas, também suas personalidades acabam por se fundir e incorporar características do outro. Através das lembranças – sempre tingidas pela perspectiva de cada um dos personagens –, nos deparamos com os diferentes momentos da relação entre eles, alguns mais apaixonados e solares, outros mais infelizes.
O tempo também opera transformações – pequenas e grandes – entre o casal. A passagem dele é muitas vezes denunciada apenas por um corte de cabelo ou pelas condições em que o personagem se mostra. Outras vezes, somos surpreendidos de forma abrupta pela visão de Paolo ou Ginevra ainda bem jovens, vivendo outros amores, ou memórias de infância que parecem pinceladas por certa fantasia.
E nós, espectadores, é que vamos costurando esses retalhos, essas lembranças e fragmentos dispersos no tempo, para nos darmos conta de que duas pessoas nunca vivem o mesmo momento da mesma maneira – a bagagem pessoal e as lentes através das quais cada uma enxerga o mundo cumprem um papel tão relevante quanto o acontecimento vivido.
E nós, espectadores, é que vamos costurando esses retalhos, essas lembranças e fragmentos dispersos no tempo, para nos darmos conta de que duas pessoas nunca vivem o mesmo momento da mesma maneira – a bagagem pessoal e as lentes através das quais cada uma enxerga o mundo cumprem um papel tão relevante quanto o acontecimento vivido.
Assim como na vida real, é quase sempre impossível definir um ponto exato no tempo em que uma relação começa a perder o brilho, a desandar. O instante em que o amor começa a se esvair, ou até mesmo a renascer. Entre Tempos acerta ao trazer algo semelhante a uma caixinha de lembranças, todas misturadas, já que raramente as verdadeiras histórias de amor seguem uma jornada lógica e linear. O tempo corre, as pessoas mudam, o que fazia sentido passa a não mais fazer, e o inesperado pode brotar de repente.
Convidando à reflexão sobre um instante específico ou sobre a vida, os diálogos são um dos aspectos mais especiais do filme, além da fotografia que remete à singeleza e dá um tom nostálgico – ora mais feliz, ora desesperançado.
Depois de ponderar um pouco, acho válido apontar a estrutura que não traz um crescendo, não apresenta um clímax, característica que pode incomodar alguns espectadores e fazer com que o filme aparente monotonia. Eu, pessoalmente, não tive essa visão.
Depois de ponderar um pouco, acho válido apontar a estrutura que não traz um crescendo, não apresenta um clímax, característica que pode incomodar alguns espectadores e fazer com que o filme aparente monotonia. Eu, pessoalmente, não tive essa visão.
Entre Tempos é a trajetória do relacionamento entre dois jovens, é a diferença de perspectivas, é amor e paixão absolutos entre duas pessoas tão díspares, é encontro e desencontro, e é a vida ditando rumos opostos, mas, muitas vezes, caminhando de forma circular. Um filme bonito e honesto sobre os meandros das relações amorosas.
(Peço permissão para abrir um breve parêntese: se tiverem a chance, vale a pena ver o primeiro longa do diretor, Dez Invernos, que também traz uma história de amor e amizade entre dois jovens ao longo do tempo. Uma graça de filme; assisti há uns sete anos, quando morava na França, e depois nunca mais consegui ver de novo, não encontro em streaming nenhum.)
(Peço permissão para abrir um breve parêntese: se tiverem a chance, vale a pena ver o primeiro longa do diretor, Dez Invernos, que também traz uma história de amor e amizade entre dois jovens ao longo do tempo. Uma graça de filme; assisti há uns sete anos, quando morava na França, e depois nunca mais consegui ver de novo, não encontro em streaming nenhum.)
TRAILER E INFOS
Entre Tempos (Ricordi?) – 106 min.
Itália | 2018
Direção: Valerio Mieli
Roteiro: Valerio Mieli
Elenco: Linda Caridi, Luca Marinelli, Giovanni Anzaldo, Camilla Diana, Anna Manuelli, Eliana Bosi
Estreia: 22 de agosto
Aline T.K.M.
Criou o Livro Lab há 12 anos e se dedicar a este projeto é uma das coisas que mais ama fazer, além de estar em contato com os mais variados tipos de expressões artísticas. Tem paixão por cinema, viajar e conhecer outras culturas. Ah, e ama ler em francês!
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